Jornada de contexto
Sobretudo o Sporting, mas também o Benfica, entram nesta jornada da Champions sem grande pressão dos pontos. Quer dizer que os jogos com o Arsenal e o AS Mónaco são menos importantes? Nem por sombras!
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Sporting e Benfica voltam a entrar em campo na Champions, hoje e amanhã, para dois jogos de grau de dificuldade elevado dos quais, felizmente, pouco dependerão os seus objetivos na competição e onde tudo o que vier será ganho. Não o digo por falta de ambição, talvez um pouco por calculismo. Mas há uma coisa que não pode ser negada no Sporting-Arsenal de hoje e no AS Mónaco-Benfica de amanhã, que é a importância destes dois jogos no momento das duas equipas. Sporting e Benfica podem nem precisar de ganhar estes dois desafios para chegar onde querem na Champions – e se isto é mais verdade para os leões do que para as águias, mesmo em Alvalade será sempre possível rever objetivos em alta... Mas o que uns e os outros fizerem hoje e amanhã será fundamental para a criação do contexto em que vão viver as próximas semanas. E desse contexto, sim, dependerá em grande parte o que vai ser a época de cada um até medirem forças diretamente, a 29 de Dezembro.
Quando começou a Liga dos Campeões os estudos da UEFA diziam que o apuramento para o play-off – aos qual acedem as equipas colocadas entre o nono e o 24º lugar desta fase – seria atingível entre os seis e os sete pontos. Entretanto, a baixa percentagem de empates, que se a narrativa dominante fosse a de celebrar o novo formato e não de o condenar à partida seria apontada como um ponto positivo, veio forçar a alteração dessas estimativas. É normal: se a vitória distribui três pontos, o empate só dá dois (um para cada equipa), pelo que se há mais vitórias e menos empates há mais pontos distribuídos e as necessidades para o apuramento crescem. Sabe-se agora que para ter um lugar nos play-off devem ser necessários dez pontos. Talvez até onze, num cenário extremo. Ora o Sporting já tem esses dez pontos, o Benfica tem seis, mas quatro jogos para conseguir os quatro que lhe faltam. Mesmo que saiam derrotados do Mónaco, aos encarnados ainda faltarão o Bolonha e o FC Barcelona em casa e a Juventus fora. Decisiva será seguramente a receção ao Bolonha, daqui a quinze dias, seguramente sem tempo para que a equipa de Vincenzo Italiano saia da crise em que está. No caso dos leões, a pressão pontual no jogo com o Arsenal, que apesar de ser em casa rivaliza com a deslocação a Leipzig pelo título de desafio mais complicado dos quatro ainda por disputar, já se coloca mais na perspetiva de revisão em alta dos objetivos. É que 16 pontos devem chegar para entrar logo diretamente nos oitavos-de-final, evitando os play-off. E duas vitórias – que até podem ser nas três jornadas finais, que há uma deslocação a Bruges e a receção ao Bolonha – podem permitir esse objetivo impensável à partida.
À data de hoje, o Sporting ocupa uma das 24 primeiras posições em 99,9 por cento das 10 mil simulações feitas pela Football Meets Data e uma das primeiras oito em 65 por cento dos casos (e pode ver os quadros aqui). O Benfica vê o Top8 como mais difícil, que só lá chegou em seis por cento das mesmas 10 mil simulações, mas figura numa das primeiras 24 posições em 76 por cento dos cenários. O supercomputador da Opta Sports (cujos resultados pode ver aqui) fez mais simulações, chegou às 50 mil, e deu aos leões os mesmos 99,9 por cento de chances de acabar nos primeiros 24 e 72,9 por cento de hipóteses de terminar nos primeiros oito. Já quanto ao Benfica, concede-lhe 4,4 por cento de possibilidades de acabar no Top8 e os mesmos 76 por cento de hipóteses de o fazer nos 24 que seguirão em prova. Quer isso dizer que os jogos de hoje e amanhã são uma espécie de pausa na pressão competitiva? Não, de forma alguma. Sporting e Benfica não podem dar-se ao luxo de alijar nem que seja um grama da pressão que metem nos seus jogos, porque todos contribuem para o contexto mais global do que é a identidade das duas equipas. E será esse contexto a entrar em campo nas semanas que aí vêm, não só quando se jogar o que falta da Liga dos Campeões como quando voltarem ao campeonato, que é e será sempre o principal objetivo de uns e dos outros. No Sporting-Arsenal e no AS Mónaco-Benfica joga-se por muito mais do que pelos pontos. E, pelo menos no caso dos leões, podia nem ser assim, se Ruben Amorim entretanto não tivesse trocado a estabilidade à frente da equipa pelo sonho de Old Trafford.
