Rui Costa, os consensos e a crise
Rui Costa quer ser como presidente o que foi como jogador: uma figura consensual. Mas o problema do Benfica só se resolve cortando a direito, sem medo do confronto. E com decisões firmes.
Há uma resma de citações, desde “A Arte da Guerra” de Sun Tzu aos épicos do cinema norte-americano sobre qualquer dos conflitos que os Estados Unidos travaram no século passado, que se aplicam ao atual momento do Benfica. Na tentativa de fazer pontes e estabelecer consensos, de ser como presidente do clube a personalidade conciliadora que já tinha sido como futebolista, Rui Costa tem-nas desprezado a todas. Em resultado disso, o que começa a desenhar-se como uma crise de rendimento da equipa de futebol agrava-se a cada dia. Porque isto das equipas funciona por camadas: há quem lidere e há quem siga – e se quem comanda não mostra um rumo firme e decidido, às vezes até muito para lá do que pareceria razoável, quem segue parece cada vez mais perdido. No Benfica-Gil Vicente de ontem ficou à vista de todos uma coisa: este Benfica não precisa de gestão da crise, precisa de virar a mesa e começar do zero.
Na semana passada, em conversa por causa do F80 que lhe foi dedicado, o Rui Esteves disse-me uma coisa – disse várias, na verdade... – muito interessante. “Quem eram os adversários que me causavam mais dificuldades? Primeiro tinham de me apanhar”, brincou. Era assim o Rui Esteves como jogador. E, com mais qualidade dentro de campo, era assim também o Rui Costa. Toda a carreira dos dois foi feita de talento e da capacidade para evitar os confrontos, de fugir aos adversários. Pois bem: como presidente, não pode ser assim. O facto de não ter estado envolvido nos esquemas que estão a ser investigados atesta da sua seriedade e da sua dedicação ao Benfica, mas não chega. Como não chegou, em 1993, o facto de se ter esquivado à aproximação do Sporting, de se ter mantido de águia ao peito no Verão que levou Pacheco e Sousa para Alvalade – depois teve de mostrar em campo a razão pela qual lá ficou, dando o tiro de partida para a conquista do título seguinte.
Escreveu Sun Tzu algo como isto: “Se estás fraco, tens de parecer forte; se estás forte, deves parecer fraco”. Rui Costa apanhou o Benfica num momento de enorme fragilidade, quando o anterior presidente, Luís Filipe Vieira, foi detido. O incómodo tem sido prolongado, à medida que Vieira continua a aguardar julgamento, mas o faz no meio de um turbilhão mediático, em que todos os dias saltam para o domínio público novos e sórdidos detalhes das suas escutas telefónicas. As respostas do novo presidente tinham pelo menos que parecer fortes, para que em torno delas se unisse a sua gente e para não dar a cheirar fragilidade aos adversários. Rui Costa continuou a ser o homem dedicado à causa benfiquista, mas dá provas da sua dedicação da forma que sabe, estabelecendo pontes, procurando consensos e evitando os conflitos. E aqui aplica-se melhor uma citação mais popular, como o conselho que Martin Sheen, no papel de AJ McInerney, em “The American President”, deu a Michael Douglas, que era o presidente Andrew Shepherd. “Só se travam as batalhas que se podem ganhar? Não! Travam-se as batalhas que têm de ser travadas!”.
Rui Costa fez a ponte com a maioria da administração de Vieira, que apresentou a eleições. Mais tarde, apoiou-se no consenso dos jogadores, que criaram um problema a Jorge Jesus, recusando-se a treinar, e com isso deixou cair o treinador. Em seguida, tomou a decisão mais próxima de uma não-decisão ao apostar em Nélson Veríssimo, mas sem lhe dar a força que lhe daria um contrato de mais longa duração, apoiado num plano de restruturação que teria de ser profundamente clarificador em relação ao que o treinador quer de uns e de outros – e ao fazê-lo tornou ainda mais difícil um mercado que por natureza já não ia ser fácil e após o qual tudo ficou na mesma. O resultado deste conjunto de medidas esteve à vista no jogo de ontem, após o qual o Benfica ficou mais perto do Gil Vicente (tem onze pontos de avanço) do que do FC Porto (está a doze pontos de distância). E no qual foi preciso instalar um cordão de segurança entre a tribuna presidencial e a bancada dos adeptos que lhe é próxima, temendo que por lá haja quem não tenha tanta alergia ao confronto como o atual presidente.
Anteontem, Rúben Amorim lembrou-nos a todos de uma coisa que esteve na base do atual sucesso do Sporting. Quando lhe perguntaram se tinha sido contra a contratação de Slimani neste mercado, o treinador campeão negou. “Esta equipa técnica, quando chegou aqui, tirou jogadores de que toda a gente gostava”, recordou Amorim, para reforçar que a ele não lhe impõem nada – e se calhar até nem é bem assim, mas o importante é que aquilo que passa para o exterior é que ele sempre cortou a direito. A verdade é que, tendo pegado no Sporting em situação pior do que a do atual Benfica, porque além de ter “brunistas” e “anti-brunistas” à bulha todos os dias, até nas bancadas, o Sporting já não ganhava um campeonato há muitos anos, Frederico Varandas fez muita asneira até apostar tudo num treinador. Mal ou bem, pôs a cabeça no cepo ao definir um rumo. Fez o “all-in” num técnico que resolveu dispensar gente que tinha valor mas que não lhe servia os propósitos e em cima da qual montou a sua demonstração de força. Se corresse mal, já lá não estariam hoje, nem Amorim nem Varandas. Mas correu bem, em grande parte porque, num momento de fraqueza, ambos mostraram força.
