Ronaldo não tem tempo
A maior esperança dos adeptos do Manchester United é o tempo para a reconstrução a ser levada a cabo por Ten Hag. Mas Ronaldo tem 37 anos. Não tem tempo. E não pode voltar a escolher mal.
O tempo é o maior inimigo de Cristiano Ronaldo. Quando se tem 37 anos e se é futebolista de elite, por mais sério, profissional e exigente consigo mesmo que se tenha sido ao longo de toda uma carreira, como foi Ronaldo, o tempo transforma-se num problema. Uma má opção pode ser um problema insolúvel. E, como previ logo naquela altura, Ronaldo assumiu uma má opção quando escolheu o Manchester United, em Agosto do ano passado. Acredito que o United até pode estar a entrar nos eixos com Ten Hag, mas Ronaldo debate-se agora com aquela que é a maior esperança dos adeptos do clube: o tempo. Estes acreditam que, com tempo, o United vai voltar a ser nacional e internacionalmente relevante, mas Ronaldo não tem tempo. Tem 37 anos. Não quer gastar um dos anos que lhe restam a jogar a Liga Europa e à espera que a reconstrução dê frutos.
Ninguém pode, obviamente, dizer que as “razões familiares” alegadas por Cristiano Ronaldo para falhar o regresso aos trabalhos em Manchester são uma desculpa, mas a verdade é que são um match perfeito para a situação em que está o maior jogador português de sempre, uma demonstração do poder que ele tem e uma ironia estranha, porque há um ano a opção pelo United foi justificada em nome da “família”, esta em sentido figurado, que ia encontrar no centro de treinos de Carrington. Sabe-se agora que de nada valeram as aproximações do treinador holandês, tentado em dar a Ronaldo o papel de irmão mais velho nessa família que é liderada pelo sempre presente pai Ferguson, alegadamente oferecendo-lhe a braçadeira de capitão. Aliás, falta até saber se isso foi mais do que pura especulação, usada para jogar no campo mediático e passar o odioso da questão para o outro lado. E que há três semanas Jorge Mendes reuniu-se com Todd Boehly, o novo dono do Chelsea, no Porto, para lhe oferecer o jogador – tendo o milionário norte-americano, um admirador confesso do craque português, ficado de consultar o seu treinador, Thomas Tuchel, a esse propósito. E, escaldado com o que não conseguiu tirar de Lukaku, Tuchel parece não estar muito inclinado para aprovar o negócio.
A questão é que a reação dos adeptos a estas coisas é sempre emocional e os treinadores têm o mesmo problema de Ronaldo – o tempo. No caso deles, a idade é irrelevante, mas todos se debatem com a noção de que esta época pode ser a última, sobretudo se lhes correr mal. E por isso tendem a ver estas questões com a mesma frieza com que Ronaldo encara o regresso a um Manchester United sem condições para ganhar já. E a colocar nos dois pratos da balança o aumento da exigência que uma eventual contratação de Ronaldo trará a qualquer projeto e os resultados coletivos que ela poderá facilitar. Ora, Ronaldo não ganha campeonatos há dois anos. Foi sexto na Premier League de 2022 com o Manchester United e quarto na Serie A de 2021 com a Juventus, estando presente no momento da perda da hegemonia que a equipa de Turim mantinha há uma década. Individualmente, ele brilhou sempre, mas as equipas que ele representou não ganharam, o que aumenta o desafio para qualquer treinador que aprove a sua contratação. E aqui nem se trata de perceber se um treinador gosta ou não desse tipo de desafios – é mais compreender se precisam deles para serem felizes.
Quem está há três semanas encarregue de resolver o futuro do jogador é Jorge Mendes. E cada passo dado por Mendes é escrutinado na perspetiva de Ronaldo. Ontem, por exemplo, o super-agente português esteve com Joan Laporta em Barcelona, ao que tudo indica para falar de Bernardo Silva e Francisco Trincão, mas nos jornais, nas TVs e nas redes sociais o nome de Ronaldo veio logo à baila. Pois se o Barça quer Lewandowski e o Bayern Munique não cede, por que razão não poderia virar-se para o português, que é também um goleador implacável e quase exclusivo? Fala-se também do Bayern, sobretudo se acabar por ceder no negócio Lewandowski, do SSC Nápoles, da AS Roma, do Paris Saint-Germain – e tem-se falado menos do Sporting... Há um ano, defendi aqui que o melhor passo para Ronaldo seria assinar pelo Manchester City. Neste momento, creio que ele teria tudo a ganhar em mudar-se para Munique – se lá o quiserem, como é evidente. É que, em virtude dos resultados coletivos mais recentes das suas equipas, Ronaldo continua a precisar do upgrade que seria para o seu jogo um treinador capaz de arriscar na construção de um plano em que ele faça sentido. E para o fazer é precisa uma dose de “loucura saudável” que poucos têm, mas que vejo em Julian Nagelsmann.
Em Munique, das duas uma: ou Nagelsmann conseguiria contruir esse plano que eu já quis entregar a Guardiola na época passada e Ronaldo voltaria a ganhar ou o Bayern perdia a primeira Bundesliga numa eternidade e se provava que deixou de haver espaço, não para Ronaldo, mas para um jogador das caraterísticas dele no cada vez mais coletivo futebol de elite dos dias de hoje.
Ontem, pode ter-lhe escapado:
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