Podem fechar isso
A eleição de Messi como melhor jogador do Mundo nos primeiros oito meses de 2023 é tão impossível de justificar que nos deve transportar para outra dimensão: o que se vota quando se vota no The Best?
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Li o jornal da primeira à última página e depois voltei atrás a ver se não me tinha escapado nada. Mas não, no L’Équipe de hoje não há uma linha sobre a vitória de Messi no FIFA The Best. E pensei na disputa jurídica entre o mais afamado jornal desportivo da Europa e a FIFA, na junção e depois na separação daquele prémio com a Bola de Ouro. Retaliação? Talvez. Fui à Gazzetta dello Sport, que já teve melhores dias mas continua a ser uma referência em Itália. Há uma página com Simone Inzaghi e Luciano Spalletti, os dois nomeados para perderem com Pep Guardiola o prémio de treinador do ano, e uma notícia breve, 14 linhas a uma coluna, na qual se lê que Messi tinha ganho a votação para jogador do ano. O próprio Messi não apareceu na cerimónia nem designou ninguém para receber o prémio, oferecendo a Thierry Henry uma assistência perfeita para mostrar bom humor, quando brincou com a paixão da companheira de palco, Reshmin Chowdhury, pelo Tottenham, razão pela qual não estaria habituada a pôr a mão em troféus. Cristiano Ronaldo, o capitão da seleção portuguesa, nem se dignou a gastar cinco minutos do seu precioso tempo para votar, preferindo delegar em Pepe, que é o seu segundo. É inveja? Revolta por ter visto como Messi se distanciou dele no final de uma carreira que durante anos os teve a par? Talvez. Mas, para o CR7, votar no The Best seria hoje uma tarefa secundária, assim como ir pôr o lixo ao contentor. Roberto Martínez, o selecionador nacional, votou, mas é quase como se o não tivesse feito, que escolheu o croata Brozovic, é certo que importante na final da Liga dos Campeões, que jogou pelo Inter, mas um jogador mais ou menos irrelevante no panorama internacional. Votar Brozovic é assim como votar Tino de Rans ou Manuel João Vieira nas presidenciais, para não ter de escolher entre os que verdadeiramente contam. Foi no meio deste panorama que Messi foi eleito, por quem sabe da coisa, como melhor jogador do Mundo no período entre 19 de Dezembro de 2022 e 20 de Agosto de 2023. O período sujeito a votação começava um dia após a final do último Mundial, compreendia os festejos do título pela Argentina, em que Messi esteve muito bem, 22 jogos pelo Paris Saint-Germain (com onze golos, mas oito derrotas, incluídas as duas, sem marcar, contra o Bayern, nos oitavos-de-final de mais uma tentativa fracassada de conquistar a Liga dos Campeões), três particulares pela Argentina contra super-potências do calibre do Panamá, Curaçao e Austrália, e sete partidas, aí sim sempre a marcar golos, pelo Inter Miami na Taça das Ligas dos Estados Unidos. O Mundo parou para ver a final da competição, em que o Inter bateu nos penaltis o Nashville SC do ex-jogador do Benfica B Hany Mukhtar e em que Messi fez um golo nas redes guardadas por essa lenda das balizas que é Elliot Panicco – e juro que tive de voltar atrás para ver se o nome se escrevia com dois enes ou com dois cês. É nesta altura que os analistas começam a esgrimir argumentos. “Não faz sentido escolher um melhor jogador do Mundo porque o futebol é um desporto coletivo”, dizem uns. Mas claro que faz. Porque mesmo nesse coletivo há quem tenha mais e menos influência. “Um prémio entregue a Messi estará sempre certo, porque ele é o melhor jogador do Mundo, independentemente do que tiver feito nesta época em particular”, argumentam outros. Posso até concordar que Messi, somados todos os seus anos de carreira, seja o melhor jogador do Mundo ainda em atividade, mas o The Best distingue o melhor no período em apreço. Caso contrário seria entregue sempre ao mesmo. E no período em apreço Messi não foi sequer um dos dez melhores do Mundo, quanto mais o melhor. Jogou numa equipa que ele não conseguiu tornar relevante no panorama internacional, acabando afastado da Champions nos oitavos-de-final. Nela, naqueles oito meses, fez metade dos golos – embora, é verdade, mais uma assistência – marcados por Mbappé, por exemplo. Foi campeão de França? Foi pois. Mas descobrir na influência de Messi na conquista do título francês por parte do PSG as razões para o eleger é tão ridículo que basta reparar que no período sujeito a votação o clube das vedetas em França deitou fora quatro dos cinco pontos que tinha de avanço sobre o RC Lens, acabando por ser campeão in-extremis. O que a eleição de Messi como FIFA The Best em 2023 nos diz é muito simples: podem fechar isso que já ninguém está a ver.
