Os decalques de Rúben
Já o leu e ouviu: o 4x4x2 que o Sporting mostrou ontem leva Inácio a fazer o que faz Stones no Manchester City. Mas, afinal, o que muda? E estará este destinado a ser o Plano A para a época?
O Sporting apresentou-nos ontem, no jogo de preparação com o KRC Genk, a primeira grande novidade tática da pré-época. A equipa, que nos três anos de Rúben Amorim foi sendo quase sempre estruturalmente fiel ao seu 3x4x3, surgiu num 4x4x2 com alguns decalques do 4x3x3 do Manchester City – uma linha de quatro defesas-centrais atrás e um deles, Gonçalo Inácio, a fazer o papel de Stones, subindo para o meio-campo em posse – e até do que fazia o Ajax dos anos 80 e 90, em cujos momentos ofensivos um central subia e empurrava um dos médios para o ataque, transformando o 4x3x3 em 3x3x4. Não é, naturalmente, sensato decretar se a coisa tem pernas para andar ou se, como dizia Pedro Gonçalves no final do desafio, “em duas semanas de treinos” seria possível “atingir a perfeição”, mas pode-se refletir acerca dos efeitos que a mudança terá no futebol da equipa, tendo em conta as caraterísticas dos jogadores à disposição do treinador. A primeira dúvida que se coloca é se este vai passar a ser o sistema preferencial do Sporting ou se será apenas o tão reclamado “Plano B”, a utilizar em alguns jogos ou momentos. Como defensor de uma supremacia da tática sobre a estratégia, acredito que os “Planos B” só fazem sentido quando já se domina perfeitamente o “Plano A” – coisa que o Sporting de Amorim já poderá reclamar, ao fim de três anos e meio de evolução no 3x4x3. Mas para responder à dúvida colocada é preciso perceber as razões do treinador para esta escolha. Está a construir o plantel de acordo com esta ideia – e nela podem caber menos laterais e alas, por exemplo... – ou avançou para ela porque não conseguiu fazer o plantel que lhe servia os propósitos na ideia anterior, nomeadamente na busca do tal lateral forte no um para um que substituísse Porro na saída baixa? A resposta a esta segunda dúvida, que só Amorim poderá dar, esclarece a primeira. Porque uma coisa é o Sporting deixar os adversários e os observadores inquietos acerca da sua organização estrutural – e eu olho, por exemplo, para o onze utilizado de manhã contra o Farense, no jogo à porta fechada, e consigo metê-lo tanto em 3x4x3 como em 4x4x2 – e outra, totalmente diferente, é perceber-se que há uma aposta segura num novo sistema como preferencial. É que este, apesar de não ser assim tão diferente na maior parte dos momentos, tem implicações nas dinâmicas da equipa. Ontem, o Sporting começava por defender em 4x2x4 – mas isso já fazia no 3x4x3 do final da época passada, pois numa primeira fase de organização defensiva Nuno Santos subia para a linha dos três da frente, abrindo Inácio ou Matheus Reis na lateral, de modo a permitir uma primeira zona de pressão com quatro homens. Depois, no seu meio-campo, defendia em 4x4x2, com Quaresma, Coates, Inácio e Reis – e isso, sim, foi novidade. Não parece a melhor das ideias para o capitão, que sempre esteve mais confortável em linha de cinco do que com quatro atrás, mas é possível que Rúben Amorim esteja a desenhar a coisa sem um contributo tão frequente do uruguaio – ainda há St. Juste e Diomande à espera – e que esta acumulação de defesas-centrais seja a resposta para uma equipa que perdeu Ugarte e não o substituiu por um médio igualmente agressivo a defender. Além de que sobra aqui mais uma questão: o que fazer, então, com os laterais? Esgaio pode jogar à direita nesta organização, mas será possível ver Nuno Santos no papel à esquerda? Ou a ideia comporta um mas não os dois ao mesmo tempo? A atacar, a nuance é a subida de Inácio para o meio-campo e a passagem de Pedro Gonçalves para perto dos atacantes. Ora, em ataque posicional, mantém-se a organização ofensiva, um 3x2x5. As diferenças estão na primeira fase de construção, porque os alas – ontem Edwards ou Trincão de um lado e o jovem Afonso Moreira do outro – não baixam tanto e isso pode vir a tornar a equipa mais fácil de pressionar. O futebol está de tal forma que o sucesso tático vem mais facilmente de quem engana, de quem faz aquilo para que não parece estar destinado. Esta é uma via espinhosa, mas que transforma o Sporting 2022/23 numa das maiores curiosidades a explorar nesta pré-época.
