A transformação de Galeno
Há poucos pontos de contacto entre o extremo que chegou ao FC Porto em 2016 e o avançado global em que ele se transformou. A diferença fê-la o trabalho tático. Porque, como estava, Galeno não ia lá.
O pensamento poético-futebolístico de raiz argentina atribuía a predisposição dos extremos para o brilho individual à proximidade que mantêm com o público, porque jogavam perto da linha. Havia sempre tempo e espaço para mais uma finta, para sentar mais um defesa, antes de cruzar, como se todos fossem cópias ou reincarnações de Mané Garrincha à espera da consagração popular, toureiros a sonhar com a volta de honra, a apanhar ramos de flores e chapéus que o público mandasse para a arena. A invenção dos extremos de pé trocado veio afastar os pontas tradicionais do público ao mesmo tempo que os aproximava do golo. Galeno é destro, mas sempre o conhecemos a jogar à esquerda. O momento que vive na equipa do FC Porto desde que assumiu a titularidade de uma forma consolidada – não é suplente desde os 4-0 ao FC Paços de Ferreira, no início de Novembro – já motiva comparações com Luís Díaz, outro destro, ou Hulk, um dos últimos canhotos a brilhar daquele lado do ataque do FC Porto. O acompanhamento popular do futebol faz-se disso mesmo, de esperança e validação. Até de ilusão. Porque Galeno, oito golos nos dez jogos que fez como titular nestes dois meses, é um avançado muito diferente dos outros dois. Impõe bastante mais o ataque à profundidade e a velocidade sem bola do que o drible, como fazia Luís Díaz. Impõe mais a inteligência ganha na movimentação do que a potência, que lhe falta e era a arma principal de Hulk. Díaz chegou ao Dragão como extremo driblador, mas foi ali, com Conceição, que aprendeu a ser avançado. Hulk tornou-se o craque explosivo e potente que foi a trabalhar no ginásio. Como eles, Galeno também é um jogador construído. Entre o extremo que chegou ao FC Porto em 2016, passou pela equipa B, por empréstimos ao Portimonense e ao Rio Ave e pela dispensa para o SC Braga e o jogador que brilha hoje na Liga portuguesa houve toda uma consciencialização tática e de espaço que fez dele um futebolista global. Houve a conversão em falso lateral, feita por Carlos Carvalhal, e a transformação em ponta-de-lança a partir da esquerda, consumada por Sérgio Conceição. Este avançado global serve ao FC Porto, porque como extremo, Galeno não ia lá.
Fiel, demasiado fiel. Perguntaram a Jürgen Klopp se era demasiado fiel aos jogadores que lhe deram títulos a ganhar. O alemão diz que não. Que é fiel, mas não é demasiado fiel. A questão da fidelidade para um quadro superior, como é o caso do treinador, é problemática. A quem deve ele ser fiel? Aos jogadores, que são quem vai bater-se por ele e pelo emprego dele no campo e, no fim de contas, são de quem tudo depende? Ou aos administradores, que são a quem ele tem de responder caso as coisas não lhe corram bem, como não estão a correr ao Liverpool FC esta época? Deve segurar jogadores em défice de rendimento, porque o tempo deles, na verdade, já passou, para tranquilizar os outros, que sabem que essas crises podem acometê-los mais à frente? Deve aparar os golpes de administrações que, como é o caso da do Liverpool FC, deixaram de funcionar devidamente, seja porque os donos norte-americanos não são tão gastadores como já foram ou como são ainda os árabes do Manchester City e os norte-americanos do Chelsea, ou porque o clube perdeu Michael Edwards, a mente brilhante por trás do scouting e das decisões de mercado? Klopp sabe, porque já passou por isso em Dortmund, onde viu uma equipa do Borussia ser destruída pelo superior poder financeiro do Bayern, que só há uma resposta a esta questão: tem de ser fiel a si mesmo. E cortou a direito. Há jogadores abaixo do esperado? Sim. Vai deixá-los cair? Não, porque ainda não chegaram outros. “Até ao Verão ainda estarei aqui à vossa frente mais umas 40 ou 50 vezes e não vou estar a responder-vos a isso em todas elas”, atalhou.
Os amantes sauditas. Que relação queremos manter com os adeptos? Queremo-los no estádio, em chuvosas noites de segunda-feira, como a de ontem, na qual três mil almas foram a Barcelos a ver o dérbi regional entre o Gil Vicente e o Vitória SC e outras 1.300 se deslocaram ao Estoril para ver a equipa da casa bater a sensação que tem sido o Casa Pia? Queremo-los em casa, a ver na TV, porque assim ainda aproveitam para dar o jantar aos miúdos, pô-los na cama e, se o jogo não estiver a ser muito interessante, ainda deitam o olho à Netflix, à HBO ou, longe vá o agoiro, aos programas de bola com aquela malta que só vê de um olho mas grita com todas as cordas vocais? O caso é cada vez mais este. E é por isso, ainda com o bónus de se fugir ao frio e à chuva do Inverno europeu, que na semana passada tivemos a Supertaça espanhola na Arábia Saudita e esta semana lá veremos a italiana. Vai toda a gente em romaria prestar homenagem a Cristiano Ronaldo... Já lá passaram o Real Madrid, o FC Barcelona, o Valência CF e o Betis, seguem-se o Inter e o Milan e em breve lá estará o Paris Saint-Germain, espera-se que com Messi, Neymar e Mbappé, pois então, para um jogo de exibição. Se o que queremos dos adeptos é que vejam na TV, qual é a diferença? O sofá é o mesmo, o comando é o mesmo, os miúdos são os mesmos... Só o dinheiro é que é mais. Alguém leva a mal? Afinal de contas, a NBA e a NFL não fazem jogos na Europa? E a Premier League não tem uma 39ª jornada, com jogos espalhados por todo o Mundo também? O quê? Não tem? Ah, pois, a proposta, apresentada em 2010 por Richard Scudamore para dar um gigantesco passo em frente no sentido da globalização daquele que já era o mais global de todos os campeonatos nacionais no Mundo, foi recusada pelos clubes, que se mantiveram fiéis a quem está sempre lá para eles. A Premier League é o que é, em primeiro lugar, porque nunca chegou a precisar de terapia de casal.
São 10M o cachet que o PSG vai cobrar para esse jogo exibição na Arábia, Messi contra Cristiano.
Quem pensou que o CR7 se tinha reformado totalmente enganou-se. Parece que o mundo da bola continua a girar à volta dele!
Em relação espectadores presentes nos estádios juntaria ainda a falta de condições de alguns.
Um dia de semana, com frio e chuva e nalguns estadios sem as bancadas serem protegidas...ninguém merece.