Falta competição à nossa Liga
Há almofadas confortáveis entre todos os seis primeiros da Liga e essa incapacidade para competir no limite pode estar na origem da nossa queda no ranking. Andamos todos a discutir as coisas erradas.
A vitória do SC Braga sobre o Benfica, na sexta-feira, conjugada com a derrota do Gil Vicente em Arouca, no sábado, e com o sucesso do Sporting sobre o FC Paços de Ferreira, ontem, veio dar à Liga Portuguesa um ar de tranquilidade e rotina para o qual só falta mesmo o FC Porto bater, logo à noite, o Santa Clara, no jogo que encerra a 28ª jornada. Se isso suceder, com seis jogos – e 18 pontos – por disputar, vamos entrar nesta reta final com o segundo a seis pontos do primeiro, o terceiro a nove pontos do segundo, o quarto a mais nove pontos do terceiro, o quinto a seis pontos do quarto e o sexto a sete pontos do quinto. Há outras Ligas na Europa com líderes mais destacados, mas nenhuma com tanto distanciamento entre todas as equipas que estão em condições de lutar pelas posições de topo. É mais um sinal de que andamos todos a discutir as coisas erradas no futebol português e que o fundamental mesmo é criar formas de incrementar a capacidade das nossas equipas para competir.
Claro que não está tudo decidido. Ainda temos pela frente jogos capazes de baralhar as coisas, a começar – e pegando apenas em confrontos diretos entre os primeiros – por um Sporting-Benfica pascal, para depois termos um SC Braga-FC Porto e um Benfica-FC Porto. Esses, pelo menos, competem, desde que sintam que têm algo em disputa - e não é evidente que isso ainda seja assim. Daqui até final, portanto, é possível que as coisas mudem, se não de posicionamentos, pelo menos no que toca às distâncias relativas. Porque a nossa é mesmo a única Liga nas de topo europeu que parece ter toda a gente a gerir vantagens e apenas à espera das férias. Em Inglaterra o título discute-se ainda entre o Manchester City e o Liverpool FC, separados por um ponto, com o confronto direto marcado para o Ettihad no próximo domingo. Em Itália está tudo ainda mais baralhado: o Milan (que só joga hoje, em casa com o Bolonha FC) está empatado no topo com o SSC Nápoles e a dupla soma mais três pontos que o Inter. Nos Países Baixos o Ajax tem mais quatro pontos do que o PSV, mas visita Eindhoven daqui a duas semanas, no que vai ser o jogo do título.
Espanha, França e Alemanha já parecem ter campeões anunciados, mas vão assistir a animadas lutas pelos lugares de Champions. Em Espanha, o Real Madrid tem mais 12 pontos que o Barça – que no entanto tem um jogo a menos – mas depois os catalães, o Atlético, o Sevilha FC e o Betis estão separados por quatro pontos apenas. Em França, o Paris Saint-Germain também tem uma almofada de conforto de 12 pontos sobre o Olympique Marselha, sendo que depois há cinco pontos apenas entre o OM, o Stade Rennes, o RC Estrasburgo e o OGC Nice. Na Alemanha, o Bayern aproveitou a derrota do Borussia Dortmund, neste fim-de-semana, para aumentar a vantagem sobre o segundo para nove pontos, mas depois, entre o terceiro, que é o Bayer Leverkusen, e o sexto, que é o TSG Hoffenheim, há apenas sete pontos. O que se passa em Portugal é, portanto, único.
Esta questão pode até ser vista como conjuntural, mas já extravasa em muito as tradicionais justificações em torno da existência de dois ou três clubes hegemónicos ou do fosso que se cava entre estes e os demais. E tem de ser analisado e atacado para evitar que se repita o que aconteceu neste início de época – a queda do FC Paços de Ferreira e do Santa Clara logo nas rondas preliminares da Liga Conferência –, porque no limite é a incapacidade destas equipas para continuarem a pontuar ao longo da temporada europeia que vai causar a queda da nossa Liga no ranking e a dificuldade que teremos para manter a segunda vaga direta na Liga dos Campeões. O que, no limite, significará uma redução importantíssima da injeção de capital que vem anualmente da UEFA para o futebol português.
Se olharmos para os últimos cinco anos, Portugal só tem quatro equipas acima da dezena de pontos somados para o ranking: o FC Porto (80 pontos), o Benfica (60), o Sporting (55,5) e o SC Braga (44). O quinto é o Vitória SC, com oito pontos. Se a diferença entre os quatro que mais têm contribuído é pequena, já a distância para o quinto é gigantesca – e é nisso que têm de se concentrar os esforços de quem pensa o futebol em Portugal. Achar que isto se resolve por si só com a centralização dos direitos televisivos e um maior equilíbrio na distribuição da receita é um pouco como acreditar que o Pai Natal sai do Polo Norte todos os anos num trenó puxado por renas voadoras em vez de dar um salto a uma loja de brinquedos para comprar os presentes que os miúdos lá de casa esperam. O que vai acontecer se a Liga Portuguesa não for mais proativa na busca de soluções é que o fosso reduzirá, sim, mas só porque os grandes deixarão de ter tantas condições para competir e passarão, também eles, a pontuar menos. A cada ano que passa, este debate, que é fulcral para os próximos anos no futebol nacional, fica mais atrasado. Infelizmente, no entanto, os nossos clubes continuam entretidos com tudo menos com aquilo que interessa – e nisso, como poderão aperceber-se pelos comentários que este texto vai provocar nas redes sociais, arrastam os adeptos, transformados em cães de Pavlov que falam de corrupção quando ouvem a palavra “futebol”.
Depois admirem-se.
Concordo completamente, enquanto as nossas equipas sem ser os 4 primeiros não começarem a disputar competições na Europa vai ser difícil, nós vemos um campeonato como o dos Países-Baixos e têm AZ, Feyenoord, Vitesse na Conference League. É isto que falta ao nosso campeonato, e esta nova competição até pode vir a ajudar os nossos pequenos como o Vitória e o Gil que para mim têm boas equipas e qualidade para jogar na Conference league. Será crucial ter o Gil e o Vitória na Conference league, pelo menos 1 dos 2 para ajudar no ranking do próximo ano.
No início de cada campeonato, aí até à décima jornada, é normal os teóricos profetizarem um campeonato bastante renhido, com grande qualidade e muitas surpresas. nessa altura, ou os três são acompanhados por outsiders ou, então, algum deles está muito mal. É sempre assim. Como assim é perguntar a quem se intromete no jantar a três se é para lutar pelo título ou ir à Europa. Nunca pela preocupação de fugir à despromoção. Coisa em grande. Depois é que são elas. Equipas curtas, lesões, disciplina, etc. Sempre a mesma coisa. Apete dizer, "vira o disco e toca o mesmo...".