Inteligência e coragem no clássico
O FC Porto entra em 2022 com esperança na geração Youth League. O Benfica com fé, após acabar com uma liderança castradora. O sucesso dependerá da articulação entre inteligência e coragem.
O FC Porto voltou a ganhar ao Benfica, voltou a fazer-lhe três golos, e fechou o ano de 2021 sem derrotas no campeonato. O ano que hoje termina só não foi admirável no Dragão porque não teve títulos, perdidas que foram as corridas da Liga e da Taça da Liga para o Sporting e da Taça de Portugal para o SC Braga. Do outro lado, o Benfica voltou a perder com o FC Porto, voltou a sofrer três golos – a somar aos três que o Sporting lhe fizera na Luz foram nove nos três clássicos de Dezembro – e fechou um ano de 2021 que acabou por revelar-se penoso, com pináculo no motim de jogadores que levou à saída de Jorge Jesus. Ambas as equipas entram em 2022 em três frentes e com esperança, mas só vencerão se fizerem a génese da inteligência com a coragem de que se fazem os campeões.
O FC Porto funda a esperança numa nova geração de enorme qualidade, que começa agora a pôr a cabeça de fora. Quando lembrou ontem que gosta mais de vitórias “quando elas dão títulos” e que as de 2021 – as mais recentes pelo menos – “ainda podem valer títulos no próximo ano”, Sérgio Conceição tê-lo-á feito com a noção de que a profecia dependerá da evolução dos jogadores da geração Youth League 2019 e da capacidade da equipa para os ir absorvendo. Ontem, contra o Benfica, é verdade que sem Díaz e Evanilson, o FC Porto entrou em campo com quatro campeões europeus de sub19 de há três anos: Diogo Costa, João Mário, Vitinha e Fábio Vieira. E se o guarda-redes e o extremo convertido em lateral já nem fazem falar tanto deles, porque o que impõem é segurança e regularidade e não um brilho intenso, convém lembrar que para se tornarem regulares no onze foi preciso ultrapassarem de forma consistente a concorrência de Marchesín e Corona, duas figuras da Liga ganha em 2020. Da mesma forma que Vitinha já encostou Sérgio Oliveira, outro histórico recente do FC Porto.
Quando, em Agosto, disse e escrevi que o FC Porto tinha a maior dose de favoritismo para ganhar esta Liga, fi-lo a pensar na margem de progressão desta equipa caso Conceição fosse capaz de nela introduzir estes novos elementos. E o jogo de ontem mostra que essa está a ser uma aposta ganha, sobretudo pela forma como Vitinha foi capaz de mandar no meio-campo de um segundo clássico em oito dias, impondo argumentos virados para a criatividade e para a técnica com bola, mas também pelo modo como Fábio Vieira entrou no jogo e fez dele o seu recreio, decidindo-o pela forma como foi sendo capaz de encaixar contra-movimentos na movimentação de Taremi. Depois do recital que Nakajima deu na primeira parte do Sporting-Portimonense, logo houve quem visse no desperdício do japonês pelo FC Porto uma prova do monolitismo de Conceição, um treinador incapaz de aproveitar talentos. Mas este é sempre um caminho que se faz nos dois sentidos. No crescimento de Vitinha e Fábio Vieira na equipa do FC Porto há adaptação do treinador e do seu modelo, que ontem, por exemplo, foi menos pressionante, mas há também muito crescimento dos jogadores. Sobretudo se a comparação for feita com o 2-2 caseiro frente ao Boavista, em Fevereiro, um jogo em que, a perder por 2-0 ao intervalo, Conceição sacrificou três jogadores da geração Youth League – João Mário, Diogo Leite e Fábio Vieira – para chegar ao empate.
Já o Benfica parece fundar a esperança na libertação daquilo que jogadores e muitos adeptos sentiam ser uma liderança castradora e fá-lo com expressões de recuperação que só o futuro próximo dirá se foram ou não um engano passageiro. Sem a sombra de Jesus no cangote, os jogadores apresentaram-se melhor do que há uma semana, naquele mesmo palco e contra o mesmo adversário. Se na Taça de Portugal não deram sequer a sensação de poder discutir a partida, ontem voltaram a suportar a infelicidade de ver o FC Porto marcar dois golos de rajada – aos 34’ e 37’ – mas mesmo assim foram capazes de reentrar no jogo, reduzindo para 1-2 e estando mesmo à beira de empatar, apesar de já só terem dez homens em campo. As redes sociais encheram-se de posts esperançosos – “Isto sim, é o meu Benfica”, lia-se em repetição, vindo de gente que pode ter muito benfiquismo no coração mas a quem faltará certamente noção daquilo que é, de facto, o Benfica. O Benfica não vence um troféu desde a Supertaça ganha ao Sporting em Agosto de 2019, ainda os leões eram liderados por Marcel Keizer. E, como não vai ganhar a Liga dos Campeões e tem a vida difícil no campeonato – está mais longe dos rivais acima do que do SC Braga, que o segue – vai colocar muita esperança na Taça da Liga.
