Os meus 26 para o Europeu
Como sempre, umas horas antes do selecionador nacional divulgar a convocatória, aqui deixo os 26 nomes que incluiria numa lista para o próximo Europeu se fosse eu a escolher.
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O grande desafio que se coloca quando pretendemos escolher 26 jogadores para formar uma seleção nacional para uma prova como o Europeu de futebol não é tanto o de eleger os 26 em melhor forma, os 26 que mais merecem ou os 26 melhores em absoluto como é o de chamar os 26 que fazem mais sentido juntos, que se juntam e fazem uma equipa melhor, com menos lacunas. É esse o dilema presente na mente de cada selecionador, que primeiro tem de imaginar uma forma de jogar – e não, não estou a pensar no sistema tático, estou a pensar mesmo numa forma de jogar, de atacar, de defender e de transitar –, depois precisa de pensar numa alternativa e por fim deve preencher as vagas com jogadores que o deixem descansado perante todos os cenários que possam vir a colocar-se. Foi isso que fiz quando elaborei, como tenho feito sempre nas últimas grandes competições, a minha lista de 26 convocados para o Europeu da Alemanha. Esta, devo recordar-vos, não é uma tentativa de adivinhar a lista que Roberto Martínez vai divulgar daqui a umas horas. Esta é a minha lista, a lista que eu faria se me fosse dada a possibilidade de escolher.
O facto de a lista poder incluir 26 nomes e não os 23 tradicionais até ao Covid permite alguma flexibilidade nas questões que a tática e a estratégia possam vir a complexificar. Por exemplo: quantos defesas-laterais vão? E têm de ser irmãmente divididos entre esquerdos e direitos? Ou devem obedecer a outro tipo de caraterísticas, com uns capazes de se inserirem ao meio como segundos médios no momento de construção e outros em condições de poderem esticar o jogo na largura e na profundidade? E quantos defesas-centrais vão? Só quatro? Ou aproveita-se a possibilidade de podermos chamar 23 jogadores de campo – basicamente dois por cada posição e mais três jokers – para chamar um extra, para uma posição que é em si específica, como a de ponta-de-lança ou a de guarda-redes? Mas, como Danilo poderá ser central ou médio, estará ele em condições de ser esse quinto defesa-central? Para que posições vão, então, os jokers? Um ou dois para o ataque, aproveitando o facto de Bernardo Silva estar incluído no lote dos atacantes mas também poder jogar a meio-campo? Isto é, vamos com oito defesas e depois com sete médios e oito avançados ou com sete avançados e oito médios? Ou mete-se mais um defesa, para resolver a questão das dúvidas acerca da condição física de Pepe e nesse caso abdica-se de um joker na frente?
Basicamente, o primeiro exercício a fazer é: como queremos jogar? Vamos certamente partir do 4x3x3, certo. Mas como queremos construir? A três, certamente. E quem são esses três? Durante boa parte da qualificação, foram os dois centrais e o médio-defensivo, com um dos laterais – o que partia da esquerda – a incluir-se numa segunda linha, ao meio, como segundo médio, ao passo que o outro avançava para a linha da frente, dando à direita a largura que na esquerda era dada pelo extremo. Portugal partia do 4x3x3, mas atacava em 3x2x5. E é isso que vai fazer no Europeu. A questão é que pode fazê-lo de uma série de maneiras diferentes, logo desde o início de construção – e isso condiciona as escolhas. Porque, lá está, é importante que tudo funcione de forma harmoniosa. Exemplos? Rafael Leão só funciona bem se puder sair da linha, começando em largura, à esquerda, ao passo que do outro lado Bernardo Silva já pede um início de fase ofensiva mais interior e próxima dos médios, para dividir com eles a tarefa de criação e às vezes até de organização. Logo, faz sentido que o lateral esquerdo jogue mais por dentro e que o direito preencha a largura que não queremos que seja Bernardo a ocupar. Por outro lado, se o lateral-esquerdo pode disponibilizar-se para um jogo mais interior, é possível que o faça mais como segundo médio, imagine-se, ao lado de Vitinha, mas também como terceiro homem de trás, resolvendo de uma assentada dois problemas: o da falta de um pé esquerdo na construção entre centrais além do de Inácio e o da menor agilidade de João Palhinha em início de construção quando defrontamos equipas capazes de pressionar alto e de nos condicionar desde ali. Portugal podia então sair com os dois centrais e Nuno Mendes, mantendo dois médios numa segunda linha. Como podia trocar os lados da operação, chamar Bernardo a tarefas de construção ao meio, abrir um extremo na direita e fechar o esquerdo, pedindo-lhe que seja ele a jogar mais dentro – e aí trocar também a amplitude das laterais. É em função de todas estas nuances que podemos passar à lista.
