O que falta ao Benfica de Schmidt
O Benfica bateu o Newcastle United e conquistou a Eusébio Cup. Mostrou coisas boas e três aspetos por resolver: o pulmão para este modelo, a decisão em transição atacante e as coberturas defensivas.
A vitória sobre o Newcastle United, em jogo da Eusébio Cup, deixou ver um Benfica forte, a justificar o favoritismo que lhe é concedido na pré-eliminatória da Liga dos Campeões, já para a semana, com o Midtjylland, mas um Benfica ainda com deficiências. A equipa mostrou uma boa primeira linha de pressão, capacidade para ganhar a bola no meio-campo adversário, muita velocidade em transição ofensiva, continua implacável nas bolas paradas, mas não só caiu muito do ponto de vista físico no segundo tempo como precisa de melhorar as tomadas de decisão nos contra-ataques e, sobretudo, as coberturas defensivas. Esta debilidade podia ter-lhe custado um jogo que o Benfica devia ter resolvido nos 45 minutos que Roger Schmidt tem dado aos seus titulares. Acabou por ganhá-lo, mas apenas na ponta final, na primeira finalização que fez em toda a segunda parte.
O resultado de um jogo de futebol é a soma de tudo o que se fez de bem e de mal e, apesar de Schmidt ter sido claro no final quando falou das coberturas – a Grimaldo, sobretudo – e não ter sequer mencionado as debilidades na tomada de decisão em transição ofensiva não quer dizer que estas não tenham sido tão responsáveis pela incerteza no resultado quanto aquelas. E, ainda que me sobre alguma curiosidade acerca da opção do treinador esperar pelo último jogo antes da competição para dar mais de 45 minutos em campo a alguns jogadores, deixando notar alguma quebra na segunda parte, essa terá seguramente sido uma escolha feita com base em pressupostos científicos que desconhecemos todos, pelo que os outros dois são, neste momento, os aspetos a melhorar por este Benfica. Um – a tomada de decisão – terá que ver com o mercado e com a ainda possível chegada de Ricardo Horta, mas é bom que se entenda que nunca será verdadeiramente resolvido. O outro – o das coberturas – está mais relacionado com treino e com a chegada à equipa principal de jogadores destinados a ser titulares, como João Vítor ou até Lucas Veríssimo, o que quer dizer que fatalmente será resolvido, mas não imediatamente.
É possível que a velocidade vertiginosa seja inimiga da boa tomada de decisão. Já diz o povo que “depressa e bem não há quem”. Mas a ver a forma como, uma após a outra, as arrancadas de Rafa ontem iam despedaçando a equipa do Newcastle United, ia-me lembrando de Götze, o jogador que Schmidt tinha atrás do ponta-de-lança no PSV Eindhoven e que aparentemente queria para o Benfica. Não haverá muitos jogadores tão diferentes como o cerebral Götze e o acelerativo Rafa. O “dez” alemão não imprime ao jogo a velocidade do atacante português, mas decide geralmente bem – e esse é um aspeto que Rafa tem de melhorar, como se viu, por exemplo, num contra-ataque em que, ainda na primeira parte, persistiu na solução individual em vez de deixar João Mário na cara do golo. Pode até ter sido um acaso, mas no mesmo dia em que isto sucedia, o Málaga CF insistia com o SC Braga para que aceite a proposta do Benfica por Ricardo Horta. Pode Horta melhorar o Benfica neste particular? Sem dúvida. Mas a que custo? Devolvendo Rafa ao corredor lateral, de forma a manter todos os benefícios que dão as suas acelerações e mitigar os efeitos da sua insatisfatória tomada de decisão? E perdendo assim o requinte e a clarividência de João Mário, cuja falta de golo já levou a que deixasse o espaço central? É possível, mas não é matemático que tenha de ser melhor.
Mas se este é um problema conceptual, para o qual não há solução perfeita, já a questão em torno das coberturas defensivas me parece depender apenas de trabalho – o que prenuncia que se resolverá, mas que ainda levará o seu tempo. As deficiências nas coberturas ficaram mais à vista nos lances dos golos ingleses, sempre que o adversário conseguia explorar a largura. Quando a bola entrava rapidamente na direita do ataque inglês, em momentos nos quais Grimaldo estava a fechar dentro – como tem de fazer o lateral sempre que a bola está do lado oposto – e era levado a fazer o movimento de basculação para ocupar o espaço junto à lateral, o resto da equipa não foi suficientemente rápido a fazer a cobertura, deixando uma imensidão de espaço que depois era aproveitado com a devolução da bola para dentro. Aqui, a responsabilidade maior pode ser assacada a Morato, o central pela esquerda, mas não seria justo culpá-lo só a ele: se a bola entrou com qualidade no flanco oposto é porque também terá havido deficiências de pressão por parte da zona de meio-campo. Além de que, apesar de o facto de os golos ingleses terem acontecido dessa forma poder condicionar a avaliação mais imediata, não foi só naquele momento que o problema se verificou. Aconteceu também sempre que o Newcastle United conseguia superar a primeira linha de pressão benfiquista e o resto da equipa estava longe, abrindo o espaço entre linhas a corridas com bola dificilmente paráveis pelos dois médios.
O Benfica ainda não é a equipa curta, compacta, que este jogo de pressão exige e isso até pode ser uma questão de pulmão. Mas também pode ser uma questão de confiança. Ou de crença num modelo que pode dar frutos mas é muito exigente para quem tem de o colocar em prática. O tempo e a evolução da equipa o dirão.
Ontem, pode ter-lhe escapado:
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