Vamos lá falar de Esgaio
O que fazer com os erros? Aprender, como é evidente. Antes de falar de Esgaio há que entender o contexto em que ele está no Sporting. O que significa para Amorim e o que o treinador vale para os leões
Um mau passe de Esgaio, debaixo de pressão, na sequência de uma bola parada ofensiva que correu mal, levou a um ataque rápido, que é algo que uma equipa melhor e mais experiente, que ganha fora um jogo europeu por 1-0 e está em inferioridade numérica há mais de uma hora, nunca deve permitir. Do lance nasceu o golo do empate do Raków, a 11 minutos do final de um desafio que o Sporting tinha controlado até aí, apesar da expulsão de Gyökeres, logo a abrir, mas que ainda se arriscou a perder depois (há FDV Flash sobre o jogo para ver aqui). E só houve, a este propósito, uma coisa mais rápida que o ataque polaco que gerou o empate: foram os ataques a Esgaio, mais uma vez transformado em bode expiatório nas redes sociais pelos adeptos da confusão. Vamos lá então falar de Esgaio e “de quem o põe a jogar”, no caso Rúben Amorim, que de acordo com os sabichões é ainda mais culpado da situação. Esgaio é, para o Sporting, um jogador de plantel. Equivale ao André Almeida do Benfica de Jesus, ao Manafá ou ao Zaidu do FC Porto de Conceição. Não são craques, mas não são tão maus como os pintam, são úteis e, em muitas situações, são as melhores soluções ao dispor das respetivas equipas. Esgaio era, no Sporting, alternativa a Porro – que curiosamente volta ao melhor nível num ano em que a sua equipa, agora o Tottenham, está outra vez fora da UEFA, o que permite duvidar da sua capacidade para jogar a uma cadência de dois desafios por semana. Os leões precisavam de um jogador de algum nível, que pudesse ficar no banco na maior parte dos jogos e que mantivesse um nível pelo menos mediano sempre que fosse necessário. Esgaio tinha isso tudo e ainda a vantagem de ser um homem da casa. Depois da saída de Porro, o Sporting tentou substituí-lo por Bellerín, mas nada do que o espanhol fez em campo mostrou que ele fosse solução melhor do que Esgaio – e um remate incompreensível dele em Turim, acertando no guarda-redes quando tinha toda a baliza à disposição, na ponta final da primeira mão dos quartos-de-final da Liga Europa, também custou ao Sporting uma derrota (0-1) com a Juventus. Foi-se Bellerín e, antes de fazer a mesma coisa com Geny Catamo, Amorim iniciou a experiência do ala de pé trocado com Fatawu, que não agarrou a chance. Veio Fresneda, promessa de 19 anos que os sportinguistas querem desde já transformar no melhor lateral da Europa, mas que não fez ainda nada em campo a mostrar ter condições sequer para ser titular à frente do mal amado Esgaio. As equipas não se fazem pelas credenciais no Football Manager – fazem-se pelo que os jogadores mostram em contexto de treino e, depois, em competição. E embora isto não queira dizer que ele seja um falhanço – as redes também se encarregam com frequência de acelerar processos de julgamento, transformando avaliações parciais em exames finais –, a verdade é que nada do que Fresneda tenha mostrado em campo até aqui garante que ele seja, neste momento, melhor solução do que Esgaio. A questão é que os ataques a Esgaio visam, sobretudo, a estabilidade conferida ao Sporting nos últimos três anos e meio por Rúben Amorim. Eu também acho que, mais do que a Esgaio, as responsabilidades dos dois pontos que o Sporting deixou na Polónia devem ser assacadas ao treinador, mas não foi por ter tardado nas substituições, por ter escolhido mal o ala direito ou, idiotice suprema, por não querer contratar um bom lateral direito porque essa é a única forma de poder manter Esgaio a jogar – já diziam isso do ponta-de-lança em relação a Paulinho, mas depois apareceu Gyökeres. A maior responsabilidade de Amorim foi por abdicar de princípios básicos do jogo da sua equipa devido à situação de inferioridade numérica, incorrendo no que me pareceu um erro de avaliação. É que, mesmo com dez, o Sporting tinha de ser melhor do que o Raków com onze, mas a dada altura limitou-se a tentar aguentar o embate. Amorim terá aprendido com o erro e isso é mais um ponto em que pegam os que precisam de mudar muito, de mudar sempre, para se manterem vivos. “Ao fim deste tempo todo, ainda está a aprender?”, irritam-se. Eu tenho 53 anos, sou jornalista há 35 – ainda ontem me marcaram num tweet em se via que fiz a crónica do Boavista-Sporting de 2002/03 em que Ronaldo marcou um golo artístico, de bicicleta... – e acho sempre que um dia em que não aprenda nada é um dia perdido. Rúben Amorim tem 38 anos e muito mais margem para aprender do que eu. Já tenho mais dúvidas acerca dos adeptos, que não aprenderam grande coisa com os longos períodos de jejum e de instabilidade na equipa e provavelmente não quererão aprender agora também.