A baliza não oferece muitas dúvidas. Vão Diogo Costa, José Sá e Rui Patrício. Patrício não tem tido tempo de campo, mas ganha a vaga em função da forma como sempre esteve lá, até no momento em que perdeu a titularidade. Depois quem joga se Diogo Costa faltar? Isso terá de ser o treino a dizer, mas desde que ele vá dando boas sensações, por enquanto será Patrício. Na nova época é natural que precise de ter baliza para poder continuar a integrar este grupo. Nas laterais, a grande dúvida é a condição física de Raphael Guerreiro, lesionado no início do mês na derrota do Bayern em Estugarda. Guerreiro é um jogador experiente, que poderia dar à equipa a rotina de médio a partir da lateral e o pé esquerdo forte em início de construção, mas tem um historial de lesões que impede que ele seja confiável se decidirmos levar só quatro laterais, pelo que a minha escolha cai, para já, em João Cancelo, Diogo Dalot, Nélson Semedo e Nuno Mendes. Só há um canhoto, sim, mas Cancelo e Dalot já jogaram a partir da esquerda na qualificação. Tanto um como o outro podem funcionar tanto na metamorfose em médios como na largura, ao passo que Nélson Semedo e Nuno Mendes também dão soluções como laterais mais puros e como terceiros centrais em momento de início de construção, um pela direita e o outro pela esquerda. Guerreiro fica, para já, em lista de espera.
Chegamos aos defesas-centrais e a grande dúvida é Pepe. O capitão do FC Porto – e subcapitão da seleção – não joga desde 21 de Abril, devido a lesão. Estará neste momento a lutar contra o tempo para poder jogar a final da Taça de Portugal e a prudência mandaria que ficasse de fora. Há ano e meio, antes do Mundial, excluí-o da minha lista pela mesma razão (estivera em campo por três minutos no mês e meio que antecedeu a convocatória), mas Fernando Santos levou-o e ele acabou por ser dos melhores no Qatar. Com 26 convocados, não volto a cometer o mesmo erro. Pepe vai, a acompanhar Rúben Dias, Gonçalo Inácio e António Silva como quarteto de centrais, aproveitando-se o facto de Danilo, que entra como médio, poder alinhar também mais atrás. E muito também porque, dando Nuno Mendes alternativas a construir atrás, os centrais canhotos além de Inácio (Toti Gomes, Diogo Leite...) não são de qualidade inquestionável e parecem alguns patamares abaixo do resto da equipa. Vamos então com onze jogadores escolhidos e a caminho dos médios.
Aqui, o modelo passa, antes de mais, por escolher dois elementos para cada função prevista na forma de jogar de Portugal – dois médios de cariz mais defensivo, dois médios capazes de se colocarem ao lado deles nas primeiras fases de construção – e de fecharem com eles ao meio sem bola no 4x4x2 que a equipa usa em organização defensiva – e dois médios ofensivos, que vão jogar perto dos avançados com bola e fechar o corredor oposto ao de Bernardo Silva quando a equipa não tem bola. Para o primeiro caso, as escolhas evidentes são João Palhinha e Danilo, com a particularidade de este poder funcionar como defesa-central numa emergência. Muitas vezes se comete o erro de dizer a mesma coisa de Palhinha, mas a única situação em que João Palhinha podia ser central era uma fase de assédio extremo à nossa baliza, aproveitando-se a sua estatura e poder físico, uma vez que nos momentos com bola ele não seria igualmente adaptável. Para o segundo caso, as opções caem em Vitinha e João Neves, com mais poder ofensivo do primeiro e mais segurança e controlo de jogo do segundo. Para o terceiro papel, por fim, entram Bruno Fernandes e Matheus Nunes, sendo que este apresenta caraterísticas únicas na capacidade para esticar o jogo com bola e queimar linhas em posse a partir de zonas interiores que a seleção não tem desde o melhor Renato Sanches. Em desvantagem, Matheus poderia entrar como segundo médio, para partir o jogo. Em vantagem, João Neves até podia juntar-se a Vitinha, adiantando-se este, para aumentar a segurança na posse e a capacidade para ganhar duelos, eventualmente subindo Bruno Fernandes – que em condições normais eu prefiro ver mais atrás, para lhe aumentar a visão panorâmica do jogo e a capacidade de meter passes de rotura.
