O que faz sofrer o Benfica
As caraterísticas dos médios e dos atacantes do Benfica parecem convidar a um jogo feito de transições, com espaço na frente, mas do que os encarnados precisam é de ter esse espaço atrás.
Há coisas que, no papel, parecem de uma cor, mas que na vida real são de outra. É o caso do que faz sofrer o Benfica. O Benfica tem atacantes rápidos e criativos, tem um par de médios com bom discernimento e fortes na tomada de decisão – o que no caso do miúdo João Neves é extraordinário, face à sua ainda curta experiência –, pelo que devia florescer sempre que os adversários sobem as linhas para o pressionar, porque assim lhe abrem o campo a um jogo de muitas transições, com espaço atrás da última linha defensiva. E, no entanto, o que acontece é exatamente o contrário. O que os primeiros 20’ da derrota do Benfica contra o RB Salzburgo (há FDV Flash para ver sobre o jogo, aqui) fizeram foi confirmar, em sentido inverso, o que já tínhamos visto em Vizela, no sábado: este Benfica não gosta nada que o pressionem. Em Vizela, enquanto o adversário optou por fechar-se mais atrás, protegendo o cofre, o Benfica esteve como quis, conseguiu sempre sair com qualidade de trás e estabelecer ligações rápidas em espaços curtos na frente, mesmo dentro de um bloco muito denso. Mas depois, é verdade que já com uma vantagem confortável a convidar à gestão das intensidades e a baralhar a nossa perceção, quando os minhotos subiram as linhas, chegou a ter os três pontos em perigo. Ontem, com um início a 200 à hora, pressionando sempre a construção encarnada, o RB Salzburgo deixou o jogo tão desconfortável para a equipa de Schmidt que, é certo que ajudado por uma série de erros individuais difíceis de emendar a este nível, podia ter resolvido a partida nesse período. Seria diferente sem os erros? Sem o penalti tonto de Trubin logo a abrir? Sem o passe atrasado mal medido de Bah a permitir a intrusão de Simic? Sem a saída precipitada do seu guarda-redes quando Otamendi já fazia a contenção e aquilo que se lhe recomendava era que fosse mais conservador e ficasse nos postes? Sem a mão na bola de António Silva, que além de não impedir o golo – que nasceu depois do segundo penalti – ainda deixou a equipa reduzida a dez homens? Não há como garanti-lo, como não há como adivinhar o que teria sucedido se o FC Vizela tivesse adotado a via mais pressionante desde o início no jogo de sábado. Tal como só pode ganhar-se ao adversário que se tem pela frente, só pode comentar-se o jogo que se viu. E o que se viu foi Trubin a provocar dúvidas (e pode aproveitar para ver aqui o FDV Report que fiz no mês passado, a compará-lo com Vlachodimos), um João Neves esclarecido em todas as ações que teve, um Di María desequilibrador, mesmo que longe de toda a gente, um Benfica capaz de discutir o jogo e até de ganhar algum ascendente nele com dez homens em campo depois da expulsão infantil de António Silva e um Schmidt mais uma vez resistente à mudança, prolongando em demasia o esforço dos homens que tinha em campo sem os render senão a partir dos 71’, então já com o jogo resolvido. A derrota não deita tudo a perder, mas confirma a ideia segundo a qual o grupo do Benfica é mesmo muito aberto.
