Pepê à espera de Otávio
Vitinha já foi, Otávio não poderá estar na Supertaça e este primeiro FC Porto jogou sempre ao ritmo de Pepê. Mas não tem necessariamente que ser assim durante a época.
A apresentação do FC Porto, em jogo contra o AS Mónaco, no Dragão, deixou ver uma equipa mais sólida, rotativa e intensa do que criativa, mais próxima por isso das que ganharam os títulos de 2018 e 2020 – e perderam os de 2019 e 2021 – do que da que venceu o campeonato de 2022. A grande dúvida relativamente ao FC Porto de 2022/23 tem ainda a ver com a forma como Sérgio Conceição vai superar a saída de Vitinha – e, ainda que em menor medida, de Fábio Vieira. Ora a resposta dada neste teste passou por centrar em Pepê a maior porção da criação atacante, mantendo um meio-campo gregário e de cadência sempre alta. Mas este jogo foi severamente condicionado por um fator-extra: os castigos que impedirão David Carmo e Otávio, de estar na Supertaça, no sábado, levaram o treinador a não os incluir de início na primeira versão que apresentou a escrutínio popular. E com o médio luso-brasileiro muita coisa mudará, não só em termos de qualidade individual, mas também de organização coletiva.
A organização inicial do FC Porto perante o AS Mónaco passou pela colocação a meio-campo de Uribe atrás de Bruno Costa e Stephen Eustáquio. São três médios seguros, intensos, bons de passe, fortes sem bola e nos duelos, mas nenhum deles capaz de compensar a perda de criatividade que implicou a saída de Vitinha para Paris. À frente do trio, com liberdade total de movimentos sempre que a equipa tinha a bola, ainda que limitado ao corredor esquerdo em momento defensivo, surgia Pepê. O papel de Pepê era o de ser o elemento de ligação do meio-campo com o ataque, onde estavam Taremi e Evanilson: surgia muitas vezes entre linhas, vindo da esquerda para o meio, e às vezes até a pedir bola em primeira fase de construção. Já li que Pepê fez de Otávio, mas além de achar que é perigoso colar os jogadores da versão 2022/23 à organização de anos anteriores, não acho que tenha sido isso que sucedeu. Bruno Costa fez de Otávio – foi terceiro médio – mas Pepê pegou na batuta que ele costumava empunhar. Na dele e na de Vitinha.
E pouco importa agora debater se é demais para um homem só. Este FC Porto de sábado foi sempre uma equipa sólida, que colocou essa ideia de solidez à frente da capacidade de achar soluções surpreendentes para cada situação. Jogos haverá – os da Champions, por exemplo – em que isso pode ser preciso. Na maior parte dos dias, porém, o FC Porto será uma equipa diferente, fazendo uso da arte camaleónica que mostrou no ano passado e que lhe permitia mudar de organização a cada jornada sem sofrer com isso. É por isso que não sou capaz, neste momento, de garantir como vai ser. Creio que o próprio Sérgio Conceição terá dúvidas. Veron vai fazer o que fazia Díaz? É atacante para esticar o jogo na busca da profundidade, poderá até integrar o duo da frente, mas não o vejo capaz de romper com bola como tão bem fazia o colombiano. Isso faz melhor Pepê. Só que este, sendo mais rotativo, não tem a capacidade de ir buscar o espaço que tinha o seu antecessor no corredor esquerdo – e que tem Veron. Qual a conclusão que se tira daqui? Lá está: que não devemos colar a organização deste FC Porto à de anos anteriores e que a equipa tem de encontrar novas formas de jogar. E Pepê, por já cá estar há um ano, parece a aposta mais segura.
Se tivesse de arriscar, o que vejo neste momento é um FC Porto em que Vitinha não terá um substituto – e do que conheço do jogador também não creio que ele possa ser Zaracho, o 10 do Atlético Mineiro em quem se diz que os dragões poderão estar interessados. Ao contrário de muitos, não vejo Otávio como segundo médio, ao lado de Uribe, a não ser em situações de desespero ofensivo. Acho que esse lugar será de Grujic, que no momento em que entrou frente ao AS Mónaco deu mostras de poder vir a ser importante pela capacidade que dá à equipa de recuperar a bola mais à frente, ainda que admita que Eustáquio possa dividir minutos com os outros dois. É o ideal? Não. Mas um médio com a capacidade criativa e segurança de Vitinha não é fácil de encontrar no mercado. Daí que o mais provável mesmo é que, pelo menos até ao Natal, a equipa tente absorver de uma forma coletiva aquilo que o seu antigo maestro fazia. Otávio será terceiro médio, da direita para o meio, como rende mais, baixando para poder meter os seus passes de rotura e influir com a sua combatividade na luta do meio-campo. Pepê, Taremi e Evanilson partem na frente no ataque, onde Veron fará o habitual período de aclimatação em equipas de Conceição – e não é por ter vindo do Brasil, que até Taremi, que vinha de Vila do Conde, levou três meses a começar um jogo de campeonato e na primeira época só foi titular na Champions a partir dos oitavos-de-final. O que Veron dará é maior variabilidade à equipa, pois tanto pode surgir como um dos dois da frente no 4x4x2 como no papel de ala em 4x3x3.
Este é, mais uma vez, um FC Porto em construção. E ainda que a tentação seja grande de lhe achar pontos de contacto com qualquer uma das cinco equipas de Sérgio Conceição – e eu próprio o fiz, no início deste texto – vai ter uma identidade própria, dada pelos jogadores que estão e nunca pelos que partiram. Estes funcionam como termo de comparação mas influem zero no jogar da equipa.
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