8 Comentários
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Avatar de Antonio Dias

Olá António,

sou seu leitor e ouvinte há bastante tempo, se bem que raramente comente. Gosto muito de o ouvir no meu leitor de podcasts, prezo a forma como valoriza e analisa o futebol. Dantes ouvia mais episódios, e este parece-me um local apropriado para deixar algum feedback e explicar porque o ouço menos (também por falta de disponibilidade) e deixar algumas recomendações:

1- Há não muito tempo cada episódio durava 30, 35 minutos, excepcionalmente mais de 40. Agora regularmente duram mais de 50 minutos, quase uma hora. Não seria um problema se fosse para o ouvir falar sobre a actualidade, mas muito desse tempo é dedicado a pôr a casa em ordem e a interagir com um grupo restricto da sua audiência, em termos que na maioria das vezes não fazem avançar a discussão. Aliás, quando ainda estava no FB notava-lhe uma tendência para dar demasiada atenção aos "maus alunos", sejam os que deliberadamente interpretam mal, seja por estarem distraídos, ou terem o dedo engatilhado. Acho que um pouco disso é importante, também para reforçar a identificação da audiência com o Futebol de Verdade, mas há um equilíbrio que a meu ver, é regularmente ultrapassado e muito pouco valor adiciona para os "bons alunos".

2 - Outra coisa que consome muito tempo é o "FdV challenge". Não me refiro às perguntas, que são interessantes, mas à descrição do desafio. Julgo que foi há uma semana, no 25 Abril, tive que saltar quase para o minuto 10 para ter futebol, precisamente as perguntas dos leitores.

Este desafio, nos moldes em que está concebido, é excelente se o seu objetivo é interagir com um grupo de 6-10 ouvintes e certificar-se que apenas 2-4 estarão em condições de vencer após 1-2 semanas. Para os restantes é desmotivante pois sabem que não podem competir com ouvintes mais motivados que terão a pergunta engatilhada no momento em que o YT lhes der o tiro de partida. Como alguém que em tempos escreveu uma tese de mestrado sobre o uso de elementos de jogos para engajamento, sugeria-lhe que decidisse quais as acções mais importantes que gostaria que os seus ouvintes tomassem e "desenhasse" o desafio com esses objectivos em mente. Por exemplo, se o objectivo do desafio fossem estes:

- obter perguntas interessantes e relevantes

- motivar os seus ouvintes a participar e ter as suas perguntas respondidas

- baixar a fasquia para participar no desafio, a quem chega tarde, tem uma semana mais apertada.

- mobilizar o maior numero de leitores

Nesse caso poderia desenhar uma competição em que atribuia um ponto por cada pergunta submetida antes do inicio do programa e os leitores precisariam de um minimo de 5 pontos durante todo o mes (vá lá 6, isto é só um exemplo)- e em 3 diferentes semanas, com um sorteio final entre todos os que se qualificassem. E as perguntas lidas seriam as que o António escolhesse como mais interessantes (talvez sempre a primeira para fomentar alguma competição). Parece-me claro que seria mais importante motivar os leitores a participar para contribuir (e ouvir a sua pergunta lida em directo, ego ego ego :) ) do que para ganhar uma competição.

3. Em tempos avalizei a possibilidade de me tornar subscritor premium, mas não consegui justificar para mim próprio a decisão, dado que não tenho disponibilidade para ler muito do que produz. Uma das coisas que me diminuiu o interesse foi, surpreendentemente, o programa VIP que faz todos os meses e que na altura o António publicitava quase sempre, sobretudo com o aproximar da data. Pode parecer estranho, mas para quem não tem interesse em participar, esta oferta pode diminuir o valor do Premium, já que me faria sentir que estava a pagar por algo que não usava. Sei perfeitamente que não é isso que o António pretende, mas nestas coisas o que conta é o que se passa na cabeça de quem está do lado de cá. Não lhe sugiro que termine com o programa, mas talvez encontre uma forma de também "criar valor" para estas pessoas que não têm interesse em participar em directo. Acho que algo já mudou, o enfâse que dá no programa é agora menor, mas como deve calcular pelo tamanho deste email estes comentários meus não nasceram ontem.

