O futebol que nos leva em frente
O Benfica-Liverpool FC voltou a mostrar tudo o que nos atrasa face aos colossos europeus. É preciso ter a coragem de entender a mensagem e apanhar a carruagem que nos leva em frente.
Olha-se para as grandes equipas do futebol europeu – e neste momento haverá três que nos são absolutamente inacessíveis, no Liverpool FC, no Bayern Munique e no Manchester City – e aquilo que se vê é um domínio absoluto do espaço e do tempo. Ontem, a assistir à primeira parte do Benfica-Liverpool FC, fazia repetidamente a mim mesmo a seguinte pergunta: como é que uma equipa que com bola se espalha no campo pelos três corredores e a faz seguir por todos eles, depois consegue não ser vulnerável pelo meio? A resposta passa por três fatores: mestria com bola, para dominar as condições em que a perde; inteligência na definição das ações de pressão, para impedir o adversário de a levar para zonas onde tem mais condições de ferir; e intensidade, a tal intensidade de que tanto se fala e que também tem de estar presente nos dois primeiros fatores.
Tudo isto se treina, mas para funcionar tem de ser posto em prática com frequência e entre iguais. Já reparou que o Liverpool FC e o Manchester City parecem sempre melhores equipas quando jogam contra os nossos grandes em Portugal, por exemplo, do que face aos Watfords ou aos Norwiches desta vida? Porquê? Porque se esforçam mais quando a dificuldade sobe? Talvez. Mas creio que é mais porque esses adversários de menor valia os igualam na intensidade – ainda que percam mais claramente do que as nossas melhores equipas nos primeiros fatores, os que se referem à qualidade tática, coletiva e individual. Ontem, o Benfica equilibrou o jogo com o Liverpool FC a seguir ao intervalo, empolgado com o golo de Darwin, sobretudo porque a equipa inglesa cometeu o mesmo erro do Ajax na Luz: depois de uma primeira parte que foi facílima e podia ter encerrado com um resultado mais amplo, achou que a segunda iam ser favas contadas e desligou. Durante uns 15 minutos – até Jürgen Klopp ter introduzido Jota, Firmino e Henderson – pairou sobre o estádio a sensação de que a equipa portuguesa podia sonhar com o empate. O resto do jogo, contudo, acabou por nos mostrar que essa não era uma sensação real.
Durante esses 15 minutos, o Liverpool FC manteve o controlo sobre o espaço, mas descurou o fator tempo. Baixou a intensidade do seu jogo, para depois voltar a subi-la. E atenção que não falo só de correr muito e de correr depressa. O futebol não é (só) correr. E é claro que deve haver intensidade em tudo o que se faz num campo de futebol. Um passe de 40 metros tem intensidade, porque se cair no sítio pretendido, onde o adversário tem menos gente, acelera o jogo. Uma receção perfeita e orientada tem intensidade, porque também acelera o jogo, ao roubar tempo de reação ao rival. Um posicionamento defensivo correto tem intensidade, porque amordaça desde logo o adversário. Dominar o fator-tempo num jogo não é só correr muito, correr como um louco: esse é o argumento das más equipas, das que não dominam mais nada e nos enganam com os olhares esgazeados de quem não joga mas é capaz de correr 12 quilómetros num jogo.
O que separa as grandes equipas europeias das nossas – e esta época Sporting, FC Porto e Benfica já foram todos goleados na Europa – é o fator mercado, mas não é só isso. É claro que se houvesse condições financeiras para lhes pagar e desportivas para os manter com boas perspetivas de ganhar troféus, os melhores jogadores nacionais não sairiam e a qualidade das nossas equipas seria superior – ainda que se também assim fosse noutros países que estão atrás de nós na cadeia alimentar, talvez também não tivéssemos os talentos que lá vamos recrutar, alguns dos quais, como Díaz, depois fazem a ponte para as grandes Ligas. Aquilo que separa essas grandes equipas europeias das nossas é isso, mas são também questões de coragem.
