Sinais de confiança
O Benfica foi bicampeão da Liga, em 1937, mas o FC Porto ganhou o Campeonato de Portugal. O Sporting, campeão de Lisboa, contratou o revolucionário Szabó. E o Belenenses arrelvou as Salésias.
O Benfica foi bicampeão da Liga em 1937, o FC Porto impôs-se no ainda bastante credenciado Campeonato de Portugal e ao Sporting, campeão de Lisboa pela quarta época seguida, mais não restou do que um consolo que partilhou com o Belenenses, ainda claramente um dos grandes clubes do nosso futebol: estavam ambos a trabalhar na construção do futuro. Os azuis foram quem mais luta deu aos vencedores das duas provas nacionais – e na Liga ficaram apeados sobretudo por causa de uma derrota inesperada na fase inicial, quando andavam de casa às costas – tiveram pelo menos a certeza de que estavam a preparar-se para tempos mais risonhos quando inauguraram o relvado no Estádio das Salésias, o primeiro disponível para os clubes de Lisboa e para uma seleção nacional que, porém, a Guerra Civil de Espanha forçou a um indesejado isolamento e à ausência de competição durante toda a temporada de 1936/37. No Sporting, a partir do fim da época fixado na remodelação do Stadium de Lisboa, no Lumiar, que em breve passaria a usar em vez da velhinha Estância de Madeiras do Campo Grande, a aposta foi nos méritos de um treinador que já tinha mostrado serviço antes de ser despedido pelo FC Porto. Em Março de 1937, os leões anteciparam-se aos dragões, que preparavam uma Assembleia Geral para readmitir o húngaro Josef Szabó e ofereceram-lhe um contrato vantajoso, que ele aceitou. Estava encontrado o homem que viria a comandar duas gerações de Violinos e a dar início ao primeiro período de hegemonia de um clube no futebol nacional.
Leia aqui o texto sobre 1935/36:
Não se pense, no entanto, que foram só o Sporting e o Belenenses a preparar o futuro. A revelação do ano em Portugal vestiu de vermelho à Benfica. Guilherme Espírito Santo vinha de Angola, inaugurando uma era de recrutamento nas então colónias ultramarinas – de onde depois chegaram Peyroteo, José Águas ou Eusébio, só para mencionar atacantes da seleção – e marcou uma era numa equipa que tinha tudo para se sentir órfã daquele que era o melhor avançado-centro nacional da última década: Vítor Silva, que se retirara com apenas 27 anos. Autor de 17 golos na Liga e de mais dois no Campeonato de Portugal, Espírito Santo era tão ágil que viria a destacar-se com a obtenção de recordes nacionais de salto em altura, salto em comprimento e triplo-salto, todos fixados no Verão de 1938, antes de se dedicar apenas ao futebol. Foi a resposta de que precisava uma equipa do Benfica que continuava a ter em Gaspar Pinto e Francisco Albino as garantias de solidez atrás e que encontrava no extremo rematador Alfredo Valadas e no interior Rogério de Sousa a certeza de que não lhe faltaria o caminho para o golo, mesmo depois de ter encarado com certeza e segurança uma arriscada mudança de comando técnico. É que a época do Benfica abriu de forma até um pouco constrangedora: quando começou a competição, em Outubro, Vítor Gonçalves, o treinador que tinha sido campeão da Liga, apresentou-se perante a direção e pediu... um contrato. Estava há dois anos à frente do futebol do clube e achava-se nesse direito. Não pensou assim a direção de Vasco Ribeiro. O contrato não apareceu, Gonçalves saiu para o Barreirense e no lugar dele surgiu o húngaro Lipo Herczka, que até já tinha sido campeão espanhol no Real Madrid e dirigira várias equipas espanholas depois disso, mas a quem a crítica espanhola já apontara falta de pulso na liderança.