Benfica campeão contrariado
O primeiro título de campeão do Benfica chegou em 1930, meses depois de os sócios do clube terem querido abandonar todas as competições e só não o terem feito porque isso lhes ia custar dinheiro.
A vitória do Benfica no Campeonato de Portugal de 1930 pode ser vista como um triunfo da alma e de perseverança, da resistência a lesões e castigos, da força de uma massa adepta que já era extraordinariamente numerosa ou de um treinador extremamente convicto das suas ideias, que já estivera à beira de ser campeão no Vitória FC. No ano em que a disputa do campeonato em eliminatórias a duas mãos, com desempate, transformou a prova numa autêntica maratona, o checo Arthur John utilizou um total de 21 jogadores nas nove partidas que culminaram com a vitória benfiquista sobre o Barreirense, na final, por 3-1. Desses 21, só o jovem guarda-redes Dyson, o médio Jorge Tavares e o avançado Manuel Oliveira foram totalistas. E tudo isto esteve para não acontecer: dois meses e meio antes da decisão, a maioria dos sócios benfiquistas manifestara-se a favor do abandono dos campeonatos, recuando no propósito porque a direção quis impor uma quota extraordinária de cinco escudos, para fazer face às despesas e à natural falta de receita.
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Em causa estavam os lamentáveis incidentes verificados a 9 de Março de 1930, no Restelo, durante um jogo do Benfica com o Casa Pia, ainda a contar para o Campeonato de Lisboa, pelo qual, a três jornadas do fim, se batiam Benfica, Belenenses e Sporting. O jogo, que acabou empatado, permitindo assim que os de Belém se isolassem no topo da tabela, foi rodeado de polémica, a começar por uma decisão do árbitro, Carlos Monteiro, de Setúbal. Ainda durante a primeira parte, Roquete, o guarda-redes do Casa Pia e da seleção nacional, deixara escapar uma bola para trás. Esta, no entender do árbitro, teria ultrapassado a linha de golo, o que o levou a apitar e a apontar para o centro do terreno. Protestaram os gansos: que não, que a bola não tinha entrado. O árbitro foi conversar com o fiscal-de-linha, que validou a razão dos jogadores de negro e, perante o protesto dos benfiquistas, decidiu-se pela marcação de uma falta a favor do Casa Pia. O Benfica alegou erro técnico e apresentou declaração de protesto do jogo, que viria a ser apreciada e recusada pelo Conselho Técnico. O verdadeiro problema, porém, surgiria mais tarde, na segunda parte do jogo.