Show Leverkusen. Ao fim de três jornadas, a Liga Europa já só tem três equipas com pleno de vitórias: o Liverpool FC, a AS Roma e o Leverkusen. Os alemães, que lideram a Bundesliga, são neste momento um coletivo completamente transformado face ao que perdeu os dois jogos com o FC Porto, há um ano, na jornada dupla que marca a viragem da primeira para a segunda volta da Liga dos Campeões. Foi entre esses dois jogos, aliás, que Xabi Alonso substituiu Gerardo Seoane no comando da equipa, transformando-a num espetáculo feito da potência de Boniface e da inteligência em movimento de Wirtz e Grimaldo, a peça ideal para mudar em andamento. Quem quiser perceber melhor o que falta ao Benfica este ano, é ver Grimaldo no Leverkusen. Ainda ontem, é certo que contra oposição modesta, como é o Qarabag FK, fez tudo. Primeiro, apareceu aberto na esquerda para causar o desequilíbrio que gerou o primeiro golo, de Wirtz, é certo que com um ressalto feliz pelo meio a acabar em assistência. Depois, percebeu o momento e apareceu dentro da área para concluir um envolvimento do mesmo Wirtz, marcando o 2-1. Por fim, após ter iniciado o lance na esquerda, numa tabela com Boniface, viu a equipa inclinar-se para o lado oposto e foi à linha de área, na meia-direita, para meter o 4-1 em meia distância. Grimaldo está um lateral total e mostra que em Leverkusen sabiam bem o que estavam a contratar.
É agora ou nunca para Villas-Boas. A entrevista de André Villas-Boas à Tribuna Expresso veio agravar a perplexidade que eu já sentia relativamente à indecisão do antigo treinador dos dragões a propósito de uma candidatura às próximas eleições do clube, sejam elas em Abril ou em Junho. O facto de Villas-Boas dizer que tem “equipas preparadas” para avançar, que tem “ideias e pessoas e projetos” constitui quase uma obrigação moral de as testar, obrigação essa agravada pelo que diz de Jorge Nuno Pinto da Costa, o presidente de mais de 40 anos. O potencial candidato coloca o líder histórico do clube lá em cima, “num pedestal” tão alto que lhe leva a mal “as histórias que ele estará a tentar vender” acerca dos desencontros entre os dois, os “ataques de personalidade” que lhe foram dirigidos quase como precaução eleitoral. O que vejo nestas palavras – mas que, sendo claro, Villas-Boas não disse – é que Pinto da Costa já foi fantástico mas está hoje, ele e quem o rodeia, agarrado ao poder a ponto de renegar publicamente “aquilo que sente realmente” pelo seu ex-treinador. Se estou a ler bem e é de facto isso que Villas-Boas pensa, é evidente que não pode esperar mais quatro anos, deixando o clube prosseguir num caminho que ele julga ser de iminente degradação. Porque se não age agora, que já fez a leitura da situação, por mero calculismo e receio de vir a ser batido nas urnas após uma campanha que, sim, estou em crer que será suja, perde a legitimidade para agir em 2027. É por isso que, por muito que ele pense o contrário, para Villas-Boas é agora ou nunca.
Dois clássicos. Este vai ser um fim-de-semana com dois jogos a aquecer os corações de quem gosta de futebol. Amanhã (15h15, Eleven Sports1), há FC Barcelona-Real Madrid, um El Clasico espanhol no cenário despersonalizado de Montjuic, mas marcado por broncas diretivas, como é habitual: Florentino Pérez, presidente madridista, já fez saber que não vai ao estádio devido a um tweet insultuoso para Vinicius Júnior, feito por um responsável da comunicação culé – sim, por lá também há propagandistas sem escrúpulos a vender narrativas arregimentadoras de grunhos. O jogo, que afinal de contas é disso que se trata, será um teste à capacidade dos campeões renovados com o sangue português de Cancelo e Félix, mas com dúvidas acerca da incorporação de Raphinha e Lewandowski e ainda sem Pedri e De Jong, face ao Real Madrid do super-Bellingham, que deverá recuperar Kroos e Tchouameni nos lugares de meio-campo que em Braga foram de Camavinga e Modric. No domingo (15h30, Eleven Sports1), é a vez do derby de Manchester, com a visita do City a Old Trafford a trazer memórias da goleada (6-3) da época passada e do dia em que se percebeu que Cristiano Ronaldo e Erik Ten Hag não iam ficar juntos por muito tempo – foi no derby da primeira volta, mas no Ettihad, que o holandês manteve o português no banco, alegadamente para não o submeter à humilhação que seria a entrada em campo com a equipa a ser goleada, o que o jogador considerou uma humilhação ainda maior, a ponto de ter decidido forçar a saída. O derby de Manchester coloca face a face duas equipas aquém do que delas se esperava, o City porque já perdeu duas vezes na Premier League e segue atrás do Tottenham, o United porque vai anonimamente a meio da tabela e nem as recentes vitórias pela margem mínima contra o Brentford, o Sheffield United (só um ponto em nove jogos) e o FC Copenhaga chegaram para afastar o espectro de crise. Estão a ver agora porque é que a Liga Portuguesa não programa jogos para o início das tardes de fim-de-semana? Quem vai ver o Portimonense-Estoril (sábado, 15h30, Sport TV1) ou o Rio Ave-Farense (domingo, 15h30, Sport TV1)?
Por muito que os adeptos do SCP gostem do Esgaio ou não, a verdade é que dos LD do plantel,
de momento, é o que apresenta melhores condições para o desempenho da função.