Até lá, Nelson Veríssimo terá de afinar esta nova versão em 4x4x2, que poderá certamente funcionar melhor com Otamendi e Grimaldo trás e com Darwin ao lado de Yaremchuk na frente, fazendo a conjugação dos ataques do uruguaio à largura e à profundidade com os movimentos interiores de um dos médios-ala. Antevêem-se problemas, nomeadamente no controlo do meio-campo e na forma como o sistema volta a afastar Rafa do corredor central, onde ele se convertera no principal desequilibrador da equipa em momentos de transição ofensiva, mas há que salientar que Veríssimo teve a coragem de mudar, de arriscar naquilo em que acredita. Precisa agora de consolidar e a verdade é que isso dificilmente se faz com uma liderança a prazo. Até pode dar certo, porque há material humano caro e de qualidade. Se não der, a equipa pagará as favas da inércia de quem decidiu manter a paz podre, acabou com ela a reboque do motim dos jogadores e não tem agora um rumo definido.
Espero que com o tempo Veríssimo possa se impor e trazer aos Benfiquistas a alegria que há muito se perdeu a ver os jogos desta equipa. Ontem como já disse mostrou pequenos bons sinais, mas também alguns que deixaram-me com pé atrás. A primeira salta à vista de todos. A insistência em AA, pior ainda a sua volta dos balneários na segunda parte. Hoje em dia com 5 substituições não se pode falar em “queimar” uma substituição. Depois nas alterações, lembrou-me o JJ. Ironicamente com 10 o Benfica parecia estar a jogar melhor que com 11 e no melhor período do jogo, onde tivemos a melhor oportunidade do jogo depois do 1-2 com, onde Zaidu cortou a bola que ia para a baliza, Veríssimo decide retirar do jogo os 3 jogadores que estavam melhores no jogo! Enfim, não percebi. Nenhum dos 3 que entraram acrescentaram algo ao jogo. Até mais no FdV. Feliz 2022 a todos!
Eu sou daqueles que acredita sempre mesmo a 7 pontos, e até acho que da maneira que o Benfica entrou na 2 parte e não fosse aquela falta de lucidez ou falta de sei lá o que do André Almeida o jogo ia ser bem interessante. Mas até nisso o Benfica está mal, para resumir, o Benfica tem 4 laterais direitos e 1 defesa esquerdo, a este nível uma equipa como o Benfica não contrata sequer um jogador para suplente do Grimaldo ? quem é que gere isto ? O presidente ? O diretor desportivo ? O treinador? " Ah e tal temos o Gil dias e o Lázaro para a posição" como se estivéssemos nos campeonatos distritais. É incrível .. ir buscar Lázaro para quê? Então não era ele a 2 opção para a esquerda ? Então metam lá o homem, Vai para lá o André Almeida e depois pagasse caro. Eu como Benfiquista sinto-me ridicularizado com estes resultados com os rivais, este Benfica faz-me lembrar aquele Sporting de que todos nos lembramos que a faltar 18 jogos já estava fora do título e se fazia ridicularizar pelos rivais nos confrontos diretos. Acho que é urgente uma limpeza de balneário, no sentido de haver 50 jogadores para cada posição e nem sequer haver espaço para os miúdos que já provaram que têm talento, precisamos de uma estratégia bem definida, de aproveitar os miúdos porque já percebemos acho eu que gastar milhões e milhões não é solução e o vizinho do lado está a mostrar isso mesmo. LFV fez muito coisa boa no Benfica e só temos que dar mérito aquilo que ele fez mas quando toma a decisão de despedir Lage e ir buscar JJ para ganhar as eleições foi claramente a pior coisa que aconteceu ao Benfica nestes últimos anos, incrível como uma "simples" decisão pode arrasar um clube. Fica aqui um desabafo de um Benfiquista. Continuação de um excelente trabalho António, gosto muito do seu trabalho, desejo-lhe um excelente ano 2022 com muito e bom futebol pelo meio. Cumprimentos