O difícil mercado do Benfica
Nelson Veríssimo diz que está preparado para perder jogadores. Mas de que jogadores se fala? Análise à conjuntura num mercado que está muito difícil para o Benfica.
Nelson Veríssimo disse ontem, em conferência de imprensa, que está preparado “para perder jogadores” neste mercado de Janeiro, falou em clubes que podem querer “bater as cláusulas de rescisão”, e a malta pôs-se imediatamente a fazer contas. Esquecem-se que os jogadores que o Benfica quer despachar vêm de um período de baixo rendimento e que, por isso, não terão assim tanta procura longe dos “spins” que mandam na agenda mediática em Portugal. Ou que aqueles que os encarnados querem vender por bom dinheiro esbarrarão sempre nas constatações de que nem o mercado de Inverno costuma servir para negócios estratosféricos, nem o Benfica, com dois anos e meio sem ganhar troféus, está na rota dos grandes tubarões, nem as transferências estão assim tão facilitadas pela conjuntura de relacionamento com os empresários como estavam nos tempos em que foram feitas as escutas da operação Cartão Vermelho, agora divulgadas. Não está fácil, a vida para quem quer fazer o mercado do Benfica neste mês de Janeiro.
Quando um clube procura emagrecer – e essa parece ser a ideia de Nelson Veríssimo e, mais do que dele, de Rui Costa – há duas formas de o fazer. Uma é libertar excedentários, a outra é vender jogadores com os quais se conta, mas por quem o mercado está disponível para perder a cabeça. A terceira, que passaria por libertar excedentários e fazer bom dinheiro com isso, não está ao alcance de nenhum clube português sem o auxílio de um empresário com grande poder. No presente contexto do Benfica, todas são difíceis de conseguir. A primeira porque a visão de um plantel amplo e credenciado que era a de Jorge Jesus – aprovada pelas duas lideranças da SAD com quem trabalhou – fez com que o clube acumulasse excedentários de alto custo salarial, que nem toda a gente tem condições para assimilar, ou nos quais o clube investiu bom dinheiro há pouco tempo, o que impede a sua saída a custo zero sem a correspondente perda de face da administração. Restaria o outro caminho, a saída de gente que até poderia ser útil para o futuro, mas que é quem ainda tem alguma “moral” no mercado – e aí entra a constatação de que, sem ganhar nada desde Agosto de 2019, o Benfica não está em grande posição para impor nomes a potenciais compradores.
Neste segundo lote entram jogadores como Darwin, Everton, Grimaldo ou até Weigl, Rafa e João Mário. Os seis poderiam, suportados em gente mais experiente mas ainda dentro do prazo de validade, como Otamendi, ser a base do renascimento do Benfica, pelo que nunca se aconselharia a sua saída em momento negativo para as cores encarnadas, como é este. Em baixa, portanto. O surgimento do Newcastle United como grande agitador pode até levar este mercado de Janeiro a mexer um pouco, mas basta pensarmos uns minutos para entendermos duas coisas. Que nenhum clube – nem o Newcastle United do fundo soberano saudita – gosta de deitar dinheiro à rua, com investimento em jogadores que não têm correspondido, nem aqueles jogadores, que sabem que valem mais do que têm mostrado, quererão enfiar-se num clube que não tem segurança de estar a jogar a Premier League a partir de Agosto. E, por fim, que nem o Benfica quererá separar-se de jogadores em cima de quem pode construir o futuro por valores abaixo daqueles que os seus responsáveis acham que, numa conjuntura favorável, eles poderão vir a render.