O polícia sinaleiro. Mas atenção que o futebol não nos dá sempre as mesmas sensações. Ora vejam o caso do SC Braga. No sábado, Al Musrati e João Moutinho tentaram gerir o jogo com o Farense a partir do meio-campo, metendo-lhe pausa com inusitada frequência, mas a falta de dinamismo e a forma como foram contrariados por Fabrício Isidoro e Matheus Oliveira foi sempre inimiga daquilo que o SC Braga queria tirar do jogo. Acabaram atropelados pela dupla brasileira. Ontem, contra o SSC Nápoles, os minhotos pareciam querer, sobretudo, chegadas rápidas, para explorar a velocidade e o repentismo de Bruma e Djaló, que têm sido os seus elementos mais desequilibradores, mas o que a injeção de dinamismo a meio-campo lhes veio garantir foi um jogo partido, bola-cá-bola-lá, a favorecer a maior predisposição dos italianos para explorarem os grandes espaços através dos laterais e dos extremos. A chave para mudar o jogo (e ainda o vi, em diferido, para vos deixar este FDV Flash, já durante a madrugada) esteve na mudança de sentido de orientação do meio-campo bracarense. Ao intervalo, Al Musrati calçou as luvas brancas, pôs o chapéu de polícia sinaleiro, daqueles bicudos, sacou do apito e começou a orientar o trânsito mais para a horizontal do que para a vertical. Há mais caminhos para chegar ao destino além do direto e foi graças a esta habilidade para sacar a bola das zonas de pressão e de a fazer chegar a ruas mais descongestionadas que a equipa de Artur Jorge equilibrou o jogo e fez por merecer o empate que o autogolo de Niakaté lhe tirou aos 88’. A derrota também não é o fim do mundo, mas também confirma a ideia de que ao SC Braga restará provavelmente a luta com a Union Berlim por uma vaga na Liga Europa.
Alerta: politicamente incorreto. Está temporariamente resolvida a crise entre as jogadoras da seleção de Espanha e a respetiva Federação. É possível que novos focos de conflito venham a nascer em breve, até porque muitos dos termos do acordo entre as partes continuam algo difusos, mas para já a equipa aceitou defrontar amanhã a Suécia, em jogo a contar para a Liga das Nações, satisfazendo-se com o afastamento do secretário-geral da RFEF, Andreu Camps, um dos braços mais notórios do “Rubialismo”, e com o compromisso de a Federação deixar de se referir à equipa que representam como “feminina”. É seleção nacional, ponto. E se no caso da oposição a Camps sou levado a crer que têm toda a razão, não só pelo papel que ele desempenhou nos comunicados desonestos emitidos pela RFEF acerca do caso do beijo ou da carta às instâncias internacionais que afastassem as equipas espanholas em função da intervenção governamental a pedir o afastamento de Rubiales, espero que me perdoem por ser politicamente incorreto e considerar que o segundo tema não devia sê-lo. É verdade que ali em cima, na abertura deste parágrafo, escrevi “seleção de Espanha”, sem especificar que era “feminina”, mas porque antes tinha identificado o género das suas atletas, escrevendo “jogadoras”. Porque o radicalismo cego neste tema – e a incorreção política está tanto em me referir a ele como radicalismo quanto o está em chamar-lhe cego – é inimigo da clareza. Se no sábado virmos notícias de que a seleção espanhola ganhou, empatou ou perdeu com a Suécia, vamos querer saber qual, se a de Alexia Putellas ou a de Morata. Não estaremos a diminuir a equipa se dissermos que ela é feminina, da mesma forma que não diminuímos os sub19 que ontem jogaram a UEFA Youth League ao especificar que a competição é só para jogadores que tenham nascido depois de uma determinada data. A defesa da igualdade não deve passar pela abolição da diferença. E a diferença, já o dizia o jingle do mítico “Som da Frente”, é um direito, não uma cruz.
Arrancou a Fantasy. Estou orgulhosamente acima do meio da tabela entre os 146 jogadores que corresponderam ao meu desafio de ontem e se inscreveram na Liga FDV, a Fantasy League da Champions do Futebol de Verdade e do meu Substack. Hoje, no Futebol de Verdade, vou dar os parabéns aos melhores da primeira jornada, recordando-os de que o primeiro milho é dos pardais. Se já tem uma equipa feita, está perfeitamente a tempo de se juntar à nossa Liga. O código de acesso é 30G7AN8X08. Se não fez, pois ainda pode fazer e recuperar o atraso, que há muitas jornadas pela frrente. No final, haverá prémios para os três melhores entre os que se fizerem subscritores Premium do meu Substack até 15 de Outubro – o primeiro ganha a camisola oficial de uma equipa da Champions à escolha, os dois que se seguirem receberão livros. Venha daí jogar connosco.
As equipas portuguesas quando joham na Europa, são ingénuas demais.
Este ano casos do Guimarães, Arouca, ontem o Braga com um golo na própria baliza.
O Benfica tem um treinador fraco para a equipa.
Contrário a isto tudo é o Porto.
Para é um estudo para mentalidade