O que nos falta, muitas vezes, é a coragem de aperfeiçoar sempre mais e mais um modelo (ainda ontem aqui escrevi sobre a capacidade de seguir uma ideia e de a trabalhar), sem pôr tudo em causa nos anos em que não se ganha, porque alguém foi melhor. O que nos falta é a coragem de transformar estes duelos de intensidade em rotina, no dia-a-dia da nossa Liga, para que os Tondelas e os Aroucas se assemelhem nesse aspeto aos Watfords e Norwiches que já mencionei atrás. É a coragem de atacar a questão dos quadros competitivos, do tempo útil de jogo, das simulações de faltas (e não falo sobretudo de penaltis, que esses devem estar mais ou menos salvaguardados pelo VAR, mas sim das faltas simuladas a meio-campo, que param o jogo e dão aos jogadores a ilusão de que vão para um campo de futebol e lá podem descansar frequentemente).
Em Portugal, porque ele é possível, o triunfo imediato está sempre à frente do sucesso consolidado e isso reflete-se em pormenores muito diferentes. Está na comunicação tóxica e propagandística dos clubes grandes, que afasta público (e receita) do futebol em busca de vantagens competitivas súbitas, através do condicionamento. Está na enorme resistência à centralização e distribuição da receita disponível de forma mais igualitária, que torpedeia a competitividade intramuros. E está até nos sucessivos pedidos de proteção às grandes equipas (sugerindo o adiamento de jogos) quando se aproximam desafios internacionais, para estas poderem encará-los mais à vontade. Mal comparado, queremos ser aquele pai que faz os trabalhos de casa aos miúdos e depois se admira quando eles tiram maus resultados nos testes na escola.
O jogo de ontem, tal como os 5-1 do Liverpool FC no Dragão, os 5-0 do Manchester City em Alvalade ou os 4-0 do Bayern Munique na Luz, mostra mais do que a diferença entre as nossas equipas e as melhores lá de fora. Mostra as razões pelas quais nos estamos a atrasar. E elas voltarão a estar à vista se o debate for em torno de se perceber se o Benfica fez melhor do que os outros, por ter perdido só por dois golos – quando em termos de xG, os valores foram semelhantes aos das outras goleadas – ou a culpar o árbitro. Isso é o futebol que nos atrasa. Já era tempo que entramos na carruagem que nos leva em frente.
Desenganem-se os que pensam que a superioridade é só respeitante aos 3 grandes do nosso futebol...
O AT. Madrid e a sua paupérrima prestação de ontem no Etihad, a jogar em 5x5, com 37% de posse de bola, zero remates e zero pontapés de canto, mostra bem que mesmo um grande de Espanha se verga perante a superioridade do City. E isso foi visível nas declarações e no semblante do conformado Simeone no final do jogo.
E todos sabemos o orçamento dos madrilenos.
É mesmo assim, é colocarmo-nos no nosso lugar e tentar fazer o melhor possível com as armas possíveis.
Pelo menos não vimos nenhuma equipa portuguesa a meter o autocarro em confronto nenhum. É que no final o AT. Madrid acabou por perder o jogo na mesma mas deixando uma péssima imagem.
Concordo com o Alcides, prefiro perder 1-3 e disputar o jogo que perder 1-0 e não passar do meio campo.
O Darwin devia ter percebido na 2 parte que o Árbitro estava a deixar jogar e não apitava nada. Se tivesse seguido naquele lance talvez tivesse feito golo ou ele tivesse marcado o pênalti. Optou por desistir e cair de joelhos, certos árbitros marcavam mas este não, pronto foi assim.
No lance do Everton, está o Rafa sozinho do lado direito, tivemos oportunidades para fazer o empate mas não aproveitamos, faltou critério no meio campo porque perdemos bolas desnecessárias que podiam ter dado perigo, eles deram-nos muito espaço atrás dos defesas e não aproveita-mos o suficiente.
Quando estávamos confiantes e bem no jogo trocou o Taarabt pelo Meité, foi a machadada final, J.Mario ou P Bernardo trariam muito mais qualidade naquele sector atrás de G.Ramos. nos últimos 10 minutos Darwin já estava morto, Seferovic podia ter trazido mais velocidade ao ataque á profundidade, Yaremchuk não tocou na bola quase. Pronto mas isto sou eu que sou treinador de bancada. Vamos a Anfield com um sonho mas um sonho ainda mais impossível.