Três coelhos numa cajadada
A solução de um Mundial ibérico que inclua África e a América do Sul é a forma que a FIFA encontra de satisfazer toda a gente. Incluindo a Arábia Saudita, que assim vê escancaradas as portas de 2034.
A atribuição do Mundial de 2030 à candidatura conjunta de Espanha, Portugal e Marrocos, com realização dos três primeiros jogos na América do Sul, pode ser apresentada como muita coisa, de manifestação do entendimento entre os povos à festiva celebração da história da competição, que nesse ano comemora o centenário, mas acaba por ser uma demonstração de realpolitik que há muito é a motivação principal da organização que manda no jogo a nível global. A FIFA deu o Mundial de 2030 a Espanha, Portugal e Marrocos, sem votação sequer, porque esta era, de longe, a melhor das duas candidaturas em termos de condições para as 48 equipas que vão participar na prova. E consolou a candidatura sul-americana, que tinha a seu favor o fator-história, convencendo-a a nem ir a votos através da concessão dos primeiros três jogos, que se realizarão no Uruguai, no Centenário que acolheu o primeiro Mundial, em 1930, na Argentina e no Paraguai. Gianni Infantino não só fez toda a gente feliz, como aqueles que ficaram do lado errado da moeda – os sul-americanos – estavam tão esfusiantes com esta solução que até se adiantaram no anúncio, feito de forma certamente concertada em ante-estreia no Twitter por Alejandro Domínguez, o paraguaio que preside à Confederação sul-americana de futebol. O facto de a Conmebol ficar contente com esta solução e, mais ainda, de aceitar de bom grado a ultrapassagem pela direita de que foi alvo quando a FIFA anunciou que, em entendimento enviesado do princípio da rotatividade entre continentes, convidava desde já as federações da Ásia e da Oceânia a apresentarem candidaturas à organização do Mundial de 2034, tem também duplo significado. Em 2034, as confederações há mais tempo sem Mundial serão a africana, que organizou o de 2010 e terá agora uns quantos jogos dados a Marrocos para ceder a vez, e a sul-americana, que teve o de 2014 e também volta ao fim da fila por troca com os tais três desafios de comemoração do centenário. E não pensem que os africanos e os sul-americanos foram enganados. Nada disso. A questão é que eles sabem bem que um Mundial pode dar retorno interessante, mas ao mesmo tempo é uma empreitada ciclópica, para a qual é preciso músculo financeiro e despreocupação política. O Mundial de 2014, no Brasil, deu bronca por causa dos investimentos que Lula imaginou poderem vir a simbolizar a pujança da liderança “PêTista” mas que mais tarde geraram, isso sim, uma vaia monumental a Dilma Roussef, a sua sucessora e a herdeira do projeto, porque o povo de repente mudara de perceção e julgara que o dinheiro gasto em infraestruturas lhe fazia muito mais falta para escolas e hospitais. Ora essa é uma coisa que não existe na Arábia Saudita, onde não falta o dinheiro e há despreocupação política até em excesso, derivada da falta de escrutínio da sua liderança autocrática. A solução engendrada para o Mundial de 2030 mata três coelhos de uma só cajadada – entrega o Mundial à melhor candidatura sem a chatice de uma votação que, vai-se a ver, podia correr mal, mantém satisfeitos sul-americanos e africanos, que nem queriam ter a chatice e assim salvam a face, e garante que a aliança entre a FIFA e a Arábia Saudita está forte e que o investimento no futebol de Mohammed bin Salman, o príncipe herdeiro, está aí para durar pelo menos até 2034, o ano em que – já nem restam dúvidas... – lhe irá caber organizar o Mundial depois do nosso.
