Quanto vale Darwin Nuñez?
Esta é a pergunta que anda na boca de toda a gente - até de Nélson Veríssimo, imaginem. Mas antes de lhe responder, há uma série de outras questões às quais há que replicar.
É provável e é até normal que boa parte da conferência de imprensa que Nélson Veríssimo vai dar hoje, antes da decisão da segunda mão dos quartos-de-final da Liga dos Campeões, entre Liverpool FC e Benfica, seja acerca de Darwin Nuñez. É verdade que o facto de a sessão ocorrer ainda em Portugal – as equipas passaram a viajar mais tarde para este tipo de jogos, com o correr dos anos – pode diminuir consideravelmente o impacto da curiosidade dos jornalistas dos mercados que contam, mas o atacante uruguaio é o homem do momento e falar dele não é, como se queixam os adversários do Benfica, “propaganda”. No fundo, anda tudo ao mesmo: quanto vale neste momento Darwin Nuñez? E o Benfica deve vender ou ficar com ele? Já lá chego. Mas há uma série de outras perguntas às quais é importante responder antes disso.
A primeira pergunta (quanto vale Darwin?) tem resposta, ainda que com advertência: há muito negócio no futebol feito acima e abaixo do valor de mercado sem que tenha necessariamente que ser aldrabice. Já a resposta à segunda questão (e o Benfica deve vender?) depende de muita coisa. Depende sempre do projeto, da vontade do jogador, das ofertas que chegarem, da existência ou da falta de alguém que possa ocupar-lhe a vaga no ataque... Darwin já fez 31 golos esta época, cinco dos quais na Liga dos Campeões, prova na qual marcou ao FC Barcelona, ao Ajax e ao Liverpool FC. Leva nove golos de avanço sobre Taremi e Ricardo Horta na lista de melhores goleadores da Liga, onde os seus 24 tentos já quadruplicaram os seis que tinha feito no campeonato na época de estreia pelo Benfica. Darwin viu, portanto, o seu valor de mercado subir extraordinariamente, mesmo que em rigor deva dizer-se que ele está ainda mais perto dos 24 milhões de euros que o Benfica pagou por ele ao UD Almería há ano e meio do que dos 126 milhões que o Atlético Madrid deu por João Félix há três anos e a que Nélson Veríssimo aludiu há dias, num exercício que só se entende por ele se ter deixado enredar num daqueles “campeonatos de transferências” com que os adeptos se entretêm no café em dias nos quais não há penaltis ou foras-de-jogo para debater.
Quanto vale Darwin? Os algoritmos dos portais como o Transfermarkt, que levam em conta milhares de negócios feitos pelo Mundo fora para estabelecer limites nas valorizações e nas desvalorizações, dão uma resposta. Diz o portal alemão que o atacante uruguaio andará pelos 40 milhões de euros. Eu até concedo que esta pode ser uma avaliação ligeiramente por baixo, que ele pode valer 50, tendo em conta o alto perfil de alguns golos que marcou, mas volto ao ponto: uma coisa é o que o jogador vale e outra a etiqueta colada à sua transferência. Quando chegou ao Benfica, vindo do UD Almería, por 24 milhões, Darwin valia – ainda segundo o mesmo Tranfermarkt – 10 milhões de euros. Porque é que o Benfica pagou tanto por ele, então? Simples: porque o queria, porque acreditava – e aparentemente com razão – que ele podia ser o homem certo e porque, provavelmente, do outro lado estava um clube renitente em vender. Porque é que os espanhóis venderam, nesse caso? Provavelmente porque houve pressão da parte do jogador, mais interessado em jogar a Liga dos Campeões do que a II Liga espanhola, ou porque terão sentido que no seu próprio contexto dificilmente ele valorizaria além daqueles 24 milhões.
Seja qual for a explicação, não terá seguramente sido porque a imprensa andaluz fez muitas primeiras páginas a glorificar as proezas do uruguaio para o valorizar e, vai daí, o Benfica achou que ele valia mais do que valia na realidade. Nenhum clube em condições de pagar milhões de euros por um jogador o faz por ele ter aparecido nas primeiras páginas dos jornais ou por haver comentadores a dizerem que ele é a oitava maravilha do Mundo. Quem gasta milhões em jogadores começa por gastar dezenas de milhar em scouting e é nesses relatórios que se baseia. Ainda assim, qualquer clube pode ter de pagar um jogador acima do valor de mercado se o contexto apontar para aí. Ou abaixo, se a urgência de vender for maior do que a vontade de comprar. E aqui, volto a dizer, não há decisões certas ou erradas. Há contextos. Para o ilustrar, vejamos os casos de três jogadores recentemente em foco no futebol português: Pedro Gonçalves, João Palhinha e Luis Díaz.