Martínez e a flexibilidade. Foi interessante a presença de Roberto Martínez no Futebol Total, do Canal 11, ontem, sobretudo porque o selecionador foi confrontado por Pedro Bouças com as imagens da transformação do 3x4x3 com que iniciou o percurso português no 4x2x3x1 em que estabilizou a equipa, mantendo a organização ofensiva em 3x2x5 em ambas as estruturas através da passagem do lateral esquerdo para o papel de médio centro. Quem quiser hoje ler sobre a participação de Martínez no programa vai ficar a saber que ele elogiou João Neves, Gonçalo Inácio, Diogo Costa e até o sub17 Quenda – sempre na vertigem de equilibrar elogios por todas as cores, para não alienar nenhuma parte da sua base de apoio – ou que reconheceu que Portugal é “uma das sete ou oito equipas que podem ganhar o Europeu”, mas deixem-me que vos diga que isso é absolutamente irrelevante. Significativo foi Martínez ter admitido o que já vos tinha dito aqui – que a mudança tática tem o mérito fundamental de poder encaixar o melhor Leão, por fora, com a entrada do lateral esquerdo para dentro – e ter admitido que tem três jogadores capazes de se tornar a peça móvel do sistema: Guerreiro além de Cancelo e Dalot. Continuo curioso com a possibilidade de a transformação ser feita também a partir da direita, que se Guerreiro é canhoto e só o vejo a partir daquele lado, os outros dois podem muito bem sair do seu lado natural, na condição de destros. E Portugal pode jogar com essa imprevisibilidade, tendo de um lado um lateral aberto e um avançado por dentro (Bernardo ou Félix) e do outro um lateral por dentro e um avançado aberto (Leão ou quem Martínez vir que pode fazer a mesma coisa pela direita).
Um bom Vitória. O sucesso, de virada, sobre o FC Arouca, no encerramento da primeira volta da Liga, valeu ao Vitória SC a possibilidade de igualar o SC Braga no quarto lugar. Olhando para o investimento feito pela equipa de Artur Jorge e para a confusão que foi o início da época em Guimarães, com três trocas de treinador até à chegada de Álvaro Pacheco, ninguém diria que tal seria possível. Mas o culto da estabilidade feito pelo antigo técnico de FC Vizela e Estoril tem sido fulcral para o crescimento de um Vitória que, é preciso reconhecê-lo, ainda está um patamar abaixo do SC Braga, mas pode perfeitamente aproveitar a eventual quebra braguista para surpreender a equipa mais apetrechada do Minho na luta pelo quarto lugar. Tal como em Vizela, Pacheco percebeu que a criação de rotinas era fundamental e pôs a equipa a jogar de cor. Tem um bom guarda-redes em Varela, tão comprometido com a equipa que pediu para não ir à CAN. Mesmo sem Villanueva, tem em Jorge Fernandes, no renascido Borevkovic e em Tomás Ribeiro uma tripla de centrais que se completa bem. Os alas Bruno Gaspar e Mangas dão andamento. Tiago Silva está, aos 30 anos, um médio maduro e o enquadramento perfeito para a juventude de Händel ou Dani Silva. Da frente vem sempre um terceiro médio, seja ele João Mendes ou Nuno Santos. E no ataque, ao perfil mais associativo de André Silva junta-se o jogo feito de roturas de Jota Silva, ainda com a possibilidade de chamada de Butzke e Nélson da Luz, dois jogadores diferentes, mais possante o espanhol que o brasileiro, mais driblador o angolano do que o português.
Assim como em certas ocasiões se retira determinado N. de camisola, também o prémio The Best e o Ballon D'Or devem ser retirados. Enquanto Messi for vivo, mais nenhum mortal será digno de receber tais distinções.
Disclamer: este comentário possui ironia.
Acho que o CR7 nao deveria ter delegado a votacao no Pepe.
E acho que devia naturalmente digo eu votar nos que merecem seja qual for a ordem que quiserem escolher: Haaland, Mbappe, KdB, Osimhen, Rodri.
Os outros que pensassem o que quisessem sobre a votação dele.
É a minha opiniao.