Um jogo de tripla
O FC Porto-SC Braga é jogo de tripla. A capacidade para se bater com um vencedor em série, como é o FC Porto de Conceição, é o sinal mais evidente do crescimento minhoto no futebol nacional.
A melhor forma de se encarar o crescimento do SC Braga nos últimos anos é perceber como se olha para a final da Taça de Portugal, que os minhotos vão discutir com o FC Porto no Jamor, no domingo. Será o chamado “jogo de tripla”, não mais o embate de um grande com a equipa de média dimensão que o SC Braga ainda é, pelo menos em termos de seguidores, escrutínio e, por isso, divulgação também. É verdade que o FC Porto ficou à frente do SC Braga na tabela da Liga, o que o cauciona como melhor equipa do que o adversário. É ainda certo que a equipa de Sérgio Conceição não só não perdeu com a de Artur Jorge em 2022/23 como esta foi a pior das quatro primeiras num mini-campeonato entre grandes, antes suportando o terceiro lugar e a qualificação para as pré-eliminatórias da Liga dos Campeões num percurso irrepreensível contra os mais pequenos. Além disso, o FC Porto chega ao Jamor numa série de onze jogos a ganhar sempre – bom, ao FC Famalicão, na segunda mão da meia-final da Taça de Portugal, estava a perder aos 90’, mas ganhou na reta final do prolongamento... – enquanto que o SC Braga só venceu três dos seus últimos seis desafios. Por fim, é impossível não reparar que o FC Porto de Sérgio Conceição tinha ganho os quatro últimos troféus nacionais antes de perder esta Liga para o Benfica. A questão é que, feitas as contas, o SC Braga atingiu os objetivos a que se propôs na época, que eram intrometer-se entre os grandes e chegar ao fim com opções de meter a mão no saco de dinheiro da Champions, enquanto que o FC Porto falhou os dele, que passavam pela renovação do título de campeão nacional. A equipa de Artur Jorge chega ao Jamor mais solta, até pela força mental que virá da sensação de ter atingido o sucesso – ao passo que do outro lado haverá ainda um travo a fracasso na boca a alimentar a vontade para a reconquista. E, sendo verdade que os dois confrontos desta época acabaram numa goleada portista (4-1 no Dragão) e num empate que na verdade não servia a ninguém (0-0 em Braga), os braguistas impuseram-se nas últimas três finais ante este adversário (as Taças da Liga de 2020 e de 2013 e a Taça de Portugal de 2016) e até lhe ganharam mais jogos nos últimos anos – 5-3 nas últimas quatro temporadas, com uma épica vitória no Dragão a garantir a presença na final da Taça de 2021. Não são precisos mais argumentos para vos dizer que no final da tarde de domingo a festa pode espalhar-se a qualquer dos lados. Porque ao FC Porto se reconhece um espírito competitivo superior, uma equipa globalmente mais equilibrada, mas se o SC Braga parece mais curto atrás, tem a possibilidade de contrapor ao ponto mais débil do adversário – os laterais – jogadores dotados de grande capacidade de desequilíbrio. E depois há o fator-Taça. Conceição regressa ao Jamor para defrontar a equipa que primeiro lhe permitiu lá chegar e pela qual entendeu que este é mesmo um jogo diferente dos outros. Foi pelo SC Braga que o atual treinador do FC Porto perdeu uma final que estava ganha, a de 2015: a seis minutos do fim, ganhava por 2-0 e tinha um jogador a mais. Acabou por ceder o empate e saiu derrotado nos penaltis. Não há muitas ocasiões no futebol como uma final da Taça. É aproveitar.
Ação, reação. Anthony Taylor, o árbitro da final da Liga Europa, foi atacado no aeroporto de Budapeste por um grupo de adeptos da AS Roma, quando se preparava para viajar para casa com a família. A situação é mais do que desagradável e conduz-nos diretamente aos insultos que lhe foram dirigidos por José Mourinho na garagem da Puskas Arena, depois do jogo, que ganharam dimensão global porque foram filmados e difundidos nas redes sociais. Já há dias vos falei aqui do telemóvel pós-moderno que Abel Ferreira tinha tirado ao repórter da Globo que filmava uma discussão entre um dirigente do Palmeiras e um dos árbitros do jogo contra o Atlético Mineiro, situação após a qual o técnico começou por culpar os jornalistas, que iam filmar tudo e davam depois azo a selvajarias como a que ontem ocorreu no aeroporto de Budapeste. O Mundo, infelizmente, está cheio de gente que anseia por estes gatilhos para soltar o selvagem que tem dentro. É normal os adeptos acharem que as suas cores são sempre roubadas. Faz parte – e quem não quer ouvir isso não vai para árbitro ou até para jornalista. Mais grave é quando as pessoas veem as suas referências abusar dos árbitros, porque a partir daí se sentem legitimadas a escalar no abuso. Se o treinador que nós veneramos como a um Deus o insultou, nós podemos bater, que é meio caminho andado para o céu. É assim: ação, reação. A responsabilidade, aqui, não é do telemóvel que filmou, porque isso é o Mundo em que vivemos e todos sabemos que ele é assim, imediato, global. Aqui, a responsabilidade é de quem sabe que o Mundo é o que é e mesmo assim não controla os ímpetos.
As oportunidades para os miúdos. Saiu ontem a convocatória da seleção portuguesa para o Europeu de sub19, a que tomei particular atenção porque no fim-de-semana vou publicar um extenso trabalho sobre a equipa do FC Famalicão que se sagrou campeã nacional do escalão. Na lista não estavam jogadores como Essugo, Chermiti, Afonso Moreira ou João Muniz, que não foram libertados pelo Sporting, uma vez que Rúben Amorim quer incluí-los na pré-época da equipa sénior e, assim sendo, deseja tudo menos vê-los em estágio na Cidade do Futebol já a partir de dia 12 e depois em competição pela equipa nacional até 16 de Julho. A coisa pode ser vista como positiva, se comparada com a debandada anunciada de algumas das mini-estrelas que no ano passado ganharam a UEFA Youth League pelo Benfica e agora ameaçam sair por falta de oportunidades: Diego Moreira vai para o Chelsea, Cher N’Dour, Martim Neto e Luís Semedo parece que também estão de saída, seja porque buscam melhores condições ou só a oportunidade de jogar numa equipa principal, o que na Luz veem como muito difícil. O objetivo de um jovem futebolista profissional será sempre esse: chegar à equipa principal. Tudo bem, então? Não. Claro que não. Que raio de ideia é esta da UEFA marcar um Europeu de sub19 para esta altura do ano? Tratando-se de um escalão charneira, com muita gente já à porta das equipas seniores, não podiam fazer a coisa de acordo com os calendários que lhes importam a eles, aos jogadores? Às vezes parece que a malta só quer complicar.