Os jogos de 100 minutos
O IFAB quer que os árbitros compensem melhor o tempo gasto em substituições, festejos de golos e intervenções do VAR. E faz todo o sentido... se se ganha. O problema de Guardiola foi que perdeu.
Em Inglaterra falam da maldição do campeão, que há quatro anos seguidos perde a Supertaça na abertura oficial da época, mas Pep Guardiola, treinador que vem de ganhar a Champions, a Premier League e a Taça, prefere falar das novas indicações dadas pelo IFAB e adotadas pelas diversas federações acerca dos períodos de compensação, para dizer que não lhe agradam e que os treinadores nunca são consultados acerca destas alterações. “Todos os jogos passarão a ter 100 minutos”, queixou-se o espanhol, que estava a ganhar até aos 90+11’, quando um remate de Trossard bateu em Akanji, enganou Ortega, que já estava a cair para o outro lado, e deu o empate que levou o jogo para os penaltis, onde o Arsenal acabou por se impor. Se bem se lembram, no Mundial do Qatar os jogos tinham vastíssimos períodos de compensação, que a partir de agora se verão também nos diversos campeonatos, pois passou a ser regra que a cada golo seja dado mais um minuto de jogo, para compensar os festejos, e a cada paragem para substituições mais 45 segundos. Tudo a acrescer ao período gasto nas assistências a jogadores ou em outras paragens, como as intervenções do VAR. A coisa pode ser penosa para os jogadores, que assim vêm o esforço a ser prolongado, mas no mínimo pode dizer-se que se articula bem com as novas regras para as substituições, que sobraram da pandemia: qualquer treinador pode trocar metade dos seus jogadores de campo numa partida, coisa a que, aliás, Guardiola também é particularmente avesso – ontem só trocou três, na final da Champions só mudou dois e na meia-final de Madrid levou o mesmo onze até ao fim dos 94 minutos. O que me parece desculpa de mau pagador é dizer que os treinadores nunca são consultados. Nunca estive numa daquelas reuniões entre treinadores de elite que a UEFA promove, pelo menos, uma vez a cada início de época – nem tinha de estar, de resto. Mas sempre li que uma das maiores preocupações de quem lá esteve é a falta de tempo útil de jogo, provocada pelas estratégias de perda de tempo de que os mais fracos abusam. Regra geral, aliás, quando se vê técnicos de grandes equipas falar deste tema é a seguir a jogos que empatam ou perdem, acabando em cima da baliza adversária, e é para suplicarem por mais um par de minutos que lhes permita atingir objetivos. O que mudou da normalidade para ontem foi que o City estava a ganhar e perdeu. E isso ainda não pode ser critério plasmado nas leis do jogo.
A importância de saber esperar. Fábio Vieira foi um dos jogadores em destaque no título do FC Porto em 2022 e saiu para o Arsenal. Em Londres, num ano inquestionavelmente bom da equipa de Mikel Arteta, jogou pouco. Foi titular 14 vezes, das quais só três na Premier League. De resto, somou presenças nas competições em que os gunners usavam equipas, chamemos-lhes assim, menos apetrechadas, tendo estado de início nas eliminações da Taça de Inglaterra, da Taça da Liga e da Liga Europa. Ontem, na Supertaça, mesmo saltando do banco para render Havertz quando já só faltavam três minutos – mais a tal imensidão de descontos –, Fábio Vieira viu a perseverança recompensada, pois acabou por bater com sucesso o penalti decisivo na vitória do Arsenal sobre o Manchester City. Se não viram, vão ver, que não se encontram por aí muitos penaltis melhores do que aquele. A vê-lo, passou-me pela cabeça a entrevista que Paulo Sérgio deu ao Record de domingo. Hoje de manhã o tema voltou-me à ideia com mais uma entrevista, agora de Tomás Esteves a O Jogo. O lateral, que este ano se desvinculou do FC Porto e seguiu para o Pisa, lamenta apenas a falta de oportunidades no Dragão, que o levou a sucessivos empréstimos. Como se ficar ou sair não dependesse também do jogador. O antigo extremo, mais velho e por isso mais sabedor, explica: “Não soube esperar. [O Miguel Garcia] teve paciência, coisa que eu não tive”. Paulo Sérgio teve uma carreira rica como poucos... em experiências. Jogou na Indonésia, no Brunei. Mas não foi o jogador que podia ter sido. Tomás Esteves ainda vai a tempo.
CR7 e o Sporting. Agitaram-se as sempre conturbadas hostes leoninas nas redes sociais a propósito da apresentação do terceiro equipamento do Sporting, que recorda um de 2003 e não só evoca a inauguração do estádio como tem a marca CR7. Que Cristiano Ronaldo se está nas tintas para o clube e nem sequer veio ainda inaugurar a academia que já leva o seu nome. Que, por mais importante que tenha sido na história do futebol mundial, o capitão da seleção não teve relevância minimamente comparável na vida do Sporting... Ora se à primeira afirmação só o próprio saberá responder e se a segunda é inquestionável, não é uma nem a outra que estão em causa na questão do equipamento. Quando o Sporting – e a Nike e Cristiano Ronaldo – lançam aquela camisola, não estão a evocar o amor do jogador ao clube ou o seu contributo para a causa leonina nestes 20 anos que passaram desde o dia em que ele roubou o palco na inauguração do estádio. Estão a desenvolver uma ação de marketing, a apanhar e a dar boleia uns aos outros para alavancarem crescimento. Nuns casos (Nike e CR7) de receita, noutro (Sporting) também de notoriedade.
Quanto custa um meio-campo? Há por aí malta que não pode ir às compras que é explorada em menos de um piscar de olhos. Olhem o Chelsea, por exemplo. Há oito meses gastou 120 milhões de euros em Enzo Fernández e a gente pensa: “tanto dinheiro por um médio, ele há-de ser capaz de fazer tudo sozinho e de meter a equipa a girar em torno dele”. Quanto muito precisa de um avançado – que não há-de ser Nkunku e que aparentemente em Londres querem que seja Vlahovic – e a equipa estará pronta a carburar. Afinal, ainda falta mais um médio. O Chelsea quer levar Caicedo ao Brighton, que como já vendeu MacAllister ao Liverpool FC, não quer fazer a coisa por menos: “são 120 milhões, se faz favor”. A malta queixa-se do custo da habitação, mas há coisas ainda mais caras. Um meio-campo, em Londres, está mesmo pela hora da morte.