O sprint para a meta-volante
Estamos a três jornadas do fim da primeira volta e quem tem o calendário mais facilitado é o FC Porto, que amanhã até pode colocar-se, é certo que à condição, em primeiro lugar da Liga.
Palavras: 1506. Tempo de leitura: 8 minutos (áudio no meu Telegram).
A reaproximação entre os três da frente no nosso campeonato, que amanhã pode dar-nos algo que não víamos desde 16 de Agosto, que é olhar para o topo da classificação e, ainda que à condição, ver lá uma equipa que não o Sporting, vai motivar um Natal e um Ano Novo mais discutidos do que se calhar se esperaria. Uma eventual vitória em Moreira de Cónegos (onde, porém, já perdeu esta época, na Taça de Portugal), amanhã, deixará o FC Porto em primeiro lugar, com mais um ponto do que o Sporting, que se desloca um dia depois a Barcelos, e dois à frente do Benfica, que na segunda-feira recebe o Estoril. Como na jornada seguinte haverá um Sporting-Benfica e na outra, a primeira de 2025 e derradeira da primeira volta, teremos um Vitória SC-Sporting e um Benfica-SC Braga, podemos até olhar para o calendário e decretar que os dragões têm caminho mais facilitado para serem “campeões de Inverno”. O que é uma perspetiva bizarra, tendo em conta o clima de contestação que têm vivido e os incidentes com adeptos que se verificaram pela última vez há duas semanas, após o empate em Famalicão. Quem se apresenta melhor, afinal, para este sprint intermédio, a meta-volante que vale uma dose suplementar de encorajamento a caminho do objetivo final? Mentalmente, o Benfica. Pelo calendário, o FC Porto. Mas os números continuam a dizer Sporting.
Na época passada, o Sporting chegou a meio do campeonato com 43 pontos, o Benfica com 42 e o FC Porto com 38. Neste momento, o Sporting tem 36 – e para igualar o valor que tinha no ano anterior teria de ganhar dois e empatar um dos três jogos que lhe faltam. Difícil... O Benfica tem 35 e o mesmo caderno de encargos dos leões: duas vitória e um empate deixá-lo-iam em linha com a época passada. O FC Porto tem 34 e está a uma vitória e um empate de igualar a pontuação feita há um ano por Sérgio Conceição – quando lhe falta ir a Moreira de Cónegos e à Choupana e receber o Boavista. Muitas vezes, porém, o que está em causa nestas coisas não é tanto o que cada equipa vale, mas a sua trajetória. E duas das três equipas viveram fases bem diferentes ao longo da época, um aspeto ao qual só tem fugido mesmo o FC Porto, das três a mais linear. Tirando o empate em Famalicão, a equipa portista ganhou sempre aos mais fracos e perdeu sempre com os da sua igualha. Não cresceu desde o início da época? Não, de facto. E devia ter crescido, com o tempo que Vítor Bruno já leva de trabalho com o plantel, que se formou bem mais tarde, quase só no fecho do mercado. Seria legítimo neste momento pedir ao FC Porto que já tivesse criado uma ideia de jogo em linha com os jogadores de que dispõe – e isso não foi conseguido, entre o futebol de posse mais estéril (mas seguro) do início, a tentação da busca obsessiva da profundidade que se seguiu à entrada de Samu e o regresso ao jogo de pé para pé (menos seguro, curiosamente) destas últimas semanas.
Ainda assim, o FC Porto tem resistido bem às suas próprias limitações e, se mantiver o nível atual, entrará na segunda volta bem dentro da luta – o que era algo que, a olhar para o grupo inicial, talvez não fosse visto como garantido. É que do outro lado da barricada aparecem duas equipas que já viveram fases mais felizes. O Sporting, por exemplo, teve a fase dominadora, que terá acabado até antes da saída de Ruben Amorim, quando se soube que ele ia embora – o último jogo verdadeiramente “mandão” foi o de Famalicão, que o que se viu depois foi uma equipa a viver uma espécie de estado de graça e de comunhão entre todos os seus membros, evidente nas montanhas-russas que foram as vitórias ante Estrela ou SC Braga, por exemplo. Esses já foram jogos onde se viram desconcentrações, seguidas de uma crença sem limites, que será o que está mais abalado desde que Amorim foi embora e os jogadores passaram a desconfiar de tudo e sobretudo de si próprios e da capacidade para manterem o nível sem o líder. O Benfica passou pela fase desinspirada, com Schmidt, entrou na fase energicamente ofensiva, com uma média de golos a pedir meças à do melhor período leonino, e está agora numa etapa mais serena e reservada, porventura devida a um menor investimento no ataque, quem sabe se porque os adversários já lhe descodificaram as armas e nelas estão a encaixar melhor. Mas tudo isto são fases – e a própria definição do termo nos diz que passam, que podem piorar com um mau dia ou melhorar depois de uma noite feliz. Como se vê para lá disso, então? É olhar para os números. Isolei as últimas quatro partidas de cada um dos candidatos – sem contar com o segundo jogo do Sporting frente ao Santa Clara, o da Taça de Portugal, do qual não há estatísticas pormenorizadas.
