Antevisão de mercado (I): Sporting
A prova de crescimento do projeto do Sporting chegará, ou não, no Verão, quando o clube lidar com a cobiça do mercado e a eventual vontade de saída de jogadores que o sucesso desportivo traz sempre.
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O Verão de 2024 não promete agitação extraordinária no mercado para os maiores clubes portugueses, que na maior parte dos casos chegaram a uma invejável situação de evolução na continuidade, sem precisarem de pôr tudo em causa. A exceção pode ser o FC Porto, que precisa de recuperar 18 pontos para o líder – e nem o Sporting do quarto lugar ficou tão longe do Benfica campeão em 2023. A agitação que se verifica no Benfica sempre que a expectativa dá lugar à desilusão acarreta o risco de uma mudança mais descerebrada, seja por desespero ou mera vontade de agradar às massas, mas o que falta é acertar detalhes. Nos próximos dias, à medida que a atualidade mo for permitindo, vou antever o mercado dos quatro candidatos ao título. Começo com o Sporting, que parece ser aquele que tem tudo mais definido – e não há-de ser só por se ter sagrado campeão nacional, mas sobretudo por ter mantido o treinador e este ter uma ideia absolutamente clara do que pretende, que já não o levou a uma revolução quando acabou a Liga anterior em quarto lugar.
É verdade que, no mercado do Verão passado, Amorim operou uma mudança enorme no seu modelo, ao abrir espaço para um tipo diferente de ponta-de-lança, acolhendo Gyökeres, um jogador mais físico, mais possante na busca da largura e da profundidade, que acabou por ser decisivo no campeonato. Mas manteve o grosso do grupo e limitou-se a afinar a ideia. Ao dia de hoje, poucos saberão o que pensa ele fazer para 2024/25. O mais que se lhe ouviu, após a derrota na final da Taça de Portugal, foi que a equipa tem de passar a usar dois alas mais ofensivos em simultâneo, em vez de alternar um capaz de fechar atrás com outro que seja sobretudo mais um atacante – e isso pode mexer com o perfil dos alas do plantel. De qualquer modo, antever o plantel do Sporting para a próxima época sem esse golpe de asa acaba por ser um exercício que só não é terrivelmente simples porque falta o ponto de partida, isto é, saber quem vai sair. Porque todos precisarão de vender e, mesmo gastando menos em salários do que Benfica e FC Porto, o Sporting não é exceção. A escolha dos jogadores a libertar neste Verão dependerá sempre de uma série de fatores, que vão da avaliação daqueles que podem permitir mais-valias à constatação dos que já não terão nada para dar no plano desportivo, com passagem pela gestão da vontade dos próprios futebolistas.
No Sporting, o que menos problemas causaria seria certamente a saída de Diomande, jogador de físico imponente, que encaixa como uma luva na Premier League, e para cuja vaga (central na direita) Amorim não só já tem alternativas em casa (Quaresma e St. Juste) como parece ter acertada a entrada do belga Debast, jogador forte em posse, uma cópia de Inácio à direita. Em condições normais, a venda de Diomande por uns 60 milhões – e a questão será conseguir esse valor, já aceitável face a uma cláusula de 80... – resolveria o orçamento, num ano em que vão chegar mais oito milhões de Fatawu e haverá a injeção da Liga dos Campeões. Ora, sendo assim, os leões fechariam a loja no que toca a saídas? Preferencialmente, sim. Não creio que alguém bata os 100 milhões da cláusula de rescisão de Gyökeres, porque um ano de altíssimo nível, ainda por cima sem Champions, só convence os grandes gastadores se se tratar de um jogador muito jovem e de elevadíssimo potencial de crescimento – e o sueco já vai fazer 26 anos – ou de um jogador de pedigree, com mais experiências em clubes e Ligas de topo – coisa que ele também não tem. Portanto, a minha convicção é a de que Gyökeres só sairá se o Sporting aceitar que ele saia. No caso dele, como no de Hjulmand, outro tiro certo no último mercado, que é um ano mais novo, trata-se sobretudo de os manter felizes e de fazer planos a médio prazo para uma carreira que os dois dificilmente quererão ver extinguir-se em Portugal. E, sim, isso pode implicar até ter de vender mais tarde por menos dinheiro do que eles valeriam agora, mas com a possibilidade de deles retirar mais um par de anos de rendimento desportivo. Esse, convém recordar, é o objetivo – não se vive para vender, vende-se para viver.
Há depois, a questão dos jogadores com serviços prestados. Apesar de ser esquerdino e mais forte na construção do que Diomande, Gonçalo Inácio é menos físico – o que conta para os ingleses – e só um Europeu de nível superlativo levaria um clube a pagar os 60 milhões da sua cláusula. A questão é que Inácio é bicampeão. Da equipa de 2021, com potencial de mercado, já só sobram ele e Pedro Gonçalves. E muito do que vai acontecer se resume, portanto, a convencer os jogadores que possam chamar mais a atenção do mercado – e os seus agentes e familiares próximos, o que por vezes é muito mais difícil – a ficar, quando surgirem propostas que eles julguem interessantes, mas que estejam abaixo da cláusula de rescisão. Seria bom para o Sporting manter Inácio, como seria bom manter Pedro Gonçalves e até Paulinho, mas é possível que lhes tenha sido prometida a possibilidade de saírem para uma Liga maior (no caso dos dois mais jovens) ou de fazer um grande contrato (no caso do avançado). E, se assim for, também as suas substituições passariam a ser necessárias, num plantel que, de resto, de poucos ajustes precisaria. A ponto de parecer um luxo excessivo o gasto de um valor a rondar os 15 milhões de euros por um ponta-de-lança como o grego Ioannidis, quando se sabe que Gyökeres fará sempre 90 por cento dos minutos da época e não são muitas as situações em que os leões avançam com dois pontas-de-lança em simultâneo, ainda por cima dois homens de perfil tão semelhante. As grandes necessidades do plantel são, ao dia de hoje, um guarda-redes de topo – aliás, já precisava de um no Verão passado e mesmo assim acabou campeão –, um médio capaz de garantir mais rotatividade no setor, um atacante destro, que venha fazer concorrência a Pedro Gonçalves na esquerda, e um ala esquerdo que complete o quadro de eventuais ocupantes da posição.