O negócio de Rúben Dias, conseguido numa altura em que o Benfica ainda não estava assim tão distante – temporalmente – das vitórias, mostra este tipo de dificuldades. Dias até veio a provar-se uma pechincha para o Manchester City do dinheiro do Abu Dhabi, mas tudo podia ter-se esfumado por causa da expectativa criada por Luís Filipe Vieira. Se o Benfica tinha anunciado que só deixava sair o jogador pela cláusula de rescisão, que eram 100 milhões de euros, como é que podia agora vendê-lo por menos de metade disso, que era o que o City se predispunha a investir? Foi dessa conjuntura que nasceu a oportunidade para o negócio de Otamendi, que veio inflacionado (15 milhões) para o Benfica, de maneira a inflar o balão da saída de Rúben Dias (68 milhões) e evitar a perda de face de uma administração que tinha aberto demasiado a boca na tentativa de valorizar o seu ativo. O que é que esta recordação nos diz? Que o Benfica não devia ter vendido, provavelmente, que sabendo o que sabem hoje os responsáveis do City talvez até já dessem os 100 milhões. Mas nem o futebol se move em função de realidades alternativas nem num Benfica com necessidade de realizar capital e fora da Liga dos Campeões de 2020/21 isso era uma opção.
Portanto, o que está aqui em causa nem é tanto quanto é que o Benfica pode conseguir neste mercado com Darwin, Grimaldo, Weigl ou Rafa – Everton só terá interessados no Brasil ou no Leste endinheirado que serviu de escape a Pedrinho, por exemplo, e este não parece ser o momento para operações como essa, nem num lado nem no outro. Creio que dificilmente os encarnados vão conseguir o que esperam e, mais, o que julgam merecer por jogadores que potencialmente valem mais do que têm mostrado. Alguém paga 80 milhões de euros agora por Darwin se pode conseguir jogadores de igual potencial e maior rendimento por menos dinheiro? A não ser que a operação seja enquadrada num plano que tenha outro tipo de contrapartidas – e já se sabe que ser empresário de jogadores hoje é muito traficar influências, convencer este clube a comprar para depois ganhar posição face ao clube a quem se resolve um problema vendendo... – parece muito difícil que isso venha a suceder. O que deixa Rui Costa no outro caminho da encruzilhada: aquele que conduz à libertação de excedentários.
E nesta estrada alternativa, os problemas são diferentes. De que jogadores se fala? De Pizzi ou André Almeida, contestados pelo público por terem sido colocados no olho do furacão na demissão de Jesus? São demasiado caros em custos salariais para os clubes que tivessem eventualmente interesse em recebê-los. De Taarabt, por quem agora se diz que o Benfica quer “só” cinco milhões de euros? Mas alguém vai pagar cinco milhões por um médio de 32 anos que revelou tantas dificuldades de adaptação à chegada a Portugal? De Meité, por quem o Benfica pagou seis milhões há meio ano, mas que desde o início de Setembro, passado o arranque de época com calendário cheio, só tem quatro presenças no onze – em jogos de menor interesse competitivo – e outras duas como suplente utilizado? De jovens como Ferro ou Gedson, por quem parecem estar a mexer-se mercados alternativos – Croácia, Turquia... – mas que numa política coerente até seriam, com Morato, Florentino, Diogo Gonçalves, Gonçalo Ramos ou Paulo Bernardo, as segundas linhas de um plantel feito à base de gente da casa? Resta Seferovic, e basicamente porque tem tido a seleção suíça como forma de mostrar serviço. E se o emagrecimento passa só por aí, é curto. Tanto para quem espera gastar menos e capitalizar como para quem quer garantir espaço para o aparecimento dos miúdos entre os maiores.
Sinceramente acho que a politica desportiva do Benfica passou muito pela relação com a Gestifute ate a chegada de JJ. Mas ja antes disso o Benfica passou por um periodo burguês com a contratação de jogadores com salarios incomportáveis para a realidade portuguesa como Vertonghen, o negocio Otamendi, e mesmo Weigl e por ultimo Joao Mario. Tudo jogadores a ganhar 5 ou 6M brutos por ano. A questão e que o Benfica também passou a contratar jogadores por 20 e 25M a pensar que vende tudo acima de 60 e 70M depois do negocio Joao Felix e isso foi claramente um negocio demasiado empolado. Agora esta no meio da ponte entre a aposta na formação do periodo pre JJ e os jogadores que vieram no periodo JJ como Radonjic ou Lazaro etc. Tudo junto foi um cocktail explosivo com os resultados a vista...