Um lugar para Pedro Gonçalves
O final do jogo com o Sevilha FC serviu para abrir o debate: onde deve jogar Pedro Gonçalves? A meio-campo ou no trio da frente? Aqui ficam as minhas conclusões e as razões que a elas conduzem.
A exibição de Pedro Gonçalves, a meio-campo, nos últimos 18 minutos do jogo que o Sporting fez com o Sevilha FC, no domingo, deixou muitos a ponderar se não será melhor para Rúben Amorim devolver o transmontano às origens, colocando-o ali e não no trio de ataque do seu 3x4x3 habitual. O problema deste raciocínio é que ignora as condicionantes externas e parte do facto de Pedro Gonçalves já ter sido médio, por exemplo, no FC Famalicão, para fazer uma generalização abusiva do que é ser centrocampista. O lugar de Pedro Gonçalves no Sporting de Amorim é nos três da frente, porque de todos os atacantes leoninos é o que tem melhor relação com o golo. O que lhe falta é a clarividência tática – ou a liberdade dada pelo técnico para isso – para entender que há alturas nos jogos em que deve ser terceiro médio, porque a equipa disso precisa.
A questão das condicionantes externas, no entanto, parece-me particularmente importante e já está na base de outro equívoco que cada vez mais se espalha – o de que Pedro Gonçalves rende mais à direita do que à esquerda. Neste caso, é simples de explicar. O jogador fez uma época de 2020/21 notável, na qual tudo em que tocava dava golo. E fê-la a partir da direita, com Nuno Santos na esquerda. Em 2021/22 chegou Sarabia, que Rúben Amorim colocou à direita, movendo Pedro Gonçalves sobretudo para a meia-esquerda. E a temporada de Pedro Gonçalves, não tendo sido má, foi pior do que a anterior. Porquê? Porque estava a jogar à direita? Digo já que não. Porque teve uma lesão incapacitante e andou a jogar durante muito tempo diminuído. Se o Sporting não joga com extremos – e não joga – e se o que quer dos segundos avançados, chamemos-lhes assim, é muito que desequilibrem no espaço interior, a Pedro Gonçalves até convirá mais a esquerda, de onde pode recorrer mais ao pé direito para a finalização. As condicionantes externas – neste caso a lesão no pé –, no entanto, levaram a crer o contrário.
No caso do jogo com o Sevilha FC também houve condicionantes externas para a melhoria de Pedro Gonçalves nos últimos 18 minutos, quando passou a formar dupla de meio-campo com Morita e, além de fazer o passe para o golo de Paulinho, isolou Edwards com outra abertura excelente. Neste caso, a principal condicionante externa foi um adversário que já não tinha em campo nenhuma das suas primeiras figuras e que, fatigado por ter menos uma semana de preparação, encostou atrás. Ora esse é um cenário que muitas vezes poderá colocar-se na Liga Portuguesa. Muitas vezes o Sporting vai encontrar equipas de menor valia e encostadas atrás, alturas em que poderá fazer sentido ter Pedro Gonçalves como segundo médio por razões meramente ofensivas. Não creio, contudo, que o lugar seja o melhor para ele ou para a equipa numa base regular. E não é tanto por achar que Pedro Gonçalves não defende – esse é outro cliché colado a jogadores que desequilibram na frente. É mais por achar que ele faz mais diferença em situações de finalização que, se baixar no campo, deixarão de lhe ser colocadas com tanta frequência.
Basta ver a diferença entre o índice xG (Golos Esperados) de Pedro Gonçalves em 2019/20, ainda no Minho, como médio, e o valor das duas épocas que se seguiram, já no Sporting, como avançado. De acordo como dados da Infogol (que pode consultar aqui) os Golos Esperados de Pedro Gonçalves na Liga duplicaram com a mudança de ambiente e de posição: foram 5,75 em 2019/20, passaram a 11,11 em 2020/21 e a 11,33 em 2021/22. Isto é: em condições normais, Pedro Gonçalves devia ter marcado entre cinco e seis golos na época que fez em Famalicão e viu esse número crescer para onze em cada Liga que fez pelo Sporting. Há aqui muitas condicionantes externas também, a maior das quais será a diferença de poderio ofensivo entre o FC Famalicão e o Sporting. Mas virá daí a maior quota parte de justificação? O FC Famalicão marcou 53 golos em 2019/20, o Sporting fez 65 em 2020/21 e 73 em 2021/22. Há um aumento, mas nada que se compare com a duplicação do xG de Pedro Gonçalves, pelo que é natural que esta maior frequência em que se viu em situações de finalização se deva mais à mudança de posição do que de ambiente.
Fazer uma equipa é fazer opções. Escolhas. Se um jogador for mau finalizador, há que afastá-lo da área, para ter lá outros que deem mais garantias. Se for bom, há que exponenciar essa caraterística, colocando-o o mais possível em situação de remate. Em duas Ligas que fez pelo Sporting, Pedro Gonçalves marcou 31 golos para um xG de 22,44. Isto é: marca mais do que devia. Daqui se conclui que seria um erro afastá-lo da baliza. O que não quer dizer que isso não possa acontecer, tanto por razões ofensivas como até defensivas. Já passei em cima pela parte ofensiva desta equação – os tais jogos em que os leões precisem de carregar na frente contra equipas encostadas atrás. Mas outros jogos haverá em que ao Sporting faz falta um terceiro médio – e essa sim era a posição de Pedro Gonçalves em Famalicão. Isso viu-se até no desafio com o Sevilha FC, na primeira parte, em que os espanhóis faziam saída a quatro, baixando os laterais para atrair os dois alas leoninos, deixando depois Fernando, Rakitic e Oliver para Ugarte e Matheus Nunes em segunda fase de construção. Na primeira meia-hora, o Sporting andou a cheirar a bola – altura em que se recomendaria que um dos avançados pudesse juntar-se aos médios em situação de pressão. E esse avançado não será outro que não Pedro Gonçalves, que beneficiaria muito a equipa com a acumulação de dois fatores: mais liberdade para o fazer e mais clarividência para entender quando deve fazê-lo.
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