Dois homens e a estrutura
Luis Díaz e Paulinho estiveram em destaque nos resultados de FC Porto e Sporting ontem. Um dá brilho à estrutura coletiva e o outro permite que essa estrutura brilhe. É isso mas não só.
Luis Díaz e Paulinho voltaram a estar em destaque ontem, nos jogos em que o FC Porto e o Sporting se mantiveram donos do destino na Liga dos Campeões, e a tentação pode ser a de achar que num caso é a equipa a suportar o brilho do jogador no outro o jogador a potenciar o jogo da equipa. É assim, porque é normal que seja, mas é também o contrário. Um jogador só funciona dentro do plano geral da equipa. E tanto Luis Díaz como Paulinho são parte ativa no desenho que Sérgio Conceição e Rúben Amorim fizeram.
Díaz tem feito golos em partidas de perfil elevado, beneficiando de uma equipa cuja estrutura é forte e lhe permite pegar no jogo em zonas de criação como se o jogo só começasse ali, mas é o perfume do seu futebol gingão que geralmente permite que o FC Porto invista tanto na organização estrutural sem perder capacidade para magoar na frente. Paulinho, que não tem sido tão goleador como se esperava, é visto como o dínamo que faz mexer o ataque do Sporting, pelas movimentações e tabelas, mas também só funciona e se mantém operacional porque os outros elementos do ataque depois são capazes de resolver. Nenhum dos dois seria o que é sem o contexto em que estão inseridos.
A Copa América, jogada no defeso entre a época anterior e a atual, já dera uma ideia do que aí vinha para Díaz. Apesar da expulsão frente à Venezuela, o extremo portista marcou depois quatro golos nos quatro jogos que ainda fez até à medalha de bronze da Colômbia. Tem, ao todo, sete golos em 29 internacionalizações, sendo que seis desses sete golos apareceram nos últimos cinco meses. Há um novo Díaz? É possível. E isso vê-se, por exemplo, na subida consolidada de rendimento desde o defeso, bem demonstrada no gráfico abaixo, onde pode ver as médias mensais que o extremo tem tido na pontuação dada jogo a jogo pela aplicação estatística Sofascore:
O colombiano foi sempre no FC Porto aquilo que a dada altura Brahimi deixou de ser, primeiro porque já estava a pensar na vida longe do Dragão e depois porque foi mesmo embora: o responsável por carregar a bola e criar desequilíbrios com ela nos pés no plano coletivo. O FC Porto funciona com dois avançados – e está a mudar a lógica do comportamento destes, pois sem os ataques de Marega à profundidade agora apela mais às desmarcações de apoio para o espaço entrelinhas de Taremi – um ala direito que se destaca pela forma como se junta aos dois médios e solicita os atacantes em passes de rotura (Otávio) e um ala esquerdo que leva a bola em dribles e surge em zonas de finalização. O que se passou foi que Díaz, que é esse ala esquerdo, adicionou ao manancial técnico a confiança na finalização que já mostrara nos 14 golos do ano de estreia ou em jogos de perfil mais elevado no ano passado – tinha sido ele a marcar no Ettihad ao Manchester City, por exemplo. Díaz já leva nove golos pelo FC Porto esta época, apenas a dois do total de 2020/21, e alguns desses golos surgiram em partidas de enorme visibilidade, como os empates em Alvalade ou Milão e a vitória caseira sobre o Milan. É já o principal candidato que o clube tem para uma saída milionária no verão.
Diferente é o caso de Paulinho no Sporting. O ponta-de-lança tem falhado onde se espera que um jogador da sua posição se destaque, que é no volume de golos. No entanto, nem Rúben Amorim abdica dele nem o público leonino deixa de o acarinhar – ainda ontem saiu debaixo de forte ovação, quando o treinador, com 4-0, achou que podia dar-lhe meia-hora de repouso no banco. É verdade que ontem Paulinho até marcou um golaço e meteu outra bola no poste, o que podia ajudar a tornar a sua exibição mais fácil de engolir para quem só olha para essas coisas mais palpáveis, mas a verdade é que ele foi igual ao que sempre tem sido, até na forma como mantém em linha as estatísticas de remates desviados – ontem só enquadrou na baliza dois de cinco remates, o que lhe grosso-modo lhe mantém a média da época, que antes dos últimos dois jogos (Vitória SC e Besiktas) andava nos 33 por cento. Pode ler mais sobre o tema aqui.
E se por esta altura está a perguntar como é que uma equipa quer ganhar coisas se tem um avançado que em cada três remates mete dois para fora, a resposta está no plano de Rúben Amorim, que esta época só abdicou de Paulinho nas pontas finais de alguns jogos, seja porque é altura de meter mais um médio, para defender mais atrás, ou porque os jogos já estão ganhos (como foi o caso ontem) ou perdidos (como na reta final da partida com o Ajax). Paulinho é o elo que liga o ataque leonino pela movimentação inteligente. Por vezes nem tem de tocar na bola para ser relevante, contribuindo pela forma como atrai os defesas e deixa o espaço aberto para as entradas sem bola de Sarabia ou Pedro Gonçalves. Se Díaz dá brilho à organização estrutural do FC Porto, Paulinho é em boa parte a base da organização estrutural do Sporting, permitindo o brilho de outros que jogam ao seu lado.
Muitas vezes vejo as críticas que apontam a Paulinho e percebo algumas delas.
A principal tem a ver com a finalização e aproveitamento de oportunidades de golo,que não é propriamente positivo.No entanto compensa isso com as suas movimentações e inteligência para fazer funcionar a dinâmica ofensiva do Sporting.
Quanto a Luiz Diaz,é o principal desiquilibrador do FC Porto que tem sido cada vez mais decisivo
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Felizmente e, antes desde post, eu vi assim o Paulinho do meu Sporting CP. Fiz vários comentários a defender ele, isto porque, eu via e continuo a ver que apesar dos falhanços dele, ele é o cara que tem as movimentações certa que leva outros jogadores do SCP fazerem golos... Agora do FC Porto eu não vou falar muito. Só tenho a dizer que, a equipe de Recursos Humanos do FC Porto é equiparada a equipe de Recursos Humanos do Bayern de Munique. Eles não precisam jogadores com expressão, ambas equipas são as que dão expressões nos jogadores que compram. Só eles é quem conseguem ver que esse ou aquele jogador pode vir a brilhar na estrutura deles. E o Luís Diaz é outro caso.