Bruma e os médios
É consensual que Bruma foi o destaque da vitória do SC Braga sobre o Backa Topola, na Liga dos Campeões. Mas a novidade foi o papel preponderante do novo meio-campo montado por Artur Jorge.
O futebol endiabrado de Bruma, sempre veloz e ágil a fugir pela esquerda do ataque, foi o que fez a diferença entre o SC Braga e o Backa Topola, segundo classificado do último campeonato da Sérvia, ontem batido na Pedreira por 3-0 (há comentário flash ao jogo aqui). O extremo fez o primeiro golo e esteve na origem de pelo menos mais uma grande jogada, em que sentou o seu opositor direto e ofereceu a bola de bandeja para uma finalização de Al Musrati que foi salva por um defesa adversário na linha de golo. Mas que Bruma é assim, veloz e escorregadio, que num dia bom dá cabo da paciência a qualquer opositor direto e que tem golo nas botas já se sabia. Não foi daí que chegou a maior novidade do jogo de ontem. O que me pareceu mais importante neste SC Braga de 2023/24 foi o papel dos médios alinhados por Artur Jorge. Al Musrati e Vítor Carvalho (ex-Gil Vicente) surgiam a par, num “duplo pivot” clássico, muito diferente do que a equipa apresentava quando jogava com o líbio e André Horta e até do que, em jogos de maior exigência, chegou a fazer com Racic. Este carrega mais bola do que Carvalho, mas não tem a mesma capacidade de jogar simples e a mesma agilidade para soltar a bola com intuito de desequilibrar. Por alguma razão, se Bruma fez o primeiro, os outros dois golos que deixam o SC Braga com pé e meio