Belenenses num arraso de Lisboa
Em 1927, o campeonato cresceu: o novo regulamento permitiu o acesso a mais do que uma equipa por distrito. E, se Lisboa teve sete dos oito quarto-finalistas, quem se impôs foi o Belenenses.
Um ano depois de ter perdido com o Marítimo a final da discórdia, porque tinha sido agendada para o Porto, onde os lisboetas se sentiam mal acolhidos, e sobretudo porque não chegou ao fim, o Belenenses ganhou o Campeonato de Portugal de 1927, ano em que a competição foi marcada por uma série de novidades e em que falou mais alto o poderio do futebol lisboeta. Para corresponder ao entusiasmo cada vez maior que o Campeonato de Portugal ia causando um pouco por todo o país, entendeu a Federação Portuguesa de Futebol criar um novo regulamento, admitindo mais do que uma só equipa por distrito. E disso se aproveitaram os clubes de Lisboa – e dos arredores... – para exercer sobre a prova um amplo domínio. Na final, o Belenenses venceu por 3-0 o Vitória FC, que apesar de ser de Setúbal não só jogava o campeonato regional de Lisboa como até o tinha vencido meses antes, sem qualquer margem para discussões.
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Na final nacional, porém, impôs-se o maior poderio do Belenenses e ganhou corpo a aposta firme de Artur José Pereira, o ideólogo e fundador do clube, jogador bem como treinador de muitas tardes, em gente como o fabuloso “Pepe”, talvez a primeira super-estrela do futebol português. Pereira ficou na história por ser um extraordinário futebolista, que defendeu em campo as cores do Belenenses até 1922, mas sobretudo por ser um homem de ideias fixas e feitio difícil, e por a junção destas duas caraterísticas ter gerado o Belenenses. Nascido e criado na Rua do Embaixador, ali paredes meias com o Palácio de Belém, Artur José era um dos funcionários da Farmácia Franco, célebre local onde apareceu o Benfica. Jogou, por isso, no Sport Lisboa, à data o clube da rapaziada do bairro de Belém. Até que, da fusão com o GS Benfica, o Sport Lisboa se transformou em Sport Lisboa e Benfica. Aí, porque entendia que uma coisa era uma coisa e outra coisa era outra coisa, Artur deixou de sentir a camisola como dele. E em 1914, após uma suspensão decretada pela direção – lá estão as ideias fixas e o feitio difícil –, desertou e mudou-se para o Sporting.