Custa fazer uma equipa
Messi já foi, Neymar continua fora, Mbappé não quer ir nem renovar e, assim, o PSG não quer que ele fique, pois para o negócio prefere garantir Kane ou Vlahovic. Luis Enrique só quer fazer uma equipa.
Neymar deu uma entrevista ao streamer brasileiro Cazé, na qual disse que espera continuar no Paris Saint-Germain. “Tenho contrato e ninguém me informou de nada. Mesmo que não haja muito amor entre adeptos e jogador, estarei lá”, afirmou o craque, que para já continua fiel ao que têm sido as suas épocas em Paris e se apresentou em Neuilly apenas para poder continuar a recuperar da lesão que o mantém longe da competição desde 19 de Fevereiro e que aparentemente ainda o afastará até Setembro. De acordo com as contas feitas pelo Transfermarkt, à conta de 28 problemas físicos diferentes, Neymar falhou 129 jogos do Paris Saint-Germain desde que lá chegou, há seis anos. São mais de 20 jogos por ano, 40 por cento de todos os desafios competitivos do clube nesse período. Isto pode explicar muito do desamor de que o craque se queixa, mas também ajuda a entender o problema enfrentado por Luis Enrique, o treinador que chega agora a Paris e que foi o único com quem Neymar andou próximo dos 50 jogos por ano na Europa. Foi em Barcelona, de 2014 a 2017. Sim, já foi há muito tempo, mas o facto não deixa de sublinhar aquilo com que o treinador espanhol não pode contar. Não pode contar com Messi, que saiu para Miami, mas embora tenha deixado de somar na coluna dos gastos regulares não trouxe receita de transferência – foi em fim de contrato. Não pode contar com Neymar, que tem primado sempre mais pela ausência do que pela presença. E em breve se verá até que ponto pode contar com Mbappé, a pouco mais de uma semana para o final do prazo dado pelo clube para que ele renove – coisa que o francês não quer – ou possa sair transferido – coisa que ele também já disse não pretender fazer. Uma coisa é o PSG não funcionar bem por excesso de estrelas, que teriam obrigado os treinadores anteriores a montar equipas desequilibradas, como acontecia quando tinha os três juntos na frente, mas outra, bem pior, é a equipa não funcionar por falta do pó estelar de que é feita a sua essência. A Europa está toda à espera do mesmo, que é de ver o que vai acontecer com Mbappé. Porque só quando esse dossier se encerrar – ou quando se perceber que ele ficará em aberto até o jogador sair mesmo a custo zero no final da época – é que se resolverão outros, a começar pelos de Kane ou Vlahovic. O inglês está entre PSG, Bayern e Manchester United, o sérvio entre Paris e Londres, mas em Paris, por exemplo, só poderão abalançar-se aos 130 ou 140 milhões que o Tottenham exige por um ou até aos 80 que a Juventus quer pelo outro sem rebentar as regras do fair-play financeiro se houver uma entrada de capital correspondente. E, no meio disto tudo, Luis Enrique só quer uma coisa: que o deixem fazer uma equipa. Não está fácil.
A eficácia das coisas simples. Ontem refleti aqui sobre a revolução tática que parece estar em curso no Sporting. À noite, contra o Al-Nassr, o Benfica confirmou a ideia que já tinha deixado na partida frente ao FC Basileia: continua a jogar absolutamente igual e as novidades que se veem têm muito mais que ver com nuances individuais, como o enorme aporte de qualidade de um Di Maria já muito integrado, as diferenças do que dá Neres à esquerda ou à direita, que deixou ao argentino, ou o que muda com Neves ou Florentino ao lado de Kokçu. Há dúvidas, claro, em torno da lateral esquerda – joga o dispendioso Jurasek ou o pouco aproveitado Ristic? – ou da melhor maneira de aproveitar Aursnes, para já fora dos onzes, mas há uma coisa que não muda, que é a organização e os princípios da equipa. Continuam a saída a quatro, os três homens de apoio ao ponta-de-lança metidos dentro, para facilitar a projeção dos laterais, a chegada alternada de um dos médios a zonas próximas da área ou a reação forte à perda, para a qual se canalizam todos os homens colocados na zona da bola, ainda que para já não impecavelmente articulados. Não há, no futebol, formas certas e erradas de fazer as coisas. Depende dos grupos. Pode haver inúmeras razões para se mudar, da perda de elementos fundamentais que não se conseguiu substituir devidamente no mercado à maior adaptação dos adversários e à sua crescente capacidade para contrariar uma receita que permaneça inalterada, mas há uma, clara, para não o fazer: a mecanização. Até pelo facto de Roger Schmidt ter repetido o que já fizera na pré-época passada, começando desde cedo a identificar um onze-base nos jogos de preparação, o Benfica começa já a mostrar uma identidade forte. A diferença para 2022/23 é que este ano tem mais alternativas e uma recusa firme da rotação pode cheirar muito mais a desperdício.
Um plantel para a Europa. Parece estar a trabalhar bem o mercado o Vitória SC, que ontem fez a apresentação do plantel aos adeptos. Perdeu Bamba, uma promessa na adaptação ao centro da defesa, mas contratou Tomás Ribeiro, que deixara boas impressões na B SAD antes de sair para a Suíça. Perdeu Anderson e Janvier, um avançado multifacetado e um médio de alta rotação, mas acrescentou as entradas de Butzke, ponta-de-lança mais físico, Nuno Santos, que andava pelos Estados Unidos depois de uma temporada muito goleadora a partir do meio-campo no FC Paços de Ferreira, e até João Mendes, sólido na temporada do GD Chaves. Perdeu Ogawa, que nunca foi capaz de ganhar a esquerda a Afonso Freitas, mas contratou Mangas, que alia a capacidade de sair pela ala à possibilidade de fechar dentro. Talvez ainda estejam por compensar as saídas de Lameiras e Johnston, mas a verdade é que nem um nem o outro foram assim tão importantes e possivelmente o plantel até tinha um excesso de opções para o trio da frente. Amaro, Villanueva, Maga, Händel e os Silvas – Tiago, Dani, Jota e André – permanecem, o que somado à possibilidade de Moreno poder continuar a implementar a sua ideia deixa o Vitória SC uns bons passos à frente do que fez em 2022/23. Há três eliminatórias entre esta equipa e aquilo que se lhe exige, que é pontuar na fase de grupos da Liga Conferência.