O que mudou no Benfica com Veríssimo
Há alterações evidentes face à equipa de Jesus: de sistema tático, de formas de defender e de atacar. Bateram-se recordes, mas os registos aconselham prudência na avaliação.
Dois jogos não serão propriamente uma grande amostra, até porque um foi de elevadíssimo grau de dificuldade, no terreno do FC Porto, e o outro facilitado pelo facto de o Benfica ter jogado pouco mais de 45 minutos contra dez homens do FC Paços de Ferreira. De qualquer modo, estes dois desafios já darão para pelo menos antever o que quer Nélson Veríssimo da equipa que herdou de Jorge Jesus. O que é evidente é o regresso ao 4x4x2, restando saber se assim seria igualmente caso Lucas Veríssimo estivesse apto. O que se adivinha é a intenção de meter mais gente em zonas interiores e de finalização e de defender mais alto no campo – mas atenção, que em determinada altura desta época também foi assim com o Benfica de Jorge Jesus.
A primeira imagem de Veríssimo foi o retorno à linha de quatro atrás. Jesus, que depois de jogar com três atrás nos primórdios da sua carreira de treinador, era um dos mais ferozes defensores da linha de quatro, com recuo de um médio para presidir ao início de organização ofensiva de forma a fazer saída de bola a três, tinha mudado o plano por várias razões. Uma delas foi a co-habitação no grupo de Lucas Veríssimo, Otamendi e Vertonghen, três defesas centrais com carimbo de titulares. Outra foi a colagem aos princípios de jogo da Atalanta de Gasperini, com referências defensivas individuais a todo a campo, encaminhando a equipa para o encaixe no adversário que os três atrás facilitam. Acresce que aquele trio podia até ajudar a compensar a existência de um núcleo central de meio-campo um pouco mais suave do que era costume nos setores intermédios das equipas de Jesus, onde costumava haver sempre um jogador mais vigoroso e um equilibrador a partir de uma das alas – se não era capaz de impor o poder defensivo pela capacidade de morder os calcanhares aos adversários, este Benfica fá-lo-ia pela força nos números, com mais gente a equilibrar e a fechar o espaço por dentro.
Sem Lucas Veríssimo, que está gravemente lesionado, ficaremos sem saber o que faria o novo treinador caso ele estivesse disponível. Mas é bem provável que voltasse na mesma ao 4x4x2, uma vez que mudou os outros princípios e recuperou a predisposição para a defesa zonal, com duas linhas de quatro claramente definidas atrás da bola e posicionadas de forma a não permitir variações de flanco que facilitassem a transição ofensiva aos adversários. Essa é uma forma de explicar as 24 ações defensivas no meio-campo adversário identificadas no jogo com os castores pelo GoalPoint, segunda melhor marca do Benfica neste campeonato. Não deixa de ser curioso que ao trocar um sistema defensivo com referências individuais de pressão por outro com duas linhas de quatro, a prenunciar um ligeiro abaixamento do bloco, o Benfica tenha conseguido mais ações defensivas altas. Mérito dos posicionamentos? É possível. Mas o facto de o adversário ter feito mais de meio jogo com dez não deve ser desprezado e vem recomendar prudência na análise: o recorde benfiquista foram as 33 ações defensivas para lá da linha de meio registadas contra o Arouca FC, que também jogou com dez a partir do nono minuto, por expulsão do seu guarda-redes.
Ofensivamente, este é agora um Benfica na linha das várias equipas da última década, com a tal linha de quatro atrás e um médio – Weigl – a baixar para o espaço dos centrais, de modo a fazer a saída de bola a três. As coisas ficam assim mais claras e são mais fáceis de entender por gente que não é um portento na área da versatilidade e da interpretação tática – Everton, por exemplo, parece ter renascido a partir do momento em que lhe disseram “és médio esquerdo” em vez de lhe pedirem para ser, ao mesmo tempo, ala, avançado interior e preencher todos aqueles espaços conforme os jogos lho pedissem. Por outro lado, de forma a não transformar Rafa num elemento banal que ele será sempre que lhe pedirem que seja extremo puro, Veríssimo tem-lhe dado liberdade para invadir espaços interiores a partir da direita, servindo-se dos contra-movimentos feitos por Gonçalo Ramos em direção à linha. É possível até que a ideia seja fazer a mesma coisa dos dois lados – no outro com Seferovic – e sobra curiosidade para ver como vai ser quando voltarem os dois avançados com estatuto de titulares (Yaremchuk e Darwin).Aqui continua o texto
Seja como for, no jogo com o FC Paços de Ferreira o Benfica melhorou o seu registo máximo de ações na área adversária, igualmente identificadas pelo portal GoalPoint: foram 56, uma a mais do que as verificadas na derrota caseira com o Portimonense (55), na oitava jornada, mais seis do que o recorde do FC Porto nesta Liga (as 50 contra o Estoril) e mais 16 do que o máximo registado pelo Sporting (40 na receção ao Marítimo, na qual o 0-0 persistiu até aos descontos). Mais uma vez, porém, convém esperar para emitir sentenças mais definitivas. É verdade que este foi, dos quatro jogos aqui mencionados, o único em que o resultado não esteve em aberto até tarde, o que pode permitir atribuir a propensão atacante à intenção de base de colocar mais gente na frente – não estavam lá por tentativa desesperada de mudar o resultado. Mas não há nada como esperar para ver o que aí vem. E a receção ao Moreirense, no sábado, pode permitir perceber mais qualquer coisa.
Não será cedo de mais avaliar um treinador? Já se perceberam mudanças táticas de Veríssimo em relação a JJ, mas a equipa precisa de estabilidade mental e, sobretudo, de ganhar. Porque uma derrota ditará logo, de imediato, as mais rebuscadas análises, tal como aconteceu com o Sporting e a derrota nos Açores.
Bom artigo. Gostava de saber a opinião do Tadeia em relação à possibilidade de um 433, em vez de 442. Além disso, se concorda que o SLB teria toda a vantagem em ter um trinco mais "físico" e contratar uma alternativa ao Grimaldo, por exemplo o Hamache (Boavista). Por último, seria interessante saber a sua opinião sobre apostar definitivamente em Diogo Gonçalves a extremo, deixando sair o Radonjic (bom jogador) e ficando com o Gilberto e André Almeida (deverá ser a última época no SLB) para defesas direitos. Abraço e bom trabalho