Com as seis vagas ocupadas, chegamos a 17 jogadores chamados, deixando Rúben Neves e Otávio naquele limbo em que já estava Guerreiro. E passamos aos avançados. Já vos falei atrás das duas formas que a seleção pode ter para inclinar o jogo para um ou para o outro lado – ou com um lateral aberto e um avançado fechado à direita e um avançado aberto e um lateral fechado à esquerda ou exatamente ao contrário, invertendo os papeis do defesa-lateral e do avançado. Em organização ofensiva manter-se-ia o 3x2x5, mas baralhava-se o lado em que os adversários teriam de compensar. Defensivamente, só muda o lado do médio ofensivo fechar no 4x4x2, porque o extremo aberto abre sempre na primeira zona de pressão com o ponta-de-lança. Assim sendo, como o lugar de ponta-de-lança é terrivelmente específico, convém ter três: Gonçalo Ramos, Cristiano Ronaldo – sim, ainda é cedo para o reformar – e Diogo Jota. Jota não joga desde 21 de Abril, mas já esteve no domingo no banco do Liverpool FC, pelo que já estará em condições de ser chamado. E se não estiver? As opções são Jota Silva ou Paulinho, o mais certo é Martínez ir pelo vimaranense, que é mais parecido com o atacante do Liverpool FC, mas eu escolheria o leão, que é mais forte como atacante posicional – e avançados dos de aparecer em vez de estar já temos muitos. A questão da complementaridade de caraterísticas é decisiva, para mim, na escolha do extremo aberto à direita. A vaga de Bernardo Silva ali é uma evidência, a escolha de uma alternativa pode contemplar Trincão ou Conceição. Um foi fundamental no título do Sporting, o outro um raio de luz na época dececionante do FC Porto, mas Conceição tem a seu favor caraterísticas mais diferenciadas no grupo, como a força no um-para-um seguida da mudança de velocidade. Vou com Conceição, portanto. Do outro lado, Rafael Leão é o extremo aberto e para o lugar de atacante fechado podemos optar entre João Félix, Pedro Gonçalves ou Ricardo Horta. Vou com o homem do FC Barcelona, esperançoso de que numa competição curta e de concentração máxima ele se apresente em condições perto das perfeitas, mas mantenho os outros dois em stand-by.
Sobram duas vagas e há vários candidatos. Guerreiro, um central canhoto (mas quem?), Rúben Neves, Otávio, Pedro Gonçalves, Ricardo Horta e um ponta-de-lança extra, seja ele Paulinho ou Jota. E a questão, aqui, é a de se perceber quem é que teria mais hipóteses de vir a ser útil. Vou com Otávio e Pedro Gonçalves, por duas razões: tanto um como o outro podem jogar seja a meio-campo ou na frente e possuem caraterísticas que não são assim tão comuns na equipa, como os passes de rotura do jogador do Al Nasr e a relação com a baliza do homem do Sporting. Ricardo Horta fica a perder com ambos e as faltas de Guerreiro e Rúben Neves já me parecem mais fáceis de compensar.
Os meus 26 são, portanto, os seguintes:
Guarda-redes – Diogo Costa, Rui Patrício e José Sá;
Defesas – João Cancelo, Diogo Dalot, Nélson Semedo, Nuno Mendes, Rúben Dias, Gonçalo Inácio, António Silva e Pepe;
Médios – João Palhinha, Danilo Pereira, Vitinha, João Neves, Bruno Fernandes, Matheus Nunes e Otávio Monteiro;
Avançados – Bernardo Silva, Francisco Conceição, Gonçalo Ramos, Cristiano Ronaldo, Diogo Jota, Rafael Leão, João Félix e Pedro Gonçalves.
Mais uma vez não é clubite, mais uma vez há GRANDES jogadores formados no Benfica e o João Neves que até joga no Benfica, é mesmo porque Félix é mais um fetiche dos média do que o jogador que querem fazer dele. Foi muito bom e essencial aos 19 anos, desde aí que não tem lugar numa seleção, nem numa equipa como o Barcelona ou o Atlético de Madrid, mas não só vai, como será titular. Nuno Santos é o mais injustiçado jogador em Portugal, pode ser lateral, ala ou extremo, marca golos e golaços, defende bem e ataca melhor, mas acaba preterido. Pedro Gonçalves é um fora de série, que não vai porque valoriza na selecção e só isso explica como nem Fernando Santos o usou quando foi o melhor marcador do campeonato, alguns até falam de Trincão, quando está ali um jogador que é avançado, extremo e médio, sempre com enorme qualidade e golos. Parece a selecção fechada para valorizar o emigrante...
Dito isto, falo apenas dos que para mim são mais sérios, na minha entram Nuno Santos e Pedro Gonçalves. Entrando Nuno Santos tirava Dalot, tirava Félix e chamava o Horta ou o Trincão.
Na minha lista levaria o Ricardo Velho invés do Rui Patrício. O Nelson Semedo não dá garantias nenhumas a mais alto nível, era preferível levar o Nuno Santos que dá outras coisas diferentes ao jogo. O Jota não está em forma e veio de lesão era preferível o Trincão e o Francisco Conceição os 2 ao mesmo tempo, ou então o Neves, pois temos só o Palhinha e o Danillo pode ser central e o 6 é o jogador que mais amarelos tende a levar no jogo.