Bis do Benfica no meio de um motim
O Benfica foi o primeiro a ganhar dois campeonatos seguidos. Em 1931 impôs-se ao FC Porto na final de uma prova que a generalidade das equipas de Lisboa se recusou a jogar, em guerra com a Federação.
A época de 1930/31 ficou marcada por um longo conflito, que começou por opor a Associação de Futebol de Lisboa à sua congénere do Porto e que depois acabou por alargar os seus efeitos à Federação Portuguesa de Futebol, provocando um motim que afastou do Campeonato de Portugal a maioria dos clubes lisboetas. O Benfica, que tinha a incumbência de defender o título nacional conquistado em 1930, deliberou então em Assembleia Geral que compareceria à competição, acabando por vencê-la, com um retumbante 3-0 imposto na final ao FC Porto. Mesmo depois de um Campeonato de Lisboa muito abaixo das suas possibilidades, concluído em quinto lugar, a equipa encarnada tornava-se a primeira a sagrar-se campeã de Portugal duas vezes seguidas, fazendo-o muito graças à arte fisicamente inconsistente do avançado-centro Vítor Silva, à velocidade do extremo Dinis, à alma dos dois irmãos Oliveira e ao físico imponente do médio Aníbal José.
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A conquista deste segundo campeonato pelo Benfica nunca foi verdadeiramente aceite pelos adeptos de Sporting e Belenenses, que no início da época tinham mostrado, no Campeonato de Lisboa, ser as melhores equipas da cidade – e que, com sucesso dos leões, se defrontaram no final da época na decisão da competição fantasma que a associação da capital criou para ofuscar o Campeonato de Portugal. A vitória nacional dos encarnados, contudo, não podia ser diminuída, como se entende das palavras de Tavares da Silva, à data selecionador nacional, que teve de ir montando equipas para os desafios desta época sem os melhores jogadores dos clubes da capital. “Honra, portanto, ao glorioso Benfica. Nunca este adjetivo teve tanta razão de ser como agora. Honra, portanto, ao clube que soube, defendendo o título que ostentava, colocar bem alto a região mais categorizada do futebol português”, escreveu Tavares da Silva no Diário de Lisboa. Porque além de selecionador nacional era também jornalista daquele vespertino.