Rui Costa ainda está na primeira fase do “varandismo”, aquela em que tudo se lhe contesta. Não sei se está vidrado com a ideia de ser uma figura consensual, mas a verdade é que os consensos só se conseguem com vitórias – e às vezes nem assim, como o prova o Sporting dos dias de hoje, onde Varandas ainda é bastante contestado por uma franja bem mais larga do que os 50 adeptos que ontem fizeram uma manifestação na Luz antes do jogo. E para ter vitórias, Rui Costa tem de tomar decisões. Tem de escolher os administradores que quer que vão para a guerra com ele e deixar cair os que não lhe servem, sem medo de contestação. Tem de escolher um treinador em quem confie a sua própria presidência e não o que está ali mais à mão – e os dois até podem ser a mesma pessoa, mas aqui o que importa é a confiança com que se coloca nas mãos dele e lhe suporta as decisões que ele quiser tomar acerca do plantel. Enquanto isso não suceder, por mais murros na mesa que dê, por mais sessões motivacionais que faça com os jogadores no balneário, por mais frases contra as arbitragens que dispare, o único consenso que se estabelece para os lados da Luz é o de que o presidente se limita a gerir a crise sem lhe encontrar a porta de saída. E o Benfica faz o contrário do que dizia Sun Tzu: é forte, mas parece fraco.
Bom dia António,
Lá vou eu mais uma vez desabafar aqui 😅 mas gostava de saber a sua opinião sobre o que se passa dentro das 4 linhas e a ideia deste treinador porque fora delas estou completamente de acordo, Rui Costa vai ter de tomar decisões e cortar a direito e rápido porque já batemos no fundo mas ainda há quem esteja a cavar mais o fundo.
Então vamos lá, Veríssimo perdeu contra o Porto em 4-4-2 mas até não foi mau de todo sobretudo porque A.Almeida foi expulso e deitou tudo a perder mas a questão é, porque é que Veríssimo insiste no 4-3-3 depois destes últimos desaires ? Ele não analisa os jogos no fim ? Ele não vê que a equipa está completamente partida neste sistema ? E eu não percebo nada de futebol, sou apenas um adepto apaixonado por futebol. Eu acho que ontem toda a gente percebeu o porquê de JJ ter aplicado a linha de 3 atrás sendo um claro defensor do 4-4-2, é que ontem sempre que o Gil passava do meio campo aquilo eram uns calafrios, completamente desastrosa a organização defensiva do Benfica, e não só.Eu entendo o Veríssimo em querer trazer e aplicar as suas ideias mas as vezes é melhor pensar no conforto da equipa no campo e acho que todos nós percebemos que este 4-3-3 não funciona. Os 3 da frente andam ali perdidos no campo, não há ligação de jogo , então a escolha por Meite é ainda mais discutível, O Benfica a jogar em casa tem um Weigl e depois opta por Meite !? um 8 mais defensivo que não sabe "criar jogo", então é melhor o Taarabt que esse mesmo falhando alguns passes, de vez em quando queima linhas e cria oportunidades não ? Eu até já nem digo o Rafa que se compreende porque vem de covid, e o André Almeida? O Gilberto desapareceu do mapa ? Para mim dos 3 continua a ser o melhor para a posição porque dá tudo em campo e deve ser o que defende melhor.
O Benfica em 7 jogos tem 2 Vitorias com este treinador e eu já desacreditei completamente porque nota-se que ele não tem mão na equipa e que a mensagem não está a passar porque ele de certeza que não é aquilo que treina com os jogadores durante a semana, o Gil passeava a bola entre o meio campo e a defesa e os jogadores corriam atrás da bola mas havia sempre um jogador livre para receber do Gil , ou seja as vezes o Benfica até queria pressionar mas não o sabiam fazer ou os jogadores parecia não sabiam para onde ir ! 🤦 Ontem os jogadores falharam passes que nem nas distritais acontece, estavam completamente fora do jogo psicologicamente, e a cada jogo que passa dá a impressão que ficam pior devido também aos resultados. Eu já não sei o que é melhor para o Benfica neste momento mas concordo em absoluto consigo que é preciso começar do Zero. Vai esperar o Rui Costa por mais um desaire para trazer finalmente o verdadeiro treinador para a próxima época ou como o António dizia se calhar o treinador que ele deseja não está ainda disponível ? Eu acho que neste momento seria a melhor coisa a fazer, trazer o verdadeiro treinador para preparar a próxima época e fazer os ajustes necessários em Agosto para começar do Zero como Amorim fez no Sporting. Agora a questão é, quem será esse treinador capaz de começar do zero ? Eu pessoalmente gosto do Marco Silva e do Leonardo jardim, acho que Leonardo Jardim podia relançar a carreira no Benfica visto que anda pelas arábias. Vamos ver, está tudo nas mãos do Rui Costa. Fica aqui a minha análise/comentário/pergunta de um Benfiquista. Mas de um Benfiquista que não vê só o Benfica, essa fase já me passou, eu podia vir aqui falar só da arbitragem que ontem teve na minha opinião razão de queixa mas como é que eu vou falar de arbitragem depois de uma exebiçāo daquelas ? Por amor de Deus, o Benfica teve 90 minutos para virar o resultado. E com isto acabo. Gostei do último passe de hoje, completamente de acordo. Cumprimentos
O Rui Costa está a ter muitas dificuldades em sair das teias do Vieirismo. Penso que a presença do Vieira na final da taça da liga diz muito da influência que tem para fragilizar a direcção do Rui Costa. Rui Costa foi um grande maestro como jogador. Como presidente está ainda aprender a ser maestro (dores de crescimento).