Os leões recebem um Arsenal que já reintegrou Calafiori e Ødegaard, vindo de um 3-0 ao Nottingham Forest que permite pensar que a equipa de Mikel Arteta recuperou boa parte das qualidades que a tornam um candidato permanente ao título da Premier League. E fazem-no no primeiro jogo de real exigência para o novo treinador, que a receção ao Amarante FC nisso não contou. Perder um jogo com uma potência da Liga mais rica do Mundo teria sempre de ser encarado como normal, até como mais normal do que ganhar, mas depois de o Sporting de Amorim ter vencido o Manchester City, se a equipa de João Pereira perde com o Arsenal estará desde logo a assumir para os adeptos e sobretudo para dentro do balneário que deu um passo atrás. E, mesmo que a ligação entre os dois fatores não seja cristalina nas realidades, pode sê-lo no plano das perceções, que influirão muito desde logo no Sporting-Santa Clara de sábado. Por sua vez, as águias deslocam-se ao Mónaco, onde as espera uma equipa que também está mais à vontade – soma os mesmos dez pontos do Sporting e já ganhou no Louis II ao FC Barcelona, por exemplo – e parece já ter superado a fase má da entrada em Novembro, quando sofreu as suas únicas derrotas desta época. Se é verdade que este é um jogo tão bom como qualquer outro para o Benfica somar os pontos que lhe faltam – tirando a receção ao Bolonha, não vejo grande diferença de dificuldade nas outras três partidas, que a equipa de Adi Hutter não me parece pior do que a Juventus de Thiago Motta, por exemplo – é ao mesmo tempo um jogo fundamental para que Bruno Lage confirme a mudança de paradigma que lhe valeu as sete vitórias seguidas na Liga e uma média superior a três golos por partida desde a sua entrada para o lugar de Roger Schmidt.
Fraquejar hoje e amanhã pode não ser dramático para as nossas equipas em termos de classificação da Champions, mas pode deixar qualquer delas com dúvidas antes da série de compromissos internos que culminarão no Sporting-Benfica de Alvalade, na semana entre o Natal e o Ano Novo. É sobretudo isso que estará em jogo nesta semana de Champions.
Discordo que este jogo do Benfica não seja fundamental. Pela simples razão de que não estou à espera que pontue contra Barça e Juve.
Se queremos dizer que somos melhores que este ou aquele, temos de começar a exigir mostrar ser melhores, se queremos competir na Liga dos Campeões, temos de ter a coragem de assumir a melhor qualidade face a outros adversários. Assim assumir um empate entre Sporting e PSV ou a derrota em casa do Benfica contra o Feyenoord, como algo normal, ou colocar o Mónaco numa posição acima do Benfica, contrariam todo a postura que devemos ter nesta competição.
Do Sporting não se passou a esperar que derrote o Arsenal, mesmo com Amorim. A única questão aqui é se não se corre o risco de repetir a época do desastre de Marselha, com a alteração da forma de atacar e defender que tão bem funcionava.
Sempre disse que Benfica e Sporting tinham tudo para passar aos 1/8 e ainda dependem apenas deles próprios, o Sporting é não estragar e está lá.