Com exceção do brilho na Champions, porque o Sporting não estava lá, mas juntando-lhe um título de campeão nacional que Darwin não vai conseguir este ano, Pedro Gonçalves fez na época passada um percurso muito semelhante ao que está a ser feito atualmente por Darwin: passou de sete para 23 golos, foi o melhor marcador da Liga e chegou à seleção nacional. De acordo com o Transfermarkt, num ano, o seu valor de mercado passou de sete para 22 milhões de euros. Mas o Sporting não vendeu, da mesma forma que não vendeu Palhinha, líder do meio-campo no ano do título e titular da seleção nesse mesmo período. Fez mal? Se olharmos para as coisas apenas na perspetiva do mercado, sem dúvida que sim: nem um nem o outro valerão hoje tanto como há nove meses. Mas na realidade talvez não. Porque nem numa Liga como a portuguesa, excessivamente dependente da criação de mais-valias, a gestão de uma equipa se faz apenas com base naquilo que os jogadores podem valer no mercado. Há outros fatores a ter em conta, como aqueles a que aludi acima: a vontade do jogador, a existência ou não de propostas, a convicção de que o negócio pode ser melhor se feito mais tarde ou a ausência de um substituto pronto a entrar sem perda de qualidade.
Noutro sentido, aparece a venda de Luís Díaz pelo FC Porto ao Liverpool FC. Montado em cima de uma Copa América notável e de uma primeira metade da Liga em que foi decisivo, o colombiano chamou a atenção do potentado inglês, mas acabou por sair por um valor muito próximo do que era à data o seu valor de mercado – 45 milhões de euros. Fez mal o FC Porto? Depende. O jogador queria ir, o clube português precisava do dinheiro e, ainda que com perda de qualidade, havia um homem alinhado e a ser preparado para o substituir (Pepê). Díaz iria valer mais em Julho? É bem provável. Mas não é de excluir que também pudesse acabar por valer menos. Porque, se o próprio rendimento desportivo dos jogadores já é, em si, uma incógnita, o mercado depende de muitas outras variáveis ainda mais difíceis de controlar.
É por isso que, com Darwin, o Benfica tem de ter um plano. Claro que há valores acima dos quais não há plano que resista – e ainda há dias falei, no Futebol de Verdade (pode inscrever-se no canal aqui), num cenário imaginário em que um agente conseguiria, por exemplo, resolver o berbicacho Harry Kane ao Tottenham pedindo em troca que os londrinos ficassem com Darwin, mesmo que acima do valor de mercado. Mas esses negócios, que acabam por ser bons para todas as partes, são exceções. São raros. Dentro da normalidade, antes de começar a imaginar quanto pode receber por Darwin, o Benfica precisa de decidir o que quer fazer. Como vai jogar em 2022/23? Que papel está destinado ao uruguaio nesse plano? Há alguém no grupo além dele capaz de fazer esse papel sem grande perda de qualidade? Que jogadores estão identificados no grupo para lhe calçar as chuteiras se ele for embora? E fora do grupo? No caso destes, quanto custam? O que quer o jogador? E o seu agente? Que contexto coletivo vai ser possível proporcionar-lhe caso ele fique? Que perspetivas há de a equipa ganhar e ele poder continuar a valorizar? Todas estas perguntas surgem antes daquela que anda na boca de toda a gente, que é “quanto vale Darwin Nuñez?” Tratem, por isso, de lhes responder antes de quererem saber como acaba a novela.
Como costuma dizer....vale o que o mercado pagar por ele.
Muitas perguntas e poucas respostas de caras.
O mercado é sempre uma incógnita, depende de vários factores, um deles é a necessidade do comprador. Pode procurar um ponta de lança mas não a qualquer preço, mesmo alguém com a valia do Darwin.
Uma questão que acho que já tem resposta é o timing de venda...acho que pode ser uma época única para o clube vender o jogador em alta. Não é todas as épocas que, pode até nem se repetir mais nenhuma vez, o jogador marcar golos a tantos colossos europeus e isso.deve ser levado em conta.
Veja-se o exemplo que o António deu sobre o Palhinha. Não foi vendido em alta, agora apesar de haver um substituto natural ( Ugarte ) vai o clube abdicar dum activo como Joao Palhinha em ano de mundial, por um valor abaixo do expectável porque nem sequer titular é agora?
Voltando ao negócio Darwin.
Qual é a ideia de comprar Musa?
Ficar com Seferovic e colocar Musa como suplente? Outro Pinho?
E a recusa em vender Vinicius para o brasileiro quer dizer o quê? Segunda oportunidade?
Acho o suíço um excelente ponta de lança, mas substituir Darwin e uma época destas não é fácil.
Como disse, muitas perguntas e poucas respostas concretas, o que só prova que qualquer que venha a ser a decisão dos dirigentes do clube encarnado, será sempre uma incógnita.