Mais uma volta no carrossel
Os treinadores há menos tempo à frente de equipas da Liga passaram recentemente por dois, três ou quatro clubes entre Paços, Moreirense, Marítimo e Boavista. É um carrossel para atenuar o desgaste.
A possível saída de Bruno Pinheiro do Estoril para o Besiktas e o facto de o Flamengo andar aí atrás de um treinador português, que tanto pode ser Jorge Jesus como Carlos Carvalhal, causa instabilidade no topo da tabela da Liga portuguesa, ainda assim um oásis de continuidade no trabalho no que ao futebol nacional diz respeito. Os seis primeiros classificados da Liga têm em comum o facto de já trabalharem com o mesmo treinador há pelo menos 48 jornadas, o que corresponde basicamente a campeonato e meio – com a agravante de dois dos que têm “apenas” essas 48 jornadas terem regressado a clubes que já conheciam bem de passagens anteriores. Uma realidade bem diferente da que nos revela o carrossel que vai depois por aí abaixo.
É legítimo que se diga que basta continuar a percorrer a tabela por aí abaixo para perceber que a coisa também pode ser vista em sentido inverso. Isto é, que é o sucesso que determina a estabilidade e não que esta seja a base daquele. Além dos seis da frente, só há mais três clubes com o mesmo treinador há pelo menos 48 jornadas e dois deles – o FC Vizela e o FC Arouca – entraram nesta época com a almofada de conforto que foi a subida de divisão, permitindo a Álvaro Pacheco e a Armando Evangelista mais alguma margem de erro. No fundo, seja qual for o lado por onde se comece e avaliar o segredo do sucesso – da estabilidade para os resultados ou dos bons resultados para a estabilidade – parece claro que um amplo conhecimento da realidade em que se trabalha favorece. Mesmo que esse amplo conhecimento feito de experiência possa também provocar algum desgaste. Sim, que os adeptos se cansam de ver sempre a mesma cara e recordam mais os maus momentos do que os bons.
E essa pode ser a razão pela qual os clubes passam a vida a trocar de treinador, mas estes parecem andar num carrossel, numa espécie de jogo das cadeiras, a sair daqui para entrar ali e vice-versa. Basta ver que César Peixoto, novo treinador do FC Paços de Ferreira, já tinha trabalhado no Moreirense na época passada. Que Lito Vidigal, que vai para a segunda jornada à frente do Moreirense, passara na época passada pelo Marítimo. Que Vasco Seabra, técnico do Marítimo há três rondas, estivera na época passada no Moreirense e no Boavista. E que Petit, treinador do Boavista há duas jornadas, começara esta época na B SAD, onde até passou quase dois anos, mas que desde a sua saída do Bessa passara por outros quatro clubes. E querem recordar quais foram? Além do CD Tondela, a exceção que confirma a regra, foram o Marítimo, o FC Paços de Ferreira e o Moreirense. A isto se chama completar o círculo, na fuga ao desgaste.
A questão do desgaste pode colocar-se em qualquer lado – lá está, desde que os resultados não apareçam. Jorge Jesus está a experimentar o problema pela segunda vez na sua vida de treinador do Benfica. Calhou-lhe em 2013, quando perdeu tudo à beira do fim, mas acabou por ver o presidente Luís Filipe Vieira segurá-lo, para depois ganhar Liga, Taça de Portugal e Taça da Liga em 2014. Carlos Carvalhal cedeu a esse desgaste na primeira passagem pelo comando técnico do SC Braga, em 2006, nesse caso agravado pelo facto de ser um ex-jogador do clube e um homem da cidade. E isso exponencia a relação, como se vê, também, no caso de Petit – também ele é um exemplo de alma boavisteira, mas o facto de ter saído e regressado permite-lhe acumular conhecimento da realidade sem carregar às costas o peso do desgaste. Até por isso foi curioso o embate entre os dois, ontem, para a Taça da Liga, com os 5-1 favoráveis a Petit e ao Boavista a agravarem a situação de Carvalhal e do SC Braga e a proporcionarem a Petit uma base interessante para trabalhar no Bessa, que vai muito para lá da qualificação para a final four da Taça da Liga.
Amanhã há Futebol de Verdade VIP
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