O caminho dos avançados
Fábio Silva passou de fenómeno precoce de mercado a problema, Henrique Araújo de futuro do ataque do Benfica a emprestado. E Vitinha, menos visível, continua o seu caminho em Braga.
Vitinha, o do SC Braga, nasceu em 2000, Fábio Silva e Henrique Araújo em 2002. Todos são avançados e internacionais pelas camadas jovens. Os dois últimos ganharam a UEFA Youth League, Fábio pelo FC Porto em 2019, Henrique pelo Benfica na época passada, o que lhes deu um pedigree formativo nunca atingido por Vitinha, que é quase visto pela generalidade dos observadores como produto da geração espontânea, como se a correr atrás das vacas pelos carreiros do Gerês nascessem pontas-de-lança da mesma forma que nasce vegetação. Hoje, os três são notícia, a explicar os patamares diferentes em que estão neste momento das suas carreiras. Fábio porque aparentemente se chateou com as críticas do treinador do Anderlecht à sua quebra de produção, depois de um arranque de época interessante, e vai ser devolvido ao Wolverhampton WFC, que como já contratou Matheus Cunha e Sarabia não sabe bem o que há-de fazer-lhe, mas é provável que lhe dê outra vez guia de marcha. A ele, a um avançado pelo qual pagou 40 milhões de euros há dois anos e meio. Henrique porque a chegada à Luz de Tengstedt, associada à permanência de Gonçalo Ramos e Musa, deve levá-lo a um empréstimo ao Watford FC, do segundo escalão do futebol inglês, para poder jogar com regularidade. Vitinha porque terá impressionado Roberto Martínez, que o viu encadear uma ação de pressão que é o seu prato do dia mais habitual no golo da vitória bracarense sobre o Boavista e terá ficado a pensar que há ali material de seleção. O avançado até passou recentemente pelo banco bracarense, no recuo de Artur Jorge para o 4x3x3, mas pode ser dado como exemplo de que a pressa é muitas vezes inimiga da perfeição ou de que crescer num grande nem sempre é meio caminho andado para chegar ao topo. E é aqui que me dizem: “mas qual topo? O Vitinha ainda não está nem perto!” É verdade. Nem ele nem os pontas-de-lança que crescem nos grandes a ler todos os dias que são o novo Eusébio, o Peyroteo redescoberto ou o Fernando Gomes da nova geração e a ouvir que já valem 100 milhões de euros só pela maneira como correm ou pelos likes que conseguiram no novo post de Instagram. A diferença é que, em Braga, Vitinha sabe disso e nem precisa de fazer um esforço para se lembrar quando começa a treinar. Há alturas na vida em que a falta de visibilidade é uma benesse. Assim a saibamos aproveitar.
Os concorrentes de Vlachodimos. Vlachodimos tem defeitos. Assim de repente lembro-me já de dois: é fraco com os pés e não é fantástico a sair dos postes. E mesmo os que não tem, podemos acrescentar-lhos, que a busca do aperfeiçoamento é um caminho a percorrer todos os dias. Esta semana descobriram-lhe mais um: não defende penaltis, vai com uma série de não sei quantos seguidos sempre no saco. Como se defender penaltis fosse obrigação de um guarda-redes e, afinal, o Benfica só não tivesse ganho o dérbi de domingo porque ele não parou o remate dos onze metros de Pedro Gonçalves. É por isso que, volta-não-volta, ao grego se lhe vão anunciando sucessores. Concorrentes, pelo menos. Pronto, suplentes, para sermos verdadeiros, porque é nisso que a coisa descamba sempre. Desde que Vlachodimos chegou ao Benfica – e já lá vão quatro anos e meio –, em todos os mercados se enchem as páginas dos jornais com o guarda-redes que vai permitir à equipa dar o salto que lhe falta na baliza. E chegaram dois filhos de internacionais, com a qualidade nos genes: Mile Svilar, filho de Ratko, e Helton Leite, filho de João. O primeiro já foi ter com Mourinho, que neste percurso foi quem mais o elogiou, e passou agora a ser suplente de Rui Patrício na AS Roma; o segundo parece estar de saída, perdida a oportunidade de ganhar a titularidade que Jesus chegou a dar-lhe por meia época. Quem os vê com regularidade, diz que o futuro está assegurado, com Samuel Soares e André Gomes no Seixal. Mas o foco está agora em Hugo Souza, gigante a quem falta um centímetro para ter dois metros e que virá aí do Flamengo para finalmente dar a Vlachodimos a concorrência que lhe falta. Que lhe faltou sempre, dizem. Porque o grego segue. No domingo completou 200 jogos na baliza do Benfica. Provavelmente não fará mais 200, mas continua a não ser por ele que a equipa está há três anos sem ganhar troféus.
O tempo e as motivações. O tempo útil de jogo continua a ser um tema recorrente nos debates sobre futebol. Os treinadores dos grandes queixam-se de que ele está cada vez mais curto, de que o antijogo está a ganhar terreno. E têm alguma razão. Não a têm toda, porque quem se lembra da regularidade com que as equipas médicas entravam em campo nos anos 80 e 90 sabe que essa sempre foi uma forma de mascarar as diferenças entre grandes e pequenos – simplesmente, agora nota-se mais, há gente a contar o tempo útil e há mais gente a queixar-se. Os programadores de televisão não gostaram da primeira tentativa feita pela FIFA para resolver o problema, que passou pelo aumento brutal das compensações, experimentado no Mundial, porque isso lhes introduzia o caos nas grelhas de programas. Mas talvez até venham a admirar uma das propostas que aí vem, a do relógio parado a cada vez que o jogo para, “à futsal”, sobretudo se as paragens se tornarem previsíveis e isso resultar em mais espaços para introduzir publicidade. Hoje, o International Board, que é quem manda nas regras, vai debater três propostas acerca da temática. Uma é essa, a do relógio parado. Não acredito que a coisa vá tão longe. Antes de lá chegar, o futebol ainda passará por uma das outras duas propostas: dar aos árbitros indicações para advertirem quem perde tempo ou aplicar às Ligas os mega-descontos do Mundial. São pensos rápidos que não curam, mas que vão preparando toda a gente para a americanada que aí vem. Só que não é para já.
Os grandes, e neste particular, que me perdoem os benfiquistas, mas no Benfica é recorrente, são especialistas a estragar jogadores com a mania de que a cada fornada têm dois ou três cristianos Ronaldos.
O vlachodimos, depois do Cardozo, deve ser o jogador mais subvalorizado do Benfica. É genial? Não. Mas nunca foi por ele que o Benfica não ganhou troféus. E foi ele quem evitou muitos desastres.
A paragem do cronómetro com publicidade lá pelo meio mata o futebol. Fica uma xaropada de 5 horas como o futebol Americano. Um desporto em que, no jogo principal, o momento mais ansiado é o... Intervalo.
E mais uma vez Vlachodimos terá um suplente no banco. O Hugo Souza apesar do potencial mostrado na formação, desde que tomou a baliza do Flamengo após a quebra devido à idade por parte do Diego Alves, nunca confirmou o nível. É um guarda-redes demasiado inseguro, daí o Fla na época passada ter ido ao Atlético Paranaense contratar o Santos que foi indiscutível desde a segunda metade de 2022. Portanto é uma contratação que mais beneficia o Flamengo que o Benfica visto que o Hugo iria ser excedentário com a chegada do guarda-redes do River aos rubro-negros como concorrência ao Santos.