Mourinho e a questão Sérgio Oliveira
Em 18 anos, o Special One veio buscar 14 jogadores ao futebol português, 12 dos quais a Benfica e FC Porto. Pode ser a solução para Sérgio Oliveira. Mas tem sido cada vez mais cauteloso.
Olhar para os negócios que os clubes treinados por José Mourinho no estrangeiro vão fazendo no futebol português pode ser um exercício muito curioso. A possibilidade de saída de Sérgio Oliveira para a AS Roma, aventada pelos jornais de hoje sob o formato de um empréstimo com opção de compra, faz sentido, por encaixar na evolução do “modus operandi” do treinador de Setúbal. É que as últimas três operações de mercado de Mourinho em Portugal já tiveram como alvos jogadores excedentários, no caso do Benfica. E as duas derradeiras já foram feitas por empréstimo com opção de compra (não acionada em ambos os casos, de resto). A ideia que fica é a de que Mourinho não volta as costas a Portugal e a Jorge Mendes, não deixa de dar uma ajuda na resolução de questões complicadas, mas já não põe as mãos no fogo por elas. E faz bem.
Ao todo, desde que saiu para o Chelsea, depois de ter ganho a Liga dos Campeões pelo FC Porto, em 2004, Mourinho veio buscar 14 jogadores ao futebol português, contribuindo para a entrada de quase 250 milhões de euros no ecossistema da nossa Liga. Mas é tão curioso que em todas as janelas de mercado chovam notícias acerca do alegado interesse do clube de Mourinho em jogadores de equipas portuguesas – as fontes andam a trabalhar demais e a credulidade continua em altas... – como que em nenhum ano o Special One tenha mandado tanto dinheiro para Portugal em troca de jogadores como fez na sua época de saída. Logo nesse Verão de 2004, o Chelsea pagou 50 milhões de euros ao FC Porto por Paulo Ferreira e Ricardo Carvalho e mais 15 ao Benfica por Tiago, num total de 65 milhões – fora a cláusula do próprio Mourinho – que nunca mais foi igualado.
Pode conferir esses dados na tabela abaixo:
É normal que os alvos de Mourinho tenham sido fundamentalmente jogadores de Benfica e FC Porto, porque foram as duas equipas que dominaram o futebol português nestes 17 anos – repartiram entre elas os 16 primeiros campeonatos depois da saída do treinador para Londres. Também pode ser visto como normal que Mourinho tenha deixado de apontar às figuras da nossa Liga, que vinha buscar na primeira passagem pelo Chelsea e enquanto esteve no Inter de Moratti ou no endinheirado Real Madrid de Florentino, porque passou a ter patrões mais complicados, como os Glazer no United, ou muito mais renitentes a gastar, como Daniel Levi no Tottenham ou agora Dan Friedkin, na AS Roma. Mas, ainda que a avareza de Levi explique as razões que o levaram a recusar Bruno Fernandes, por exemplo – muito se disse na altura, para insinuar corrupção, que o Tottenham ia pagar mais por Gedson, mas a verdade é que não pagou... –, é possível ver nestas flutuações entre FC Porto, Benfica e de novo FC Porto para onde vão pendendo os pratos da balança de Jorge Mendes, o agente de Mourinho. Depois de um período de aliança com o Benfica – que Luís Filipe Vieira chegou a descrever como uma “parceria” – o super-agente deu um passo atrás com o regresso de Jorge Jesus à Luz e parece estar agora numa posição algo equidistante entre os grandes.
Isso permitiu-lhe ser particularmente ativo na tentativa de resolver o problema que o FC Porto tinha com Corona e Sérgio Oliveira no início da época: Corona estava a entrar no último ano de contrato, a seis meses de poder começar a negociar uma saída a custo zero, enquanto que Sérgio Oliveira renovara em Dezembro, a seis meses do final da ligação. Corona não o fez, mas não deixa de ser relevante que, depois de terem sido colocados na órbita da Fiorentina, nem um nem outro sejam neste momento titulares nos dragões. Se tivesse de adivinhar, diria que a renovação de Sérgio Oliveira veio com uma promessa de saída e que o coração portista do jogador o levou a aceitá-la de forma a não prejudicar o clube. Mas desde o início da época se percebeu que nem ele nem Corona estavam nos planos a médio e longo prazo de Sérgio Conceição. E, se a operação Fiorentina fracassou – Rocco Commisso, o milionário norte-americano que é dono do clube, despediu o treinador Gennaro Gattuso apenas 23 dias depois de o ter contratado, por este insistir nas contratações inflacionadas de Corona, Sérgio Oliveira e Gonçalo Guedes (este ao Valência CF) – surge agora nova possibilidade, para a AS Roma, através de Mourinho.
O treinador português, no entanto, não quer ser o “Gattuso de serviço”. Terá sido também por isso que o seu modo de relacionamento com o futebol português mudou nos últimos anos. Se não tem dinheiro para vir buscar os maiores craques, então até aceita os que sobram aos grandes, mas depois eles também têm de fazer pela vida ou então voltam à casa de partida. Gedson e Vinícius não o fizeram. Sérgio Oliveira tem futebol para isso, mas não será Mourinho a dar-lhe de comer. Quanto muito dá-lhe a cana para ele ir à pesca.
Sérgio Oliveira não merece, esta época, o que lhe estão a fazer. Também não percebo porque Sergio Conceição não aposta mas nele. Será que ficou comprometido para ser "despachado" agora? Será que não quis ir na pré-época e prejudicou-se? Alguém já perguntou a SC sobre este folhetim?
Mas é de salientar que boa parte desses jogadores que veio buscar lhe retribuíram e bem, o valor investido