A festa dos "40 anos disto"
No dia em que Pinto da Costa celebrou 40 anos de presidência, a derrota do Sporting confirmou mais um título portista. Mas nem isso nem os 7-0 ao Portimonense fizeram deste um fim-de-semana perfeito.
Quarenta anos exatos sobre a primeira tomada de posse como presidente do FC Porto, Jorge Nuno Pinto da Costa recebeu ontem de Alvalade o melhor presente por que podia ansiar: com a derrota do Sporting frente ao Benfica (0-2) e o aumento da vantagem sobre o segundo classificado para nove pontos (em doze por disputar), os dragões passaram de prováveis a já inevitáveis campeões. Só a frieza da matemática os impede de lançar os festejos. O fim-de-semana que começara com os 7-0 ao Portimonense, em casa, e que os adeptos portistas viram como uma espécie de “justiça poética”, por ser a resposta perfeita aos “40 anos disto” de que Frederico Varandas, presidente do Sporting, se queixara depois do empate no Porto, foi encarado pelos rivais como mais uma prova fumegante das influências malévolas do “pintismo”, pois os algarvios apresentaram-se no Dragão submissos, com uma equipa cheia de segundas e terceiras escolhas. Tudo somado, é mais um fim-de-semana no futebol português.
Façamos um ponto de ordem à mesa. O FC Porto vai ser um justíssimo campeão. Foi a melhor equipa deste campeonato, como se percebe pela pontuação monstruosa que soma ou pelas 58 jornadas seguidas que já leva sem perder, estabelecendo um novo recorde nacional de imbatibilidade. A equipa de Sérgio Conceição terá até suplantado as expectativas de enorme crescimento que lhe “adivinhei” no Futebol de Verdade de 6 de Agosto, a data de início do campeonato, quando a apontei como a maior favorita à conquista da Liga de 2021/22 (pode ver o vídeo aqui e perceber que não estou a enganá-lo). Esta será mesmo a mais brilhante das três equipas que Conceição carrega ao título nacional (fê-lo em 2018 e 2020, antes de o fazer agora, em 2022), a que melhor e mais vistoso futebol pratica, mas ao mesmo tempo – mesmo que isso possa parecer-lhe contraditório – a que precisou de menos treinador, porque é a que tem mais talento, mesmo expurgada de Luís Díaz a meio da temporada. Este FC Porto resistiu a isso, às saídas de Corona e Sérgio Oliveira, igualmente em Janeiro, às sucessivas lesões de Pepe e ainda à perda de Uribe nesta fase decisiva da época.
E continua a ganhar. A ganhar sempre. Os 7-0 ao Portimonense, no sábado, já a prever o que aí viria no domingo, permitiram-lhe passar a ter o melhor ataque, com mais quatro golos marcados que o Benfica, e a melhor defesa, com menos um golo sofrido que o Sporting. Só que, por mais que os jogadores e adeptos portistas queiram embandeirar em arco com a goleada, com festejos teatrais frente às câmaras de TV, como se fossem vítimas de uma cabala nacional e a resposta estivesse a ser dada ali, em campo, aquele jogo não é – não pode ser – motivo de orgulho para esta equipa. Porque aquele jogo mostrou muito do que de mau tem o futebol português – e permitiu que saíssem da caverna todos os profissionais da suspeição, que o arrastam ainda mais para o lodo a cada semana. Já privado de quatro titulares (Wyllian e Possignolo por castigo, Lucas por ter sido vendido há dias e Nakajima por estar emprestado pelo FC Porto), Paulo Sérgio resolveu poupar outros quatro (Samuel, Pedrão, Relvas e Angulo) por estarem todos a um cartão amarelo da suspensão e se seguir, na próxima jornada, o jogo como Moreirense, que pode ser decisivo na batalha pela permanência. O resultado foi uma equipa imprestável, sem a capacidade mínima para ser competitiva num patamar exigente como é a Liga.
