A novela de mercado de Díaz
Há muito que o Liverpool FC não contrata um titular em Janeiro. Conceição não quer ver a equipa amputada do homem mais decisivo. O que poderia levar Díaz a sair em Janeiro? Só o desespero.
Que Luis Díaz está a ser o melhor jogador da Liga e foi o nome mais brilhante desta primeira volta, tal como já tinha escrito aqui, não restam dúvidas. Que a sua permanência pode vir a ser fundamental para o FC Porto manter o rendimento extraordinário que tem demonstrado também deve ser mais ou menos consensual – e para tal nem seria necessário ele ter estado nos três golos da reviravolta do Estoril, no sábado, marcando um e originando as jogadas dos outros dois. Agora de que o FC Porto estará na dúvida entre deixá-lo sair já ou mantê-lo até ao fim da época já tenho sérias dúvidas. Se me perguntassem o que sinto, catalogaria a coisa na área das novelas para entreter. Nem os mercados de Janeiro costumam ser fundamentais na estratégia dos grandes clubes europeus, nem o Liverpool FC – que é de quem mais se fala – tem razões ou tradição de investir já. Só há uma razão para o negócio se fazer nesta altura: é o FC Porto estar de tal forma desesperado por liquidez que admita diminuir as chances de ser campeão vendendo o seu melhor jogador.
Quanto vale Díaz, neste momento? De acordo com o portal alemão Transfermarkt, que ainda recentemente atualizou as cotações, está na casa dos 40 milhões de euros, mais do dobro do que valia no final da época passada. Como o FC Porto o contratou por sete milhões, há dois anos e meio (ainda que ficando apenas com 80 por cento do passe), não creio que acabe por deixá-lo sair por menos de 65, 70 milhões – a cláusula de rescisão são 80. Fará sempre um bom negócio, a não ser que deixe o contrato aproximar-se perigosamente do fim e ele acabe por sair a custo zero, como parece ir ser o caso, por exemplo, de Corona. De qualquer modo, o contrato de Díaz só acaba em 2024 e nenhum jogador feliz fica de pé atrás com a permanência num clube que luta por títulos. E sim, a primeira evidência de que Díaz é feliz é o rendimento que tem apresentado, tornando-se o elemento mais decisivo do ataque dos dragões e dessa forma valorizando-se.
Se o FC Porto perdesse Díaz no mercado de Janeiro, podem até dizer que já está lá Pepê, que foi contratado por 15 milhões ao Grêmio de Porto Alegre no Verão. Pepê mostrou serviço, por exemplo, contra o Benfica, jogo que Díaz perdeu por causa de um teste positivo à Covid19. Mas os equilíbrios coletivos demoram tempo a construir – e isso até é a primeira prova da validade do trabalho de Sérgio Conceição. Não tenho dúvidas nenhumas de duas coisas. Se o FC Porto perdesse Díaz em Janeiro ficaria extremamente mais fraco durante umas quatro ou cinco semanas – e apenas mais fraco depois. E se o Liverpool FC contratasse Díaz agora em Janeiro não ficaria assim tão mais forte no imediato – porque também ele teria de conhecer o novo contexto – ganhando apenas mais um jogador para concorrer com Mané e Salah nas alas do ataque.
O crescimento de Díaz esta época não é o crescimento de um adolescente, pois o colombiano vai fazer 25 anos em Janeiro. É o crescimento de um homem que precisou de tempo para se adaptar a uma nova realidade – como provavelmente precisará se mudar para outra, ainda mais exigente do que a atual. Além do mais, o que levaria o Liverpool FC a querer Díaz já? O curto prazo, motivado pela presença de Mané e Salah na Taça de África das Nações? Não, que ninguém estaria à espera de ver Díaz render assim tão rapidamente. O médio prazo, motivado pelo ataque ao título da Premier League? Dificilmente, porque o Liverpool FC segue a onze pontos do Manchester City e já não deve pensar muito seriamente em lá chegar. O longo prazo, motivado pela vontade de começar a assegurar a sucessão dos quase trintões Salah e Mané? Provavelmente. Mas para isso não precisam de se precipitar e de vir a correr contratar o jogador em Janeiro.
O histórico do Liverpool FC e de John Henry, o norte-americano por trás do Grupo Fenway, não é de ações desesperadas. Desde a contratação de van Dijk, em 2017/18, que os donos norte-americanos não recrutam um jogador para ser titular no mercado de Janeiro – e por isso mesmo não é costume gastarem muito nesta janela de mercado. Na época passada, por exemplo, quando Jürgen Klopp perdeu, por lesões de longa duração, três dos seus defesas-centrais – van Dijk, Matip e Gomez –, mesmo com o campeonato em aberto, os donos do clube não quiseram gastar, limitando-se a pagar 1,8 milhões de euros por Ben Davies ao Preston North End e a receber por empréstimo Ozan Kabak, do Schalke. Davies está agora emprestado ao Sheffield United e Kabak voltou à base, tendo entretanto sido também cedido ao Norwich City. No entendimento dos americanos – e os americanos têm sempre uma visão diferente destas coisas do desporto – o que estava em causa era só uma época. E depois desta haveria necessariamente outra, em que van Dijk, Matip e Gomez voltariam a jogar, pelo que não faria sentido gastar para depois ficar com excedentários.
A única transferência de Janeiro minimamente relevante no passado recente do Liverpool FC foi a contratação do japonês Minamino ao RB Salzburgo, em Janeiro de 2020, por 8,5 milhões de euros. No caso de Díaz, o Liverpool FC teria de gastar quase dez vezes isso. Não creio que vá acontecer já. E isso certamente tranquilizará Conceição, mesmo que possa deixar gente na SAD do FC Porto a arrancar os cabelos para descobrir onde se vai buscar a liquidez.
O homem é craque.... Mas realmente não estou a ver o LFC vir buscar lo agora! E na óptica de um benfiquista ou sportinguista era uma benção o Liverpool perder a cabeça. É o único jogador do campeonato capaz de "ganhar jogos sozinho" com regularidade.
Bom dia António Tadeia , se o Liverpool acenar com 75 milhões já em janeiro é uma tentação para o FCPorto e se sair mas por um lado vai fazer falta Luís Diaz para a recta final da época