A primeira decisão de Rui Costa
A escolha de Paulo Sousa por parte do Flamengo vem deixar Rui Costa perante a primeira grande decisão enquanto presidente do Benfica. Depois do clássico de quinta-feira, segura ou demite Jesus?
A novela do treinador do Flamengo teve um final precipitado com a escolha de Paulo Sousa antes do desfecho da frente lusitana, o que de certa forma vem reenquadrar a nossa noção daquilo que Marcos Braz e Bruno Spindel verdadeiramente queriam, mas não muda tanto as bases do que Jorge Jesus e o Benfica colocam em jogo na quinta-feira, quando voltarem ao Dragão para defrontar o FC Porto. Na verdade, as coisas até mudam mais para o Benfica do que para o treinador, que agora se limita a deixar de ter uma escapatória para o ego ferido que possa eventualmente sair de mais um desaire. Já Rui Costa, a quem até podia convir estar assim como que de mãos atadas, perdeu num ápice a possibilidade de mudar já de treinador e ainda receber uns milhões de euros por isso. Nesse sentido, ver-se-á de repente face à primeira grande decisão enquanto presidente do Benfica.
Afinal de contas, será que o Flamengo queria mesmo o regresso de Jorge Jesus? Ou será que Braz e Spindel se encontraram com o treinador do Benfica para uma operação de cosmética que até dava jeito a ambos? Com “o cafezinho” no apartamento de Cascais, os dirigentes brasileiros salvavam face perante os adeptos que, no Rio de Janeiro, exigiam o regresso de Jesus, mostrando que tentaram. E o treinador português metia pressão na administração do Benfica, que dessa forma pensaria duas vezes no que fazer com ele: iam agora despedir um treinador que era tão requisitado e pelo qual podiam até estar na iminência de receber uns milhões? Se a ideia de Braz e Spindel fosse levar Jesus, a coisa podia transformar-se num jogo de paciência: o Benfica não o demitia à espera de uma proposta do Flamengo, o Flamengo não faria a proposta à espera de uma chicotada que lhe permitisse levar o técnico de borla. E Jesus ia ganhando tempo. Sucede que quem controlava o tempo eram os brasileiros. E estes apitaram para o fim do jogo quando se soube que escolheram Paulo Sousa.
Aqui chegados, percebemos que o problema que impediu a escolha de Jesus não terá sido tanto o contrato com o Benfica, uma vez que também Sousa tem contrato com a Federação Polaca e um playoff decisivo na caminhada para o Mundial, a jogar em Março. O que esta opção do Flamengo veio fazer foi responsabilizar tanto Jesus como o Benfica, que deixam de depender de decisões alheias para assumirem o que acham ser melhor. Jorge Jesus perdeu a opção de sair por cima, pelo que o que lhe resta é mesmo ficar – mas a isso já estava forçado por contrato e não se vê como poderia ser ele a forçar a barra para o rescindir. Portanto, para ele não muda nada. Fica “obrigado” a conseguir um resultado útil no Dragão. Se falhar, pode até vir a perder o emprego, mas receberá na mesma o resto do contrato, pelo que a única coisa que poderá ver amachucada no processo é o ego.
Quanto ao Benfica, ficou agora com todo o ónus da decisão nas mãos. Se a equipa ganhar ao FC Porto na quinta-feira, continua na luta e pode até vir dizer que saiu mais forte de tudo isto: continuaria em todas as frentes com exceção da Taça de Portugal e fá-lo-ia até em condições adversas. Se perder, as coisas simplificam-se: a sete pontos do FC Porto, e eventualmente a outros tantos do Sporting, e já fora da Taça de Portugal, não serão a Final Four da Taça da Liga e os oitavos-de-final da Liga dos Campeões a impedir que a equipa comece já a trilhar aquele que será o seu novo caminho – algo até facilitado pelo facto de ter sido Luís Filipe Vieira a escolher o regresso de Jesus. Se empatar, não creio que fique fora da luta pelo título – ficaria a quatro pontos do FC Porto e, na pior das hipóteses, a seis do Sporting –, o que vem complicar muito a tomada de decisão, estabelecendo uma espécie de paz podre que vai exigir convicção. Nesse caso se perceberá o que pensa mesmo Rui Costa. Nesse sentido, esta pode ser a primeira grande decisão que ele terá de tomar enquanto presidente do Benfica.
Bom dia, em caso de empate ficaria a seis do sporting e não a sete, de resto excelente análise. Cumprimentos.
Não andará LFV a "pairar" sob a Luz?