Vou ser tão claro quanto possível numa opinião que não posso sustentar em factos (porque eles não se colocaram): acho que, nestas mesmas circunstâncias – cinco jornadas para o fim, tanta gente à bica e um jogo decisivo na semana que vem –, Paulo Sérgio faria exatamente a mesma coisa se lhe calhasse visitar o Sporting ou o Benfica. Da mesma forma que não alinho na teoria da cabala de que se queixam os portistas e me parece ridículo, por exemplo, Taremi mandar calar os que o acusam de ser um “cavador” de penaltis, com o dedo indicador frente ao nariz, depois de ter marcado... de penalti, também me recuso a ver na proximidade entre o dono da SAD do Portimonense, o ex-agente brasileiro Theodoro Fonseca, e Pinto da Costa, a razão para que os algarvios tenham desistido de disputar o jogo do Dragão. Mas isso não quer dizer que o que ali aconteceu não deva envergonhar-nos a todos um pouco – não tanto como a B SAD a jogar contra o Benfica com nove, é verdade... – e não deva ser motivo de reflexão. Mesmo não estando em causa a verdade desportiva – na verdade, para a eventualidade de o Sporting ainda acabar com os mesmos pontos do FC Porto, era igual os dragões ganharem por um ou por dez –, aceitar que uma equipa possa abdicar de disputar um jogo numa Liga tão ambiciosa como a portuguesa é transpor uma barreira que me recuso a atravessar. Além de ser uma má propaganda para quem quer receber mais dinheiro das transmissões televisivas e, portanto, entenderá que a qualidade do espetáculo é um fator decisivo para que a nossa Liga possa impor-se.
O FC Porto-Portimonense foi um pesadelo para os algarvios, ópera para os portistas, motivo de suspeição para os rivais e um bocejo para os neutrais. Foi um jogo que exemplificou na perfeição aquilo que é o futebol português hoje em dia. Quem ganha acha que está tudo bem, quem perde acha que foi tudo roubado ou combinado, e quem não está nisto por ser de um clube ou de outro não vê razões nenhumas para continuar a apreciar o fenómeno. É este desprezo pelo adepto de futebol – por oposição aos adeptos dos clubes – que continua a impedir a Liga portuguesa de prosperar. E é isso que está na base do desabafo de José Castro, o capitão da Académica que anunciou o final da carreira no dia em que a Briosa soube que ia descer à Liga 3. “Não somos analfabetos, porque analfabeto é quem nunca pôde aprender. Quem pôde aprender e não quer, é ignorante. E a nível de futebol somos um país bastante ignorante. Cada vez há menos gente a gostar de futebol. E cada vez há mais gente a querer só ganhar”, lamentou o central de 39 anos, que passou onze épocas no futebol espanhol. O alerta está dado. Agora falta mostrar que queremos aprender.
Não concordo em parte com o que diz. Concordamos de certeza que o que aconteceu no Dragão não foi bonito, o Portimonense abdicou de ser competitivo. Mas agora vejamos o outro lado da moeda. O Portimonense tem até hoje 7 jogos no Dragão, perdeu-os todos, incluindo já, obviamente, o de Sábado. Paulo Sérgio sabendo as limitações que tem na equipa, e reconhecendo que as probabilidades de pontuar no Dragão são muito diminutas, praticamente impossíveis, faz uma escolha, onde tenta jogar com as probabilidades, e ir buscar pontos onde as chances serão muito maiores. Na próxima jornada recebe o Moreirense em casa, e, mais uma vez reforço, não querendo prejudicar a equipa (que como escreveu no seu texto, estava limitada) não quis correr o risco de ter que encarar o jogo com o Moreirense igualmente com limitações (caso algum dos 4 jogadores amarelados no limite visse mais um amarelo). Paulo Sérgio não quis por causa do jogo do Porto, prejudicar o seu trabalho, e o jogo seguinte. Seria um "lose-lose", ao contrário do famoso "win-win".
Eu não consigo censurar Paulo Sérgio. O que mais posso dizer, é que ele fez as suas escolhas, o Portimonense apresentou-se no Dragão diminuído, é verdade, e no fim, ele assumiu total responsabilidade. Já Petit o tinha feito no passado, porque também foi na altura questionado sobre isso, mas a pergunta que eu deixo no ar, vai mais além.
Será que isto só acontece na Liga portuguesa? Eu acho que não. Eu tenho a certeza que não. Quando o calendário começa a fazer a apertar mais, quando nos campeonatos começa a haver mais pressão , e quando os clubes começam a ter os seus jogos decisivos, não será de certeza absoluta um mal português, e apenas da nossa liga, os treinadores terem que tomar decisões em defesa dos seus interesses, e das suas equipas. É para isso que lhes pagam, para tomarem decisões em prol dos seus clubes, e não em prol de um futebol bonito.
Só uma correção, o 1º golo do Taremi não foi de penalti... e sim, mandou calar quem o criticou. Não entendo a relevância de ter sido de penalti ou não para o seu texto, tanto mais que o 2º golo, este sim de penalti, nem foi sobre ele, e as criticas mais "racistas" que terão originado tal reação do atleta foram por, alegadamente, simular penaltis.