Mesmo que saia um central além de Neto, para os três lugares à frente desse guarda-redes que há-de chegar, e que tem de ser forte nas decisões e a jogar com os pés, haverá sempre alternativas. Há Quaresma, que renovou recentemente, St. Juste, ainda à espera da época de afirmação sem lesões, Debast (se se confirmar a sua entrada), Coates, Inácio (ou Diomande) e Reis. Se saírem dois, os leões já precisarão de mais uma alternativa, que dificilmente será, ao dia de hoje, Pontelo ou Muniz, sempre mais enquadráveis no projeto de subida da equipa B à II Liga. As alas poderão eventualmente ganhar qualidade, mas ainda não se sabe o que vale Fresneda, que competirá com Catamo pela direita, remetendo Esgaio para a condição de “jogador de plantel”, enquanto que do outro lado caberá um jogador capaz de discutir o lugar com Nuno Santos, sobretudo se ele for mais completo nos momentos defensivos. O meio-campo verá o regresso de Mateus Fernandes, vindo de um ano excelente no Estoril, a deixá-lo em condições de entrar na rotação com Hjulmand, Morita e Bragança. São quatro para dois lugares, talvez um risco, mas se num ano com Taça de Ásia em Janeiro o Sporting entrou na Liga com três, esta ainda é a melhor maneira de evitar descontentamentos e estagnações. Fica difícil manter Koindredi, como complicado será receber de volta Essugo, Alexandropoulos ou Tanlongo, até para manter aberta a via de afirmação de jogadores vindos da B – coisa que eles também já não vão certamente voltar a ser. Por fim, na frente, há Trincão e Edwards para a direita – e o inglês, ao perder a vaga no onze, tornou a hipótese de sair menos atrativa para o clube –, há Gyökeres e Paulinho para o meio, mas falta um destro capaz de fazer sombra a Pedro Gonçalves na esquerda. Quenda, a aparecer à direita, será sempre no contexto de quem vem da B, restando perceber se é possível fazer isso com Afonso Moreira, Mamede, Nel ou Rodrigo Ribeiro, que jogou 15 minutos em cinco meses de empréstimo ao Nottingham Forest, não dando nota de estar preparado para esse nível de exigência.
Seja como for, no Sporting, este tem tudo para ser um mercado tranquilo, no qual a tarefa mais importante não é a definição de perfis ou até a identificação de alvos, mas sobretudo a de conseguir lidar internamente com o sucesso e focar o grosso do plantel na nova época com as mesmas cores. E isso nem sempre é mais fácil.
PS - A antevisão do mercado dos candidatos ao título vai continuar nos próximos dias neste espaço, à medida que a atualidade o for permitindo. O próximo capítulo abarcará o Benfica.
O Sporting deve manter a ideia do plantel com dois jogadores por posição, o número certo de jogadores para um plantel, o plantel não é curto, ao contrário do que se diz, porque isso depende da qualidade e não da quantidade. O plantel não tem de ter 28 jogadores para não ser curto, isso até é demais.
Concordo com a necessidade de um guarda-redes e tem de ser um tiro certeiro como Gyokeres, um guarda-redes de qualidade indiscutível, sem medo de gastar um bom valor, não é ir ao Vasco da Gama como se chegou a falar.
O médio, se fica Mateus Fernandes, não é necessário, ficam 4 e é perfeito.
Concordo com o avançado destro, mas deixo uma questão. Amorim por mais que uma vez disse que Mateus Fernandes é parecido com Pedro Gonçalves, será que veremos Mateus Fernandes a ser trabalhado para ser a alternativa no ataque ao Pedro Gonçalves? Ou a comparação não chega a esse ponto? Até porque da última vez já disse que Mateus tinha algo de Pedro Gonçalves e de Matheus Nunes.
Nas alas, depende se Amorim vai, finalmente, assumir uma época com dois alas mais ofensivos mesmo, ou se mantém a mesma ideia que usou ainda esta época. É que se a resposta for sim, vai mudar, então precisa de um ala esquerdo e Fresneda perde o seu lugar no plantel. Se a resposta for não, então não precisa de mais nenhum ala. Nuno Santos é provavelmente o melhor ala esquerdo português da actualidade, porque muito que o desvalorizem, é um jogador completo que defende bem, ataca ainda melhor e até marca golos e ninguém me convence que não seja capaz de jogar a lateral esquerdo, como o fazia Fábio Coentrão, que também era extremo de formação. Seja como for, eu emprestava Fresneda para jogar e evoluir, quando jogou estava muito verde e a lesão tirou grande parte da época, assim como Afonso Moreira que desiludiu no empréstimo.
Em resumo, o Sporting precisa apenas do guarda-redes (um Gyokeres da baliza) e de um avançado destro, na minha opinião, salvo mudança de filosofia nas alas.