Os donos da bola: Premier League (2023)
O Chelsea, vendido por Abramovich a Todd Boehly, foi o clube mais caro da história do desporto mundial e acentuou a tendência para o domínio norte-americano na Premier League. Aqui fica a foto global.
O verdadeiro campeonato das nações que é a Premier League está a ser cada vez mais dominado pela entrada de investidores norte-americanos. Só nos últimos 12 meses, desde a publicação original destes Donos da Bola, houve mais dois americanos, igualmente donos de franchises de outros desportos no seu país, a entrar com posições dominantes em clubes da Premier League: Todd Boehly comprou o Chelsea a Roman Abramovich e Bill Foley é o novo dono do Bournemouth AFC. Os Estados Unidos da América já são o país com mais donos entre as 20 equipas que participam na Premier League, controlando o Liverpool FC, o Chelsea, o Arsenal, o Manchester United, o Crystal Palace, o Fulham FC e o Bournemouth AFC. Sete clubes.
Além disso, o dinheiro dos EUA está muito bem colocado para garantir o título de campeão, dada a vantagem que o Arsenal – precisamente o último campeão com capital inglês, em 2004, antes de ser vendido a Stanley Kroenke – tem sobre os emiráticos (sim, é mesmo assim que se diz...) do Manchester City no topo da tabela. Sendo que nos últimos anos também os norte-americanos do Liverpool FC, os então russos do Chelsea e os tailandeses do Leicester City celebraram a conquista do campeonato. Este ano, dificilmente a vitória final fugirá a um clube de capital estrangeiro, uma vez que pelos lugares cimeiros também andam o Newcastle United transformado pelo capital saudita e o Manchester United, onde o dinheiro americano foi credibilizado por um treinador neerlandês e onde, contudo, se adivinha o regresso ao capital inglês, graças à proposta de compra feita por Jim Ratcliffe, dono da Ineos, à família Glazer.
Ao todo, há doze países representados entre os acionistas maioritários dos 20 clubes da Premier League, sendo que apenas quatro têm maioria de capital britânico. E entre estas só uma, o Tottenham, está entre os habituais candidatos às posições cimeiras. Todos os outros grandes clubes foram sendo alvo de take-overs por parte do capital internacional, sempre atento às possibilidades de negócio que uma vaga na mais mediática Liga de futebol do Mundo pode proporcionar. Essa é a consequência normal do sistema do futebol inglês, que prevê que os clubes profissionais sejam empresas cotadas em bolsa – a não ser que alguém compre a totalidade das ações e retire o clube do mercado bolsista – e por isso mesmo abertas a investidores, mas também da pujança financeira da Premier League no mercado global, tornando o investimento num clube lá presente apetecível e a compra de emblemas situados nas divisões inferiores uma oportunidade de negócio.
Claro que comprar um clube inglês é uma operação onerosa, apenas ao alcance de milionários – se for uma equipa do Championship, onde também já há poucos clubes detidos por capital inglês – ou até de bilionários – se a ideia for adquirir um emblema da Premier League. Mesmo assim, no último ano houve dois a mudar de mãos: o Chelsea e ou Bournemouth AFC. Outros (Manchester United, Everton...) estão na calha para se seguirem. E é evidente que, não havendo assim tantos bilionários interessados em investir no desporto, alguns vão multiplicando interesses em clubes de países diferentes. Esse é um problema que o futebol vai ter de enfrentar em breve.
Para já, nos próximos 20 parágrafos fica a primeira parte da atualização de um trabalho que iniciei no meu site antigo e que há um ano tinha publicado no Substack, para o fazer conhecer, um a um, quem são os donos da bola no futebol europeu. Hoje cá estão os 20 clubes da Premier League de 2022/23. O segundo episódio aparecerá na semana que vem e centrar-se-á no futebol italiano.