Quantos estádios? Já se sabe que o Mundial de 2030 – tal como o de 2026 – terá 48 equipas participantes e 104 jogos. Na próxima edição eles serão divididos por três países (Estados Unidos, Canadá e México) e 16 cidades-sede. Destas 16 sedes, onze serão nos Estados Unidos, três no México e duas no Canadá. Tendo a edição de 2030 menos três jogos para alocar às suas sedes – os jogos que se realizarão na América do Sul – muito me espantaria que a distribuição geográfica venha a ser muito diferente desta, com ampla maioria de estádios em Espanha e ainda assim uma ligeira superioridade das sedes portuguesas face às marroquinas. Não só porque os marroquinos foram convidados de última hora e os espanhóis são mais do que os portugueses, mas sobretudo porque não temos em Portugal mais do que três estádios acima do limite mínimo exigido pela FIFA, que são os 40 mil lugares – e faz pouco sentido ir construir mais, até tendo em conta o que aconteceu com boa parte dos que foram erigidos em 2004 e depois deixados ao abandono por regiões incapazes de manter equipas que lhes dessem utilização. 14 dos 16 estádios do Mundial de 2026 têm capacidade para mais de 50 mil lugares, sendo os únicos abaixo dessa fasquia o de Guadalajara (48 mil) e o de Toronto (30 mil, em expansão para 45 mil). Em Portugal, só a Luz, o Dragão e Alvalade cumprem os mínimos para um Mundial – e não para que neles se joguem meias-finais ou finais, por isso mesmo provavelmente desviadas para Madrid e Barcelona. O tema vai motivar muita discussão entre a malta do futebol, entre os que se queixarão de que as benesses – haverá sempre que renovar infraestruturas que por essa altura já terão quase 30 anos – favorecem sempre os mesmos e os que lembram que faz pouco sentido estar a construir mais elefantes-brancos, mas é então que convém lembrar qual é a maior vantagem de ter um Mundial em Portugal. São as receitas do turismo, é a obrigação de investimento em vias de circulação, em rede ferroviária, em hotelaria, em instalações de treino – essas sim mais facilmente deslocalizáveis – e é a ofensiva de charme que se fará ante toda uma geração que pode vir a ser chamada para o futebol por esta organização. É por aí que estamos a ganhar, não pelos estádios.
Criar é preciso. O FC Porto fez mais do que equilibrar o jogo com o FC Barcelona (e há FDV Flash com comentário ao jogo para ver aqui), esteve mesmo na mó de cima durante toda a segunda parte, mas acabou por não criar situações de perigo em número suficiente para tanta iniciativa. Já tinha explicado aqui a encruzilhada em que se encontra Sérgio Conceição, privado de uma só vez das suas duas chaves-mestras táticas, Uribe e Otávio. A resposta do treinador do FC Porto passou pela tentação de privilegiar a segurança, mantendo o sistema, o híbrido de 4x4x2 com 4x3x3 que aperfeiçoa há sete anos, mas introduzindo-lhe mais um jogador que pensa como médio e menos um que pensa como avançado, mais uma unidade que busca os equilíbrios e menos uma preocupada em desequilibrar. Basicamente, face ao início desta época, trocou um Toni Martínez ou um Evanilson por um Baró, adiantando Pepê e Taremi uma casa tática face ao que eles poderiam fazer. A questão é que, para poder ser ofensivamente inspirador, o FC Porto tem de colocar no mesmo onze Taremi, Ivan Jaime e Pepê. Depois, como ainda há Galeno, até pode completar o ramalhete com ele em vez do tal ponta-de-lança, desde que compense a falta de predisposição para a criação com a entrada de Nico para a vaga ao lado de Varela. Só quando Conceição achar que completou a quadratura do círculo no que diz respeito à segurança e começar a privilegiar jogadores mais criativos é que o FC Porto entenderá que precisa de criar para ganhar jogos.
Mas alguma coisa ali faz sentido? Moreno começou a época à frente da equipa do Vitória SC, mas após a eliminação da Liga Conferência e de uma vitória na Amadora quis ir-se embora. O clube diz que não queria que ele fosse, mas acabou por aceitar a decisão. O adjunto João Aroso ainda comandou a equipa na vitória sobre o Gil Vicente, de modo que os vimaranenses tiveram duas semanas para preparar a sucessão de Moreno. Escolheram Paulo Turra, que se estreou no último fim-de-semana de Agosto, a ganhar ao FC Vizela. Um mês e uma semana depois, no seguimento de uma vitória no Estoril, Turra foi demitido e o Vitória contratou Álvaro Pacheco, ex-treinador do FC Vizela e do Estoril. Pacheco é um treinador competente e com excelente trabalho feito em Vizela, por exemplo, mas receio que o problema ali nunca tenha sido o técnico. E quando assim é, está criado o caldo de cultura para que qualquer um ali acabe por fracassar.
Percebo a ideia mas não concordo nada com este Mundial! Temos que reduzir as emissões de carbono e apresentam 2030 aquele ano que devemos ser quase neutro em carbono e depois fazem este Mundial em 3 continentes, enfim ... Wenger até já propôs menos períodos de seleções mas mais longos para que os jogadores fazam menos viagens e vamos fazer com que algumas seleções começam na América do Sul, depois vão para África e terminam na Europa, está tudo doido! Já um Mundial em 2 continentes já seria um Mundial que precisasse de ser muito bem planeado agora em 3 continentes ...