4 - Com o decorrer dos anos noto que muda frequentemente de url e de plataforma. Algo que lhe sugira que faça é usar o seu própio endereço sempre que possível. Calculo que o substack lhe cobre para usar uma url própria, recomendo-lhe que no futuro, na medida do possível, use redireccionamentos, eg. tadeia.com/substack - desta forma a url estará sempre sobre o seu controlo.

Tanta coisa e dizia-lhe eu que os podcasts são longos :) Espero que algum possa ser útil.

Um abraço desde Helsínquia.

/António

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Avatar de António Tadeia

Olá António.

Em primeiro lugar, deixe-me dizer-lhe que valorizo bastante o seu feedback.

Em relação aos pontos 1 e 2, recomendo que preste atenção à edição de hoje do FDV. O programa vai passar a ter religiosamente meia-hora e o FDV Challenge mudou neste início de mês de formato, passando a valorizar as melhores perguntas.

Quanto ao ponto 3, já lhe respondi na sexta-feira. A ideia do FDV VIP não resultou, exatamente porque muitos de vós não querem participar. Achei que ia ser diferente. Enganei-me. Paciência. Gostei das conversas que mantive com os poucos que quiseram cá vir, alguns com regularidade, mas começavam a ser sempre as mesmas caras - e cada vez menos. Terei de puxar pela cabeça para encontrar outras formas de recompensar quem me apoia - se bem que uma delas é precisamente a garantia de que essa é a única forma de eu continuar a produzir, coisa que deixará de suceder se me vir forçado a mudar de vida e de atividade.

O ponto 4 merece uma explicação mais detalhada. Saí dos jornais em 2014, quando fui demitido da direção do Record. Desde então, já lá vão oito anos, não consegui trabalhar em mais nenhum jornal, o que ou é sinal da minha decadência ou da decadência dos jornais. Como tinha milhares de seguidores e precisava (preciso...) de trabalhar, comecei a estudar o fenómeno dos "individual media", que florescia nos EUA, e fundei o antoniotadeia.com em 2015, em parceria com a Clever Advertising. Em 2017, a Clever quis ir mais além e fundámos o bancada.pt, onde percebi que não conseguia corresponder ao buzz de clickbait e polémica estéril que as redes sociais exigem para tornar um projeto um sucesso. O projeto mudou então de âmago e eu segui a minha vida. Voltei ao antoniotadeia.com, em 2019, desta vez com a Braver Media - porque sou jornalista, não sou "comercial" e não sei nem posso andar a angariar publicidade, para o que preciso de um parceiro.

Sucede que ao fim de dois anos o site não tinha tração em escala suscetível de justificar o investimento que tanto a Braver como eu (em tempo) estávamos a fazer. Em 2021 sentamo-nos e, como o site nem 100 euros por mês gerava em receita, tínhamos de mudar de caminho. Eu estava (e estou) convencido de que um projeto como o meu só sobreviverá com utilizadores-pagadores, porque não ando aqui a estimular as tais polémicas ou os clickbaits de que se faz a grande escala. A Braver não quis seguir esse caminho, achou que nunca as pessoas iam pagar para ler jornalismo, razão pela qual me vi com a criança nas mãos.

Aqui chegado, em Outubro de 2021, das duas uma: ou modificava o site para o habilitar a receber pagamentos, o que pressupunha investimento inicial em tecnologia e ainda assim elevados custos de manutenção anual, ou aderia a uma das plataformas já existentes para o efeito (Medium, Substack...) Ou desistia, pura e simplesmente, e ia ver se havia vaga nos departamentos de propaganda dos clubes, que é coisa que até aqui me recusei sempre a fazer.

Optei pela segunda hipótese e não foi por uma questão económica. Foi mesmo para não ter "chatice" associada. Sim, para acolher os meus textos, o Substack cobra 10 por cento de cada subscrição (e cobrará mais ainda para me dar uma url personalizada, coisa que o vosso retorno ainda está longe de justificar). A Stripe, que é a plataforma de pagamentos associada, também leva uma fatia do que os subscritores Premium pagam, para transferir o dinheiro. O Estado leva uma talhada muito maior, tanto em IVA (que é subtraído ao valor pago por vós) como em IRC, porque tudo o que é aqui pago gera uma fatura. Feitas as contas, por cada cinco dólares que os subscritores pagam, recebo uns 2,50.