É um prazer, caro Otávio. Otávio concluiu uma declaração prestada em exclusivo aos meios oficiais do FC Porto com uma tirada emblemática da cultura do clube, que em qualquer altura instiga o sentimento de luta contra as correntes: “Vão ter de levar comigo mais um ano”. Pois da parte que me toca, meu caro Otávio, deixe-me que lhe diga que é um prazer. Acharia um desperdício que um médio fundamental no equilíbrio tático de Sérgio Conceição, um jogador importante pela alma que mete em cada bola mas também pela inteligência que demonstra quando vê o jogo de frente e descobre passes de rotura que não estão ao alcance da maioria optasse por exilar o seu futebol na Arábia Saudita. Ainda há dias li, e sinceramente já nem sei onde, a descrição do trajeto de Otávio e da transformação que ele sofreu quando na vida dele entrou o seu atual treinador – e essa não é uma parceria que se deite ao lixo aos 28 anos, no auge de uma carreira desportiva de exceção. Porém, tendo em conta não só o facto de a dita declaração ter sido prestada em exclusivo aos meios do FC Porto como ainda a necessidade de vender, anunciada há um par de meses pelo administrador financeiro do clube, Fernando Gomes, e o empenho recente do empresário do próprio jogador nesta potencial transferência, desdobrando-se em declarações tão frequentes que pareciam uma venda em hasta pública, fico na dúvida acerca de quem era o destinatário de tirada tão mordaz. Afinal, quem é que vai ter de levar com Otávio sem o querer? Eu, já o disse e repito-o, não enfio a carapuça.
Os “Saltillos” do futebol feminino. Acaba de começar, com o Nova Zelândia-Noruega, que decorre enquanto escrevo estas linhas, o primeiro Mundial feminino com 32 seleções, prova de que também nas senhoras a dimensão comercial e marquetizável da coisa está em amplo crescimento. Portugal lá estará, em estreia. E, seja porque a FPF se tem empenhado bastante na expansão da variante feminina do jogo, seja porque estamos numa posição intermédia, ali entre as grandes potências que já motivam contratos de vulto e as federações pobres, que até para se deslocarem para o outro lado do Mundo precisam de ajuda, a verdade é que o nosso país é dos que têm passado ao lado das lutas que têm marcado a atualidade internacional. Se há quatro anos as norte-americanas e as norueguesas aproveitaram o facto de terem muito mais relevância internacional no futebol das senhoras do que no dos homens para lutarem pela igualdade de pagamentos, desta vez são as inglesas que reivindicam da sua federação o direito a uma percentagem dos ganhos publicitários além do milhão de euros que esta lhes vai endereçar para que sejam distribuídos por toda a equipa. As australianas juntaram-se à já antiga luta pela igualdade, as nigerianas e as sul-africanas revoltam-se porque não está sequer previsto que recebam alguma coisa, as jamaicanas tiveram de fazer um crowdfunding para se deslocarem. Os “Saltillos” começam a chegar ao futebol feminino, quase meio século depois da revolta de Cruijff com a Adidas, mais de 30 anos após a rebelião portuguesa no México. Vai custar, mas o futuro, depois, será melhor.
Se é para jogar em 4-4-2 só é preciso ir buscar um 6. Em 4-4-2 não há laterais mas sim defesas logo a situação fica resolvida com Quaresma, St Juste e Esgaio.
Este sistema de 4-4-2 é bom mas só para jogos contra os pequenos se fomos jogar contra os grandes desta forma dificilmente ganhamos
Amorim tentou e até resultou mais ou menos mas não gostei de ver Inácio com aquele papel híbrido
No primeiro jogo aberto aos adeptos pediasse a entrada do reforço mais caro de sempre da história do clube de Alvalade. Terá RA entendido que ainda não terá as condições necessárias para jogar e terá protegido o jogador