Otávio II, rei do mercado
O mercado fecha hoje e, em cima da mesa, está a possibilidade de o FC Porto contratar Otávio ao FC Famalicão. É uma negociação fundamental para a equipa de Conceição e para a SAD de Pinto da Costa.
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O mercado em Portugal fecha mais logo, à meia-noite, e os candidatos ao título ainda têm, por esta altura, pelo menos duas operações pendentes: a contratação do médio Koindredi pelo Sporting ao Estoril e a do defesa-central Otávio pelo FC Porto ao FC Famalicão. O Benfica aviou-se em bom tempo, espera finalizar hoje a saída de Musa para a MLS, com um lucro que é sempre bem-vindo, mais a mais tratando-se de um jogador que, por mais diferenciado que seja nas suas caraterísticas face à competição pela vaga de ponta-de-lança no plantel, seria na melhor das hipóteses a terceira (se não mesmo a quarta) opção para Roger Schmidt e só podia mesmo desvalorizar nos tempos mais próximos. E, com as águias a assistir de cadeirinha, não restam dúvidas de que o dia de hoje será bem mais importante para os dragões do que para os leões, não só porque o alvo a que apontam é para ocupar um lugar no onze – enquanto que Koindredi será apenas para fazer plantel – como também porque, com a corrida eleitoral no horizonte, um eventual fracasso na contratação de Otávio pode ser um sinal de que Pinto da Costa já não põe e dispõe no ecossistema do futebol nacional, dessa forma ajudando a convencer alguns dos mais resistentes à mudança. O sucesso desta operação é importante para a equipa, mas é também relevante quando se equaciona o futuro próximo do clube. E o que está em causa é uma questão muito simples – e que de certa forma também terá estado em cima da mesa no caso-Musa, que preferiria ficar na Europa, mas acabará por ceder à constatação de que, por cá, não há quem pague ao Benfica aquilo que os norte-americanos parecem dispostos a pagar. Ora Otávio, por quem os famalicenses deram 500 mil euros ao Flamengo no último verão, tem uma cláusula de rescisão de 15 milhões – e sopra-se do Minho que há no Golfo Pérsico quem esteja na disposição de a acionar. O jogador preferirá o FC Porto, por razões de progressão de carreira. Entre portugueses, que é como quem diz entre Pinto da Costa e Miguel Ribeiro, o administrador da SAD famalicense, acordou-se no pagamento de 12 milhões de euros por 80 por cento do passe, deixando ali uma margem de valorização que os minhotos aproveitaram, por exemplo, na venda de Ugarte pelo Sporting ao PSG. Mas o FC Famalicão é de Idan Ofer, um israelita que está bem mais acima no equilíbrio global do futebol mundial (é acionista de referência do Atlético Madrid, por exemplo) e cujos representantes ainda precisam de ser convencidos de que não valha mais um pássaro na mão do que dois a voar. Otávio é um jovem central de 21 anos, rápido, forte nos duelos, um acrescento evidente de qualidade para uma função em que o FC Porto está curto desde a lesão de Marcano e o resvalar inclinado na carreira de Carmo. Ainda por cima, sendo esquerdino, é um jogador que poderia crescer ao lado de Pepe, aproveitando o que podem ser os últimos meses ao mais alto nível do internacional português para se tornar referência de renovação. Só que, lá está: o futebol português já não é o que era, os grandes já precisam de mais do que estalar os dedos para terem o que querem, sobretudo quando do outro lado estão clubes com um passado recente de negócios bastante proveitosos. O FC Famalicão já não vende barato, como se viu no que fez com Pedro Gonçalves, Ugarte e Ivan Jaime. E isso não está errado, porque as vendas são uma das poucas formas que estes clubes têm de se viabilizar e de tornar o futebol nacional mais competitivo. Depois, vai a jogo quem pode – e consegue...
Koindredi como projeto. É bem diferente o racional da contratação de Koindredi por parte do Sporting. Os leões estarão propositadamente curtos desde o início da época no setor do meio-campo, onde têm Hjulmand, Essugo e eventualmente Morita para a posição de médio mais posicional, Morita, Bragança e eventualmente Pedro Gonçalves para a função de médio que dá chegada à frente. A ausência de Morita na Taça da Ásia criou um problema que Gonçalves tem resolvido muito bem, mas já não se prolongará por muito tempo mais, pelo que a entrada de Koindredi no grupo não deve ser vista sob esse prisma. Se era para isso teria de ter vindo mais cedo. O médio francês que o Estoril precisou de comprar ao Valência CF – que lho tinha emprestado – para o vender ao Sporting chegará a Alvalade como projeto, para tentar cumprir o desígnio que Amorim já viu antes em Alexandropoulos – e fracassou. Koindredi é um médio de caraterísticas muito próximas às de Matheus Nunes e, tal como o médio que o Sporting também contratou ao Estoril e hoje está no Manchester City, tem de ser muito trabalhado. Tem condução de bola, tem corrida em frente com a bola nos pés, capacidade de evitar os obstáculos, mas falta-lhe intensidade, concentração defensiva e força nos duelos. Não chega a Alvalade para ser titular. Mesmo o médio prazo dependerá da forma como ele responder ao desafio que lhe será apresentado. A boa notícia é que, neste momento, ninguém está a contar com isso.
