Carcavelinhos num ano estranho
O Carcavelinhos, um dos antecessores do Atlético, foi o vencedor surpresa do Campeonato de Portugal em 1928. Impôs-se ao Sporting na final de uma prova que parou duas vezes devido aos Jogos Olímpicos.
O Campeonato de Portugal de 1927/28 foi estranho. Começa por ter sido estranho porque o vencedor, contra o vaticínio geral, foi o Carcavelinhos, clube de Alcântara que anos mais tarde haveria de estar na origem do Atlético, e que nesta época bateu na final o Sporting, campeão de Lisboa, por 3-1. Os leões, que tinham ganho por duas vezes a este adversário no Regional, terão deixado que a digressão ao Brasil, que iniciariam no dia seguinte ao da decisão, lhes toldasse a mente, e acabaram inapelavelmente batidos, lançando a festa entre os alcantarenses. Mas não foi estranho só por isso: é que o campeonato, que começou em Março e acabou no último dia de Junho, de forma a não contrariar um decreto ministerial que proibia a prática do futebol nos meses de Julho e Agosto e ainda em metade de Setembro, teve duas longas interrupções, para a seleção nacional preparar e depois disputar os Jogos Olímpicos de Amesterdão.
Leia aqui sobre 1926/27:
Na equipa que Cândido de Oliveira levou aos Jogos – e que caiu nos quartos-de-final, batida pelo Egito –, entre o final de Maio e o início de Junho, estava um jogador do Carcavelinhos, o defesa direito Carlos Alves, avô de João Alves, que nas décadas de 70 e 80 se destacou no Benfica, no Boavista e na seleção nacional. Ostentando já as famosas luvas pretas, que contou terem-lhe sido oferecidas por uma adepta antes de um jogo com o Benfica e que mais tarde também haveriam de ser celebrizadas pelo neto, Carlos já era a principal figura deste Carcavelinhos, que viria a abandonar na década de 30, para jogar no Académico do Porto e depois no FC Porto. Era um defesa seguro e com qualidade a bater bolas paradas, o que lhe permitia ir marcando alguns golos, tanto de livre direto como de penalti. E era, por isso, uma das armas do treinador-jogador Carlos Canuto, um dos fundadores do clube, inventor do seu nome, avançado-centro em 1928 e futuro árbitro internacional. Foi da cabeça de Canuto, um autodidata, que nasceram as famosas “avançadas à Sparta”, em que a equipa do Carcavelinhos se notabilizava e que desbaratavam qualquer defesa.