Jogo de sete pontos e meio
No clássico, o FC Porto joga com dois resultados? Sim, tal como o Sporting há um ano. Mas o empate mantém a corrida em aberto, porque desperdiça o ponto e meio que vale o confronto direto.
É hoje, o jogo do título. O FC Porto, que é líder da Liga, recebe o Sporting, que é o campeão mas está seis pontos atrás dos dragões, seriamente apostados em recuperar o ceptro. Já se sabe que os clássicos da segunda volta entre os dois primeiros são sempre marcantes para a classificação final, se calhar até mais do que a posição relativa entre eles à data dos jogos: em 2019 o Benfica de Lage estava atrás mas montou a recuperação que havia de lhe dar o título em cima de uma vitória no Dragão; em 2020, foi o FC Porto de Conceição, que também estava atrás, a dar asas à superação, ganhando aos encarnados em casa; em 2021, um empate entre FC Porto e Sporting manteve tudo igual na hierarquia e permitiu ao Sporting interromper um jejum de 19 anos. Foi com isso em mente que Sérgio Conceição e Rúben Amorim valorizaram a partida de mais logo. Mas, ao contrário do que disseram, este não é um jogo de seis pontos. O FC Porto-Sporting de hoje vale sete pontos e meio.
Em causa não estão só os três pontos que um ganha e o outro perde ou o “ponto” adicional e não contabilizado na tabela que pode valer a superioridade no confronto direto. Em causa está ainda a vantagem psicológica que a manifestação de superioridade no momento em que os dois estão frente a frente pode valer. Que vale, quase sempre. É por isso que uma vitória do FC Porto hoje quase garante o título aos dragões, que um sucesso dos leões pode muito bem dar-lhes as bases sólidas para iniciarem uma recuperação épica e que um empate, mantendo o favoritismo azul e branco, não vale o título. Diz-se que o FC Porto joga com dois resultados, o que de certa forma até é verdade, porque se empatar continua seis pontos à frente e com menos uma barreira por ultrapassar, mas basta recordarmos o clássico do ano passado para vermos que o empate não resolve: o Sporting entrou no Dragão dez pontos à frente, empatou a zero, continuou a ser o favorito, mas ainda teve de sofrer até garantir o troféu, fruto precisamente dessa incapacidade de acabar com o adversário no momento em que o teve ali, à disposição.
Em finais de Fevereiro de 2021, com apenas 13 jornadas por jogar, o Sporting saiu do Dragão dez pontos à frente do FC Porto. Era uma vantagem segura de uma equipa que, tal como o FC Porto hoje, jogava com dois resultados? Certo. Mas a incapacidade de pôr o pé em cima do pescoço do perseguidor acabou por se notar, como se nota sempre, no que faltava jogar na Liga. Depois de três jogos ganhos pela margem mínima (Santa Clara, CD Tondela e Vitória SC) dois empates seguidos (Moreirense e FC Famalicão) reduziram o avanço leonino para seis pontos e ainda permitiram que se instalasse alguma dúvida. Transportando essa realidade para o ano em curso, com inversão de papéis, um empate mais logo não resolve a questão do título. É verdade que o FC Porto tem uma tradição recente mais ganhadora – e isso também influi no momento em que as equipas cedem ou não à tremedeira – mas ao mesmo tempo tem também uma vantagem que é menor do que a que tinha o Sporting há um ano. E, mesmo com um jogo a menos, que o clássico de 2021 jogou-se à 21ª jornada e o de hoje já corresponde à 22ª, isso pode revelar-se insuficiente.
É também a pensar nisso que um empate não afasta o Sporting. Fica mais difícil, certo, porque no caso de não ganharem hoje também os leões terão desperdiçado a última oportunidade que têm de roubar pontos aos dragões na Liga. Mas não é um jogo de tudo ou nada para a equipa de Rúben Amorim. Não é um jogo do desespero absoluto. Essa falta de vontade de ceder ao desespero viu-se, aliás, na forma como o treinador do Sporting criticou o excesso de risco da equipa no desafio perdido com o SC Braga, depois de o agora portista Galeno ter empatado de penalti. “Quando ariscámos, deixámos espaços para o SC Braga explorar”, disse na altura Amorim. Hoje, tanto Rúben Amorim como Sérgio Conceição darão às suas equipas o mote de que uma vitória é importante, mas que um empate pode ser um mal menor. Não vão jogar para empatar – ninguém joga para empatar... – mas não quererão expor-se de tal maneira que acabem por convidar a derrota a entrar. Se está à espera de um jogo aberto, é altura de se desenganar. Agressivo, sim, com equipas a meter o pé para ganhar cada duelo, de certeza, mas mantendo sempre os equilíbrios.
Ganhando, o FC Porto vai ser campeão. Ganhando, o Sporting volta a dividir o favoritismo com os dragões, que ainda por cima tem em perspetiva uma época mais cheia nas provas europeias – estão entre os favoritos na Liga Europa, coisa que os leões não são na Champions – e por isso podem ceder a alguma dispersão lá mais para a frente. Mas o que os dois querem, acima de tudo, é não perder. Porque é isso que nos diz o acréscimo de responsabilidade de um jogo de sete pontos e meio.
O Porto tem a vantagem dos seis pontos, do momento que vive e da tradição ganhadora, o que não acontecia com o Sporting do ano passado. Pode arriscar mais qualquer coisa, sabendo que mesmo derrotado continuará à frente, embora à distância de uma escorregadela. Por outro lado, o Sporting está mais adulto e mentalmente longe dos anos (paradoxalmente, muito pouco longínquos) em que à primeira dificuldade ou oportunidade espalhava-se de tal forma que hipotecava tudo o que de bom tinha feito e poderia fazer. Não estou à espera de um jogo aberto, mas acredito que haverá golos. Daria favoritismo de 70% ao Porto. Até final, acredito que surgirão mais dificuldades para os dragões com as equipas pior classificadas do que com bragas, vitórias e benficas. Em jogos alegadamente mais equilibrados, o Porto tem espaço para mostrar que é melhor. Mas como de zandinga tenho pouco, também podem ser só bolas ao lado. Mais vale esperar pelos prognósticos do fim. E que se jogue bom futebol para entreter a malta.
Também acho que com o empate não fica nada resolvido o campeonato porque 6 pontos não são assim tão difíceis de perder sobretudo que o Porto tem 3 saídas difíceis ao vitória, Braga e Benfica.