O que traz Ndour. No SC Braga, a principal notícia é a chegada de Ndour, promessa italiana que o Benfica deixou escapar a custo zero no início da época mas que não convenceu no PSG e que, por isso, os franceses vão colocar no SC Braga, a ver se ele ganha balanço para poder vir a ser-lhes útil no futuro. Ndour é um tipo de médio que não existe no SC Braga, mais um transportador de bola do que um promotor de desequilíbrios através do passe. Nesse aspeto, podia ser um acrescento. Mas falta perceber se Artur Jorge consegue – e se quer – encaixá-lo, um pouco até em contraciclo com o percurso que a equipa tem feito nas últimas semanas, em aproximação progressiva à baliza de Matheus. O futuro dirá se esta foi uma oportunidade requisitada ou um pedido do acionista minoritário, evidenciando o que há de mais pernicioso na multipropriedade de clubes – o QSI, dono do PSG, controla mais de 20 por cento das ações do SC Braga. Em causa não estará a qualidade do jogador, só a sua utilidade para uma ideia de jogo. E o perigo de Ndour perder mais uns meses fulcrais, depois de já ter desperdiçado todo este início de época.
Mais logo, ninguém dorme. O grande problema desta janela de mercado é o fecho por etapas. Se em Portugal as operações encerram à meia-noite de hoje, nas cinco grandes ligas elas vão ficar abertas durante o dia de amanhã, até às 17 horas na Alemanha, às 19 horas na Itália e às 23 horas em França, Espanha e Inglaterra. Se amanhã um clube endinheirado se lembrar de vir abastecer-se por cá, os nossos clubes já não poderão fazer rigorosamente nada – poderão recusar ofertas, mas mesmo isso será complicado, dada a urgência de dinheiro que se vive por aqui, ou até impossível, se alguém bater as cláusulas de rescisão. É por isso que a noite que vem será certamente de insónias para quem dirige as nossas equipas de topo. E se?... Para já, vale a convicção de que este mercado está fraco. Os 20 clubes da Premier League gastaram neste mês de Janeiro apenas 80 milhões de euros, menos do que o Chelsea bateu há um ano só por Enzo Fernández. O jogador mais caro da atual janela foi Vítor Roque, por quem o FC Barcelona pagou 40 milhões de euros ao Athletico Paranaense, mas cuja venda estava já agendada com antecedência. As dez transferências mais caras deste Janeiro movimentaram um total de 236 milhões de euros, pouco mais de metade dos 466 milhões que mudaram de mãos na sequência do top10 de vendas de há um ano. Por um lado, muitos dos clubes com tradição recente de maiores gastos estão neste momento a braços com limitações impostas pelas regras de sustentabilidade – Chelsea e Newcastle, por exemplo, não gastaram uma libra neste Janeiro. Por outro, olha-se para os jogadores mais caros de há um ano e não se lhes vê uma influência assim tão grande no rendimento das equipas que os contrataram. O Chelsea não melhorou assim tanto com Enzo e Malo Gusto, que ao menos já estão a ser escolhas regulares, o que não acontece com Mudryk, Madueke ou Badiashile. O OM já está a tentar colocar Vitinha, Gakpo não teve assim tanto efeito no Liverpool FC e Kiwior nem se impôs no Arsenal. Se calhar vale mais esperar pelo Verão e fazer as coisas com tempo em vez de apostar em remendos instantâneos com baixa probabilidade de sucesso.
O que eu ouvi na imprensa brasileira foi que o Famalicão só venderá 80% do Otávio pq os outros 20% são do flamengo!
Antonio, em relacao ao Koba e ao perfil de medio que fala no texto, acho que ha um jogador na Liga que pouca gente fala dele mas poderia ser um medio muito mais util, seja no Sporting ou ate mesmo no Porto com a capacidade que tem de jogar na ala sem ser um ala como tao bem fazia Otavio. Falo de Sylla do Arouca. E muito bom tecnicamente, rapido, agressivo nos duelos e na reaccao a perda da bola e fortissimo no transporte. Pode jogar no miolo ou ate mesmo como falso ala como agora em Arouca. Para mim e um jogador que pode acrescentar muito a um nivel mais elevado.