Varandas a olhar para a frente
Pouco importa se foi por causa de ter escolhido Amorim, de ter resgatado os VMOC, da abstenção ou da baixa representatividade dos candidatos da oposição. Varandas tem finalmente legitimidade total.
Frederico Varandas foi reeleito presidente do Sporting, com 85,8% dos votos, aproximando-se dos 86,1% de Bruno de Carvalho, em 2015, e retirando à minoria ruidosa que continua a tratá-lo como um demente qualquer legitimidade para se constituir como alternativa nos próximos quatro anos. A quem, a propósito de tudo e de nada, defende o regresso do clube ao tempo dos homens providenciais, cujo único erro é sempre, em todas as circunstâncias, o de confiarem em quem os rodeia – dirigentes, treinadores, até sócios e adeptos... –, para depois serem atropelados e traídos por uma conspiração global, resta agora o direito à oposição, à contestação, mas não o de negar a legitimidade daquele a quem durante três anos e meio chamaram “usurpador”. Recusar esta evidência é viver no passado, num passado que, ainda por cima, no Sporting, não tem sido nos últimos anos nem glorioso nem virtuoso. E o Sporting precisa de encarar o futuro.
As eleições de sábado vieram dar a Varandas uma legitimidade popular que o título ganho no futebol em 2020/21 já antecipara, mas de que ele precisava, nas urnas, para poder governar. Defendi, em Janeiro de 2020, que o presidente do Sporting deveria demitir-se e provocar eleições antecipadas por isso mesmo: o que ele dirigia era um clube dividido, onde ninguém conseguia mandar. Desde essa altura, as coisas mudaram, muito por obra e graça da chegada a Alvalade de Rúben Amorim, que mudou o futebol, ainda a mola real do que é um clube grande em Portugal. Com as vitórias no futebol, muitos indecisos aceitaram a nova realidade e passaram para o lado da situação – o que serviu à oposição para alegar que Varandas só foi agora reeleito por causa do efeito-Rúben Amorim. É possível que assim seja. Se o Sporting tivesse chegado a estas eleições como estava em Janeiro de 2020, dilacerado por derrotas no futebol, o presidente não teria passeado como passeou. Talvez pudesse até ganhar, mas sempre com resultados muito mais divididos – que, mesmo assim, no meu entender serviriam de legitimação a quem quer que fosse.
A questão, no entanto, é uma falsa questão. Se Varandas foi reeleito por causa de Amorim, é justo, porque foi ele que o escolheu e o contratou. Tal como era justo que fosse contestado por ter escolhido Marcel Keizer ou Jorge Silas. Foi ele que os escolheu e contratou e devia ser avaliado por isso – como Bruno de Carvalho deveria ter retirado conclusões por ter escolhido e contratado Leonardo Jardim, Marco Silva ou Jorge Jesus, em vez de chutar para cima dos dois últimos tudo o que de mau se passou o clube desde 2014. Se Varandas teve 85 por cento dos votos por ter escolhido e contratado Amorim, se foi por ter antecipado receitas de TV para poder recomprar as VMOC à banca, então está a ser julgado por coisas que fez. Agitar no ar o fantasma da sucessão de Amorim, ensombrar uma liderança por estar dependente de um bom treinador que contratou, alegar que quando o treinador for embora volta o período da sombra é um pouco como celebrar um presidente por ter contratado um péssimo treinador e dessa forma poder melhorar se e quando o despedir. É subverter a realidade e não faz qualquer sentido.
Como não faz sentido, aliás, contestar internamente a operação de recompra das VMOC, que era uma coisa que todos os candidatos – e antigos presidentes – queriam. É certo que o timing foi de gosto duvidoso – em vésperas de eleições, tresandando a eleitoralismo popularucho, a algo de que Varandas nem precisaria para ganhar. É verdade que a operação foi feita com a antecipação de receitas de TV. Mas queriam o quê? Que de repente aparecesse em Alvalade uma mina de ouro que permitisse acabar com o risco de se perder o controlo da maioria do capital da SAD com uns trocos descobertos na algibeira das calças? Há muita coisa na gestão de ativos do futebol leonino que não me convence, mas esta foi uma boa operação e, mesmo com desconto – logo criticado pelo Benfica, por exemplo – correspondeu ao pagamento de uma dívida, quando teria sido muito mais fácil torrar aquele dinheiro em metades de passes de jogadores inflacionados, ligados a grupos de empresários próximos. Isso sim, teria sido catastrófico e criticável.
Os próximos quatro anos serão decisivos para o Sporting. O futebol internacional vai acelerar o andamento da carruagem que o conduz à alta indústria e, até ver, os leões estão mais mal situados do que o FC Porto e o Benfica para nela entrarem. O futebol português precisa de se credibilizar, de acabar com o lixo que o puxa para baixo, de mexer na distribuição da receita e nos modelos de governação, de melhorar o nível das instituições e dos regulamentos, pois é essa a única forma de melhorar o nível das pessoas e do espetáculo. Os 85,8 por cento de votos expressos no sábado dão a Varandas o mandato para se virar para essas questões sem ter de se preocupar excessivamente com a oposição interna – como os 84 por cento que teve Rui Costa há meses lhe permitiram a mesma coisa no Benfica. Agora, resta saber se tem – se têm, os dois – unhas para tocar esta guitarra, para romper com o passado de guerra em ações mais até do que em palavras, para ajudar a construir o edifício do novo futebol português e inverter o rumo catastrófico que as coisas estão a assumir.
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Caro Tadeia, oposição haverá sempre, em todos os clubes. É a natureza das instituições por mais monárquicas que sejam. Até aí, a oposição existe, silenciosa ou à espera que o poder caia da cadeira. No SCP não é diferente, com uma pequena ressalva: Varandas trouxe estabilidade a todos os níveis, tem as suas equipas competitivas, melhorou substancialmente as infraestruturas (desde a formação ao estádio, passando por Alcochete), ainda que, como costumo dizer, não joga. Nenhum presidente o faz e ainda bem. Porque se a bola não entra lá se vai projeto, unidade, anos e anos de presidência, etc....
Bom dia. Mais uma vez se denota uma clara antipatia por Pinto da Costa. Está no seu direito. Sou portista, e não faço de conta que as escutas não existiram. Como também o senhor não deveria omitir que não eram só dirigentes do FCP envolvidos, haviam muitos outros. Como também não pode omitir que atuais dirigentes do SLB eram tb dirigentes - envolvidos - no tempo de Vieira, como comprovam os emails como tem sempre deliberadamente ignorado. Não conheço os dirigentes do SCP, mas não ficaria surpreendido se por lá andassem os dirigentes que estão envolvidos em escândalos noutros desportos, como o Andebol e Basquetebol... (ou só é relevante a alegada corrupção no futebol - como se fosse um mundo à parte - e não ignoro que este é o "Futebol de Verdade".. mas os clubes/SADs são controlados pelos mesmos... Até acredito que acha que está ser totalmente isento, mas não está... já por diversas vezes estive para deixar de escutar, mas como tb não há ninguém verdadeiramente isento (eu obviamente não sou) vou ignorando e apreciando o que vai fazendo de interessante e bem.