Os meus 26 para o Mundial
A minha escolha de 26 para o Mundial tem duas dores, que são as exclusões de Pepe e João Moutinho. O primeiro porque não sei se está em condições, o segundo porque já tem quem o supere.
O mais extraordinário na contestação a Fernando Santos é que, chamados a escolher os 26 jogadores para a fase final do Mundial de futebol, nove em cada dez portugueses só divergem em um ou dois nomes. Eu próprio fiz a minha lista e estou convencido de que, no máximo, terei duas ou três opções diferentes das de Santos – e se uma delas for na posição de defesa-central, será possivelmente por desconhecimento da real situação do jogador, que a mim, ao contrário do que sucede com o selecionador nacional, não me são dados relatórios pormenorizados nem absolutamente reais e sinceros acerca da situação física dos futebolistas. Pepe é importante na equipa, em condições normais estaria sempre nesta lista, mas por aquilo que me é dado a saber eu não o levaria ao Qatar.
O central e capitão do FC Porto – e subcapitão da seleção – está lesionado, não joga há mais de um mês, desde 4 de Outubro, e há mais de dois meses que não faz mais de dois jogos seguidos ao ritmo que o Mundial vai exigir: de quatro em quatro ou de cinco em cinco dias. É notável que, aos 39 anos, mantenha a forma física e a velocidade que mostrou neste início da época. A olho nu, sem acesso a testes físicos, creio que ainda seria dos jogadores mais velozes da seleção. Mas a verdade é que Pepe não tem estado apto para jogar. E levá-lo numa lista em que um dos centrais escolhidos, Danilo, já é uma concessão à adaptabilidade do jogador, que é médio de origem, implicaria provavelmente a necessidade de gastar uma vaga extra com um quinto central. E essa vaga fará falta mais à frente no campo. Não é, reforço, uma questão de merecimento – poucos jogadores merecerão mais a presença no Mundial do que Pepe. É uma questão de ter base para achar que ele possa vir a ser útil no intenso mês que aí vem. Eu não tenho essas garantias – nem poderia tê-las, porque não é a mim que os médicos do FC Porto e da seleção prestam contas. Fernando Santos, se o incluir na lista, certamente as terá.
A questão que se coloca com a ausência de Pepe vem realçar aquela que tem sido a minha maior fonte de reserva face à gestão das convocatórias e sobretudo dos minutos que têm sido dados aos jogadores. Faltam jogadores rodados na posição de defesa-central. Gonçalo Inácio já devia ter jogado na seleção, David Carmo já devia ter jogado na seleção, Tiago Djaló já devia ter jogado na seleção. Por serem casos de afirmação mais recente ao mais alto nível, aceito melhor que Diogo Leite e António Silva ainda não tenham jogado na seleção, mas há uma clara dificuldade do selecionador em aclimatar jogadores jovens à posição que foi a dele nos tempos de futebolista. E isso conduz ao avolumar das dúvidas acerca dos mais novos. Se já estarão à altura, se – quando é caso disso – se adaptarão bem à passagem de um sistema com três centrais para uma linha de quatro atrás. Dúvidas essas que levaram Santos a chamar sempre uma base muito veterana para o centro da defesa em todas as fases finais que jogou com Portugal. Eu, para esta fase final, levaria dois jovens. Sim, levaria António Silva, que me parece já ter feito o suficiente para merecer esta prova de confiança. E levaria Gonçalo Inácio, pela importância de ter um defesa-central esquerdino e porque, apesar da má temporada do Sporting, parece estar melhor do que David Carmo no plano individual e me suscita menos dúvidas acerca da sua capacidade de adaptação a uma linha de quatro defesas do que Diogo Leite.
Quanto ao resto da equipa, poucos nomes estarão abertos a grande discussão. Há o caso do terceiro guarda-redes que, lá está, é muitas vezes escolhido mais em função do ambiente que cria quando é remetido para esse papel quase de figurante do que do rendimento esperado – e essa é outra realidade que nem eu nem o público conhecemos, porque nunca deixa o seio da equipa. Escolhi Rui Silva porque me parece ser quem está melhor entre os candidatos, ainda que depois isso deva acabar por ser mais ou menos irrelevante. Os laterais são absolutamente consensuais, apesar do bom rendimento de Mário Rui no SSC Nápoles. Não creio que o crescimento de Florentino esta época justifique ainda a inclusão numa lista que já tem Rúben Neves, Palhinha e ainda Danilo e William, que podem cumprir a função de médio mais recuado em caso de necessidade. E essa é também a razão para a exclusão de João Moutinho, jogador de que gosto particularmente, mas que viu a sua importância na equipa reduzir com a afirmação de Neves e Vitinha. Moutinho é uma espécie de simbiose entre os dois. Tem a capacidade de organização da equipa de Rúben Neves, sabe entregar a bola sempre redonda, é jogador de posse, como é Vitinha, e até lhes acrescenta, tanto a um como ao outro, em capacidade defensiva, mas não é tão forte como eles nas coisas que eles fazem melhor: Rúben Neves é melhor seis distribuidor do que Moutinho e Vitinha é melhor oito criativo do que Moutinho.
E é aqui que se coloca a questão: mas por que razão não podem ir todos? É que o incremento de qualidade a meio-campo e na frente leva a que se valorizem questões como a diferença para justificar escolhas. Só há dois médios capazes de esticar o jogo e de queimar linhas em posse – e um deles tem de ir. Eu levaria Matheus Nunes e deixaria Renato Sanches em casa, também por uma questão de consistência competitiva nos últimos tempos. Apesar de ser um dos menos apreciados pelo público, William é o mais possante dos nossos médios – além de que acrescenta muito mais do que as pessoas julgam em qualidade de passe para zonas de criação. Por mim, também iria. Há, depois, vários jogadores com capacidade para jogar entre linhas – João Félix, Bernardo Silva, Pedro Gonçalves, Ricardo Horta, até João Mário... – mas poucos em condições de acelerar com bola na frente e procurar a profundidade. Até pela lesão de Diogo Jota e pela renúncia de Rafa, creio que fará falta Gonçalo Guedes, que com o mais indiscutível Rafael Leão cumprirá essa missão. Aliás, o “acelera” é um tipo de jogador muito valorizado por Santos, que talvez até levasse mais de dois, assim os tivesse. Mas não me parece que faça mal à equipa aumentar a sua capacidade de pensar face à tentação de pura e simplesmente acelerar.
Assim sendo, aqui fica a minha lista de 26 para o Mundial do Qatar:
Guarda-redes: Diogo Costa, Rui Patrício e Rui Silva;
Defesas: João Cancelo, Diogo Dalot, Rúben Dias, Danilo Pereira, António Silva, Gonçalo Inácio, Nuno Mendes e Raphael Guerreiro;
Médios: Rúben Neves, João Palhinha, Vitinha, William Carvalho, Matheus Nunes, Bruno Fernandes, Otávio Monteiro e João Mário;
Avançados: Bernardo Silva, Rafael Leão, João Félix, Ricardo Horta, Gonçalo Guedes, Cristiano Ronaldo e André Silva.
Fernando Santos revelará a lista dele às 17h30. Você ainda pode votar nos seus 26 neste link. Em 36 horas, já lá estão 950 respostas. Hoje, às 12h30, no Futebol de Verdade, revelarei quais são as escolhas do público.