Pleno do Sporting em ano de desastre
O Sporting ganhou tudo em 1934: Campeonato de Lisboa e Campeonato de Portugal. Mas os 9-0 que a seleção apanhou da Espanha em Madrid abriram uma crise que levou a repensar todo o futebol nacional.
O verde teria sido a cor da felicidade no futebol nacional em 1933/34, não tivessem também sido verdes as camisolas utilizadas pela seleção nacional na hecatombe de Madrid, em Março. Foram uns humilhantes 9-0 logo no primeiro jogo de qualificação para o Mundial de Itália, a beliscar o orgulho nacional, a conduzir a críticas imediatas, certeiras e mordazes, mas também a acelerar o processo de reformulação do edifício futebolístico nacional, com o arranque da Liga logo na época seguinte e os primeiros passos dados por Salazar no sentido da construção do Estádio Nacional. Mas na época que fica para a história como a do desastre de Chamartín, em Portugal mandou o Sporting, campeão de Lisboa no meio de mais uma enorme confusão, relacionada com a inscrição dos clubes do Barreiro na associação lisboeta, e mais tarde também campeão de Portugal, batendo sucessivamente o Belenenses e o Benfica, antes de se impor na final ao Barreirense, por 4-3.
Leia aqui sobre 1932/33:
O Sporting já tinha estado na final de 1933, na ocasião perdida para o Belenenses, por 3-1, mas mesmo assim fez uma pequena revolução na equipa, nela inserindo, por exemplo, um dos jogadores que viria a ser marcante no período até à eclosão dos Cinco Violinos. Manuel Soeiro, o avançado-centro que chegou do Luso, do Barreiro, e que esteve impedido de jogar durante boa parte da época, foi o autor dos quatro tentos leoninos na final do Campeonato de Portugal e a figura central de um ataque todo ele reformulado, precisamente a partir da interrupção da competição, em Março, para os dois jogos da seleção. Uma das regras mais contestadas no futebol em Portugal era a chamada “Lei do Ano”, que impedia os jogadores de jogar durante um ano se quisessem mudar de clube – e isso conduzira à indisponibilidade de vários elementos que teriam servido à seleção na estreia em Mundiais. Depois dos 9-0 de Madrid, o Sporting pôde por fim utilizar Manuel Soeiro, que por lá andava a treinar desde o início da temporada, mas estava autorizado a alinhar apenas em jogos particulares – como por lá andara também, por exemplo, Pedro Pireza, o interior que, farto de esperar, regressou antes disso ao Barreirense e acabou por jogar a final do Campeonato de Portugal do outro lado.