De volta aos carris
O Benfica fez nos Açores o primeiro jogo verdadeiramente impositivo desde o regresso da competição. Voltou a encarrilar, é campeão de Inverno, mas ainda tem muito trabalho a fazer.
A vitória do Benfica contra o Santa Clara, nos Açores, foi uma espécie de reentrada nos carris que a equipa parecia ter perdido de vista durante a interrupção da Liga para que se jogasse o Mundial. A equipa de Roger Schmidt acabou a primeira volta na frente, voltou a mostrar um excelente e omnipresente Enzo Fernández, quando ainda falta mais de uma semana para fechar o mercado, e até teve direito a um golo de Gonçalo Guedes, a deixar sinais claros de que aproveitou o mês de Janeiro para ficar mais forte – ao invés de mais fraco como costuma acontecer aos nossos clubes de maior sucesso nestas alturas. Apesar de mais um contributo anónimo de Draxler, que insiste em desbaratar oportunidades de convencer o treinador da sua utilidade e deverá perder espaço na segunda metade da época, o Benfica fez um bom jogo, o primeiro jogo verdadeiramente impositivo desde o regresso da competição, num dia em que não tinha em campo o capitão, Otamendi, que estava suspenso e com ele podia ter levado aquele ímpeto de ganhar que costuma dar à equipa. Acaba a primeira volta com 44 pontos, o que até pode parecer muito mas são só mais quatro do que tinha feito na época passada, durante a qual se desfez de Jorge Jesus e o trocou por Nélson Veríssimo. Os 44 pontos correspondem, ainda assim, a menos um do que os feitos pelo Sporting na primeira metade de 2020/21 e menos três do que os somados pelo FC Porto nos primeiros 17 jogos da época passada. O Benfica foi, com clareza, a melhor equipa da primeira volta, sensação que se avoluma pelos bons resultados obtidos na Liga dos Campeões, onde eliminou a Juventus e fez dois jogos sem perder com o Paris Saint-Germain, mas o trabalho está longe de estar feito. Os encarnados precisam mesmo que as adições de Guedes, Tengstedt e Schjelderup sejam o lenitivo para que a segunda metade da época seja pelo menos tão boa, porque menos pode não ser suficiente.
Paulinho, o injustiçado. O foco está todo nele, em Paulinho, porque se convencionou que quem faz os golos é o avançado-centro, o “nove”, e ele até teve um par de ocasiões para ser feliz no desafio com o FC Vizela. Numa viu a bola bater na cabeça do guarda-redes, noutra desviou tanto o remate que ele foi esbarrar no poste. A verdade é que, com seis golos na Taça da Liga, jogada num momento em que ele parecia renascer, Paulinho ainda só tem dois tentos no campeonato e isso é assustador para quem é o avançado-centro do Sporting. Das bancadas nascem ondas de protesto: “é preciso arranjar outro nove”. Mas Paulinho está longe de ser o maior problema dos leões. Aliás, naquela frente de ataque, onde lhe cabe fazer movimentos de apoio frequentes, ainda é quem mais corre em frente. A má época do Sporting – menos 12 pontos do que na primeira volta do ano passado e menos 13 do que em igual período no ano do título – não se explica com um ponta-de-lança que não faz golos. Porque nesses dois campeonatos também o não tinha. Explica-se com a mudança de forma de jogar assumida pelo tal treinador que os adeptos acusam de jogar sempre da mesma forma, só porque olham para os campos publicados nos jornais no dia seguinte e lá veem o mesmo 3x4x3 de sempre, e com a desorganização defensiva que ela causa numa equipa que se baseava muito mais em transição e que agora busca mais a posse, expondo-se mais no momento da perda. Explica-se com a intermitência de Edwards, com a falta de intensidade de Trincão e o recuo de Pedro Gonçalves para o meio-campo. E explica-se com a exiguidade do plantel, que é programática e que, quando corre bem, deixa os mesmos adeptos que lamentam e consideram inaceitável que o SC Braga tenha mais opções do que os leões para várias posições a gabar-se de que o clube deles tem “um projeto” onde há espaço para a formação.
Boas sensações. A vitória do SC Braga em Paços de Ferreira foi conseguida à força, com um golo no último minuto dos descontos marcado pelo último dos três pontas-de-lança que Artur Jorge meteu no relvado, o francês Banza. A melhor primeira volta da história do clube, com 40 pontos, consumada num dia em que também não tinha o influente capitão, Ricardo Horta, nasceu da força conseguida pela soma da rotatividade e da energia de Vitinha à inteligência e à capacidade de ligação de Abel Ruiz e ao repentismo de Banza. Os três pontos, obtidos num momento em que já quase toda a gente descria, e o modo como todo o banco saltou de imediato para o relvado, para os celebrar, permitem acreditar num SC Braga à altura para a segunda metade da época. E o próximo jogo, em Alvalade contra o Sporting, será fulcral para confirmar ou apagar estas boas sensações. Ante um adversário que os goleou na Taça da Liga e que por três vezes esteve em vantagem na Pedreira, na ronda inaugural do campeonato, os minhotos terão a oportunidade de se afirmarem como principal adversário do Benfica na luta pelo título. Com uma vantagem: podem começar já a preparar a estratégia, enquanto que o adversário terá a Final Four da Taça da Liga com que se ralar pelo meio. Daqui até final, se as coisas lhe forem correndo bem, será sempre assim: todos os jogos do SC Braga serão de tudo ou nada.