É este o ano, Minho?
Os confrontos europeus de SC Braga e Vitória SC, hoje, não são importantes só para que Portugal possa pontuar no ranking através das provas mais acessíveis. Servirão para se ver onde está o Minho.
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SC Braga e Vitória SC começam hoje a cimeira luso-suíça como favoritos nas eliminatórias contra o Servette e o FC Zurique que podem dar-lhes acesso aos playoffs da Liga Europa e da Liga Conferência, sendo que nunca é demais referir a importância da presença portuguesa nas competições europeias nas quais os pontos são mais baratos. Estes jogos são fundamentais por serem uma espécie de decisão final para ambos – o Vitória, se cair, está fora da Europa, mas se ganhar enfrenta uma última barreira mais fácil antes da fase de grupos; o SC Braga vai ter um playoff do mesmo grau de exigência se passar mas uma escapatória para a Conference praticamente impossível, porque se for eliminado pelos suíços terá pela frente o Chelsea dos milhões. É por isso também que, ante a necessidade de dar respostas, estes são os jogos onde começará a perceber-se se 2024/25 pode ou não ser o ano do Minho, a zona do país que mais clubes mete regularmente na I Liga mas que tem visto as aproximações aos grandes sempre frustradas.
É claro que quando se pensa em aproximações ao topo se pensa sobretudo no SC Braga, que desde o segundo lugar de 2010 conseguiu intrometer-se por mais três vezes entre os grandes, com terceiras posições em 2012, 2020 e 2023, sempre às custas do Sporting. Nesse mesmo período, o Vitória só por uma vez ficou à frente do rival regional (em 2017), mas até têm sido mais as situações em que ele próprio permite a intromissão de equipas estranhas ao quinteto do que aquelas em que acaba na quinta posição. Nos 14 anos em causa, o Vitória SC foi uma vez quarto (em 2017), quatro vezes quinto (2011, 2015, 2019 e 2024) e ficou nas outras nove ocasiões fora do Top 5, o que pode ser visto quase como o desperdício de uma das massas adeptas mais numerosas, fiéis e entusiásticas do nosso futebol. Os 27 pontos que o Vitória SC distou do campeão, o Sporting, este ano, nem são assim tão negativos face ao que tem vindo a ser normal, pois o clube só fez melhor do que isso em 2017, quando acabou a 20 do Benfica. Regra geral, os vitorianos deixam a liderança a 30 ou 40 pontos, um fosso demasiado grande para ser saltado num ano só. E é por isso que a expectativa se coloca mais no lado braguista do Minho, a ver se a equipa confirma a aproximação de 2023, o único campeonato desde o segundo lugar em que não deixou a distância para o campeão atingir os dois dígitos (ficou a nove pontos do Benfica), ou se volta a permitir que a “bebedeira” de um reconhecimento enquanto candidata a inebrie a ponto de a amolecer até aos 22 pontos a que ficou do Sporting em Maio.
A aposta na experiência feita na época passada, com as presenças de Pizzi, Fonte e Moutinho, passou por uma purga, quer-se crer que comandada pela visão de Daniel Sousa, o ambicioso e jovem treinador que chega de Arouca para substituir o sólido mas mal-amado Artur Jorge. O SC Braga de 2024/25 mantém a liderança de Ricardo Horta e João Moutinho, capitalizou nas transferências, através das quais já faturou 50 milhões de euros, valor em Portugal só batido pelo Benfica – e depois da saída de João Neves... – e sublinhou apostas diversas que já vinha fazendo antes. Uma é na formação, na equipa que foi campeã nacional de sub19, que nos traz a curiosidade de poder ver gente como Roger Fernandes ou João Vasconcelos num patamar mais elevado. E a outra é no scouting, que depois de já ter atraído jovens talentos ainda por burilar, como o sueco Joe Mendes e o turco Serdar Saatçi, manteve a ideia com a contratação do uruguaio Thiago Helguera e ainda subiu a fasquia com o que pagou por Bright Arrey-Mbi, um defesa central que é internacional jovem pela Alemanha e que conheceu escolas como as do Chelsea e do Bayern. Haverá ainda uma dimensão excessivamente mercantilista na gestão do plantel, que depois de já ter vendido Álvaro Djaló e Abel Ruiz para o futebol espanhol e de ter abdicado de recuperar Rodrigo Gomes, que seguiu diretamente do Estoril para o Wolverhampton sem voltar à casa de partida, o presidente Salvador parece inclinado a deixar que o dossier-Banza se resolva com uma saída, mesmo quando é evidente que o mercado não paga os números que ele terá em mente.
Sim, há novas soluções goleadoras no plantel do SC Braga, como o marroquino El Ouazzani (12 golos na melhor época em França, que foi a última, na Ligue 2) ou o espanhol Fernández (20 golos no terceiro escalão espanhol, de onde há um salto considerável a dar até se chegar à Liga Portuguesa e às competições europeias), mas parece demasiado arriscado abdicar de um avançado como Banza, mesmo que seja ele quem quer sair. Banza fez 23 dos 106 golos do SC Braga em 2023/24 (21,6 por cento). É substituível? Claro que sim. Mas não há-de ser o que mais se aconselha fazer quando o plantel já perdeu Djaló (16 golos), Abel Ruiz (8 golos), Al Musrati e Pizzi (quatro cada um). Saíndo Banza, Daniel Sousa perde 51 por cento dos golos da época anterior. Claro que pode defender-se que, estando outros em campo, acabarão por ser esses a fazer os golos, mas os números geralmente não se torcem de uma maneira assim tão flagrante. E essa tem de ser uma preocupação também em Guimarães, onde depois de já ter visto o final de época prejudicado pela necessidade de fazer dinheiro com a venda de André Silva, o Vitória SC validou agora a saída de Jota Silva. Entre o brasileiro (13) e o português (15) estavam 28 dos 68 golos (41 por cento) que a equipa fez na última temporada, o que terá motivado a resposta nas contratações de Chucho Ramírez e Gustavo Silva, que com 20 e 15 golos, respetivamente, foram os dois melhores marcadores do Nacional – e autores de 42 por cento dos tentos feitos pela equipa de Tiago Margarido na subida de divisão.
Com eles, com Kaio César e com a subida de Mangas, jogador de boa capacidade de definição, para a linha da frente, Rui Borges tentará dar ao Vitória uma constância que o clube não teve nos últimos anos, mas é evidente que muito disso passará pelo sucesso nas duas rondas que ainda tem a superar na UEFA antes de chegar à Liga Conferência. Porque no caso das equipas do Minho se reflete um pouco aquilo que é a realidade da luta portuguesa no ranking europeu neste ano em que o fim das despromoções na conclusão da fase de grupos levará a uma maior verdade na distribuição dos pontos. Tal como Portugal não pode continuar a desperdiçar esta possibilidade de fazer pontos onde eles são mais acessíveis, o SC Braga e o Vitória SC não têm o direito a ser menos competitivos do que mandam o seu estatuto e, mais, a sua realidade do dia-a-dia.