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Contra o Santa Clara, o Moreirense, o FC Bruges e o Boavista, o Sporting tem uma média de 37,5 ações na área adversária, 11,3 das quais foram remates. Quer isto dizer que a cada 3,33 vezes que joga na área, remata. Isto permitiu-lhe um índice de golos esperados médio de 1,68. Com uma média de 1,66 golos marcados. Já se vê que marca em consonância com o que cria. Mas cria muito ou pouco? Comparemos. Contra o Vitória SC, o Bolonha, o AVS e o Nacional, o Benfica somou uma média de 29,5 ações na área, 9,3 das quais foram remates. Isto é, está um pouco abaixo do Sporting, possivelmente porque esteve menos tempo a correr atrás dos resultados – mas também remata uma vez a cada 3,17 ocasiões em que vai à área adversária. Tudo junto, isso deu aos encarnados um índice médio de golos esperados de 1,05, para uma média de golos efetivamente marcados de 1,00. Já o FC Porto foi às áreas adversárias (do Casa Pia, do FC Famalicão, do FC Midtjylland e do Estrela) as mesmas 29,5 vezes por jogo registadas pelo Benfica, para uma média de remates de 9,5. Isto é: remata a cada 3,10 vezes que vai à área. Mas cria mais perigo e é mais eficaz: tem um índice médio de golos esperados de 1,57 e marcou efetivamente 1,75 golos por jogo. Os números são muito semelhantes, mas ainda permitem ver que a atacar é o Sporting quem mais cria, mas que quem mais aproveita é o FC Porto.
E a defender? Invertamos os números. Nos mesmos compromissos, o Sporting permitiu 11,3 ações dos adversários na sua área por jogo, das quais resultaram 3,5 remates. Isto é, leva um remate a cada 3,22 vezes que o opositor lá vai. Isto gerou um índice médio de golos esperados de 0,58, mas uma média de golos efetivamente sofridos de 1,75. Como é pouco credível que os adversários melhorem só quanto têm os leões pela frente, é provável que esta discrepância se deva à má atuação dos guarda-redes utilizados ou ao mau comportamento defensivo dos homens que estão à frente deles, permitindo remates em situações mais favoráveis. Mas para se avaliar melhor, já se sabe, há que comparar. O Benfica permitiu neste período 17,5 ações na área por jogo aos adversários, para 4,8 remates por jogo feitos dentro do retângulo mais perigoso. Isto é, um remate a cada 3,57 vezes que lá vão. São valores até superiores aos que se têm visto nos desafios do Sporting – mas também isso pode ser explicado por adversários que estão mais cedo em desvantagem. Onde a média baixa é no índice de golos esperados permitidos, que no caso dos encarnados é de 0,40 – para uma média de golos efetivamente sofridos de 0,25. Ali há um guarda-redes e comportamentos defensivos eficazes. Por fim, no FC Porto, os dragões só permitiram 10,3 ações na área por jogo aos seus adversários, para 3,3 remates de lá feitos. O ratio é parecido: 3,12 ações para um remate. Curiosamente, o índice de golos esperados permitidos é o maior dos três (0,67), provavelmente por terem sido os únicos a enfrentar um penalti – em Famalicão. E como Diogo Costa defendeu esse remate de Aranda, a relação entre os golos esperados e os efetivamente encaixados é também favorável – na verdade, o FC Porto só sofreu 0,25 golos por cada um destes jogos.
O que isto nos diz é que o FC Porto é a equipa mais estável, o Benfica a que vem na melhor fase e o Sporting a que apresenta, mesmo nesta fase, os melhores números. Agora é meter a bola a rolar.