Sete meses depois de iniciar este trajeto, estou muito longe de conseguir tirar daqui um salário mínimo - quanto mais um salário digno. Mas sei que este é um caminho de insistência. E sei que se não desistir estarei a facilitar a vida aos que virão depois de mim, porque o que é fundamental neste momento é convencer as pessoas de que jornalismo é trabalho e que todo o trabalho deve ser pago. Enquanto puder, travarei essa luta.

Mais uma vez obrigado pelo feedback.

Um abraço!

AT

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Avatar de Antonio Dias

Obrigado António pela longa explicação. Eu de facto tinha algumas destas ideias a maturar há bastante tempo, tivesse eu passado algum tempo a ouvir os episódios da semana passada e teria poupado tempo a martelar no teclado ;)

Em relação ao ponto 4, eu referia-me a algo tão simples como um redireccionamento, ou seja quem clicasse no "antoniotadeia . pt / substack" era automaticamente redireccionado para aqui, permitindo-lhe assim algum controlo no futuro sobre essa página. De qualquer forma o trafego daí gerado seria sempre marginal.

Um abraço!

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Avatar de Hugo Silva

Creio que um FDV com 45 minutos estaria de bom tamanho. Daria tempo para a imprescindível divulgação dos diversos projetos, e isso é fundamental para garantir a sua viabilidade por muito que possa parecer despiciendo para quem ouve todos os dias, e ainda para desenvolver a análise ao futebol sem dar a sensação de "corrida" de um programa de meia hora. Em 30 minutos também se perderá alguma interatividade que torna o conteúdo ainda mais interessante. Mais do que 45 minutos também será demais, mesmo para quem o faz. Mas 45 minutos parece-me bem. Sendo que esta opinião não se baseia em qualquer ciência que não a minha subjetividade e gosto. Sendo espectador/ouvinte diário(confesso que nem dou pelo tempo a passar, por isso até nem desgosto dos programas mais longos) , faço votos que seja possível manter o projeto por muito tempo. E que as pessoas apoiem. Abraço a todos.

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Avatar de Paulo Ribeiro

Foi precisamente por toda esta explicação que tomei consciência que deveria começar a pagar pelo seu trabalho. Não quero ficar o FDV, sem os artigos, sem uma opinião verdadeiramente isenta. Continuação de excelente trabalho!

Ps: acho que encaixaria que nem uma luva na equipa de comentadores do canal 11

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Avatar de Hugo Silva

Ancelotti será o treinador mais subestimado da atualidade. Não tem a personalidade vincada e polémica de Mourinho, a aura de pop star de Guardiola ou Klopp, mas os resultados falam por si. Porque ele próprio não precisa de ser estridente para somar êxitos. É certo que também passou boa parte da carreira em projetos com potencial vencedor, mas teve a arte de concretizar esse potencial. O que não é pouco. Já houve quem conseguisse perder o campeonato de França com o PSG...

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Avatar de André Oliveira

Quem me dera te lo no meu Benfica ! Dos melhores que existem nos dias de hoje , grande treinador com o qual me identifico bastante . Sem grandes alaridos e com pouca imprensa

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Avatar de João Lopes

Eu diria que também fez a sua escola quando se vê o tipo de treinador que Zidane também acabou por se tornar, um pouco com as mesmas características.

Treinadores conciliadores, capazes de se apagar e dar o palco aos jogadores, de gerirem egos enormes. Podem não ser os mais modernos ou ousados tacticamente, mas têm um perfil que parece moldado para equipas como o Real Madrid, em que mais do que grandes revoluções de idias e de conceitos, é importante um bom gestor de grupo.

Ancelotti é muito subvalorizado para os títulos que já conquistou. E tem, tal como Klopp, por exemplo, outro grande argumento de seu lado, é uma excelente pessoa antes de ser um grande treinador.

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