Trocar os repetidos
Em condições normais, o Sporting manteria Chermiti ou emprestá-lo-ia para lhe permitir o crescimento em competição. Mas ainda há falhas na caderneta de Amorim. E é preciso trocar os repetidos.
Agora é o Everton, antes já tinha sido o Bournemouth, mas o que quer que aconteça neste Verão a Chermiti parece mais ou menos evidente que o atacante só fica no Sporting se o clube não tiver uma oferta minimamente decente pelos seus serviços. O jovem vindo da formação tem uma cláusula de rescisão de 80 milhões de euros, a provar que estas se fazem mais como defesa, uma espécie de seguro contra evoluções súbitas, do que como avaliação do potencial, mas quaisquer 15 milhões devem chegar para o levar, nem que seja a 80 por cento. E o que isto nos revela é mais do que o facto de o Sporting não poder dar-se ao luxo de esperar que Chermiti cresça. Diz-nos que no clube não há ainda a capacidade financeira para manter em espera um jogador que representa uma possibilidade de capitalização mínima imediata ou, em alternativa, que em Alvalade não acreditam assim tanto no seu crescimento como dava a entender o buzz gerado nas semanas após a sua chegada à equipa. Nessas primeiras semanas, Chermiti foi mencionado pelo então novo selecionador nacional, Roberto Martínez, a ponto de ter chegado a especular-se que o espanhol podia convocá-lo para a jornada de Março. O polegar erguido de Sérgio Conceição após um clássico, acompanhado pela expressão “top”, que se lhe leu nos lábios na transmissão televisiva, também ajudou, mas o potencial físico de Chermiti não chegou para impedir que o Sporting se fixasse em Gyökeres, jogador semelhante na forma de receber longo ou de atacar a profundidade, mas tecnicamente mais evoluído. É um produto mais acabado: o sueco já tem 25 anos, um ano de competição na 2. Bundesliga e três no Championhip inglês, o português tem apenas 19 e meia época na equipa principal do Sporting. Em condições normais, julgando os leões que a equipa B não apresenta um cenário suficientemente competitivo para a evolução do rebento, que naturalmente não cresce se não for regado com competição, Chermiti seria emprestado a uma equipa de I Liga ou ficaria até no plantel principal, para poder dar descanso a Gyökeres nalguns jogos. A questão é que a caderneta de Rúben Amorim ainda tem um par de faltas e o treinador não poderá dar-se ao luxo de guardar os cromos repetidos. Mesmo que tenha de encarar alguns jogos com o mais associativo Paulinho em vez de um atacante mais possante, que dá outras alternativas na saída de bola, tem de ir ao recreio trocá-los. Um avançado físico em formação por um médio-centro forte nos duelos e já com estaleca de competição. No fim, até pode dar buraco, mas o que a história nos diz é que mais depressa acontecerá por falta de rendimento de quem vem do que por súbito e inesperado desabrochar de quem vai. O que é normal, porque quem mais conhece os jogadores é quem mais trabalhou com eles.
Mbappé e a alavancagem. Há tantas dimensões no negócio Mbappé que se torna difícil vê-lo de um só ângulo. Há o ângulo do jogador, que tendo assinado contrato até ao final desta época tem depois toda a liberdade de querer renovar ou não – tal como os clubes têm total liberdade de propor ou não renovações a jogadores dos seus quadros. Há o ângulo do Paris Saint-Germain, que sente que investiu demasiado para poder perder o jogador a custo zero e ainda por cima percebe que o comportamento do outro lado – Real Madrid – não está a ser absolutamente regular, porque toda a gente “sabe” que o jogador vai para a capital espanhola no próximo Verão, quando na verdade os contactos só poderiam começar em Janeiro, nos seis últimos meses do contrato vigente. Há todo o carrossel de movimentações que a precipitação deste negócio pode proporcionar, com a passagem de Dembelé para Paris e a possibilidade de o FC Barcelona encontrar também um substituto para o francês. E há o racional financeiro destas transferências, que nem sempre é tão simples como consultar a coluna dos valores de compras e vendas no Transfermarkt. Para o PSG, vender em Julho era excelente, porque não só reavia parte dos 180 milhões de euros investidos no passe – que na verdade até já terão sido contabilisticamente amortizados – como ficava isento de pagar os 80 milhões de prémio de “fidelidade” a que o jogador terá direito por ficar no clube esta época. E isso faz com que, na prática, por exemplo, uma oferta de 100 milhões de euros ontem tivesse sido melhor do que uma de 150 milhões hoje. Para o Real Madrid, muito provavelmente, avançar já implica gastar mais na transferência, possivelmente menos no prémio de assinatura – o custo zero nunca é bem zero... – mas mesmo que uma coisa não compense a outra também traz a vantagem de contar com o jogador um ano mais cedo. E Mbappé, entre a alavancagem que garantiu em Paris, com o direito aos 80 milhões de prémio, e a que pode garantir em Madrid, com o facto de chegar livre, pode funcionar como uma espécie de suspensão ativa, ora cedendo um pouco aqui, ora cedendo um quanto ali. É por isso que continuo convencido de que o negócio se faz já neste Verão.
“És o elo mais fraco”. Não vi o jogo, que foi de madrugada, mas ontem, depois de ler sobre ele, tive curiosidade de ver o resumo. O Manchester United-Borussia Dortmund de Las Vegas, após o qual Eric Ten Hag afirmou que não é possível falar de uma candidatura da sua equipa ao título da Premier League, valeu pelo golaço de Dalot, pela coletânea de erros na saída de bola da equipa inglesa e ainda pela hipótese de ver em campo o Schmeichel camaronês. Tanta gente falhou no início da organização ofensiva, que quase parecia que o United estava agora a começar a sair a jogar desde trás, mas em cima de quem o guardião Onana foi carregar, de modo a bater-se com os mais famosos “rants” do dinamarquês, foi no pobre Harry Maguire, a quem já não bastava ter percebido que é a terceira opção do treinador para central direito e ter perdido a braçadeira de capitão em consequência disso. Esta foi a forma de Onana dizer a Maguire: “És o elo mais fraco”. Para o “adeus”, que completa a expressão do concurso de TV, falta só haver quem se chegue à frente com números que satisfaçam o United. É que os ingleses têm arcaboiço financeiro para manter os repetidos. E Maguire bem precisa de sair dali.