O plano de Hagi
A história do título do Farul Constanta é a história do plano desenhado por Hagi para fazer da seleção romena campeã do Mundo. E é a forma de ele se vingar do que não pôde fazer como jogador.
O poder e a disfuncionalidade da família Ceausescu transformaram o futebol romeno do final da década de 80 numa espécie de desfile imparável de um Steaua Bucareste invencível. Entre 18 de Junho de 1986, quando, já campeão, perdeu por 5-4 com o Universitatea Craiova, na última jornada desse campeonato, e 9 de Setembro de 1989, quando foi batido pelo Dínamo, por 3-0, à terceira ronda de uma época depois marcada pela deposição e execução do ditador, a equipa favorita do filho mais novo e herdeiro político de Nicolae Ceausescu somou 104 jogos seguidos sem derrotas no campeonato (87 vitórias e 17 empates, estes certamente acolhidos com um franzer de sobrolho pelo sempre irritável e caprichoso rebento). Pelo meio, como ganhara a Taça dos Campeões Europeus de 1986 e tinha uma Supertaça contra o Dínamo Kiev na agenda – e não havia nada que desse mais prazer aos Ceausescu do que irritar os soviéticos –, o Steaua “nacionalizou” o talento do melhor futebolista que a Roménia alguma vez viu: Gheorghe Hagi, que sozinho tinha transformado o modesto Sportul Studentesc, a equipa dos estudantes de Bucareste, num rival a ter em conta pelo poderoso Steaua, foi cooptado pela formação mais poderosa da Roménia em Fevereiro de 1987. Será um pouco por se lembrar disso que, quase 40 anos depois, Hagi continua a construir equipas capazes de se imporem aos grandes. Já o fizera com o Viitorul, modesto clube que ele fundou nos arredores da cidade de Constanta, para dar vazão ao talento que ia criando na sua academia, levando-o a ganhar o campeonato de 2017. E repetiu a graça com o Farul, o emblema que o vira nascer como futebolista, e de que hoje é simultaneamente dono e treinador, tendo sido o campeão nacional de 2023 depois de ganhar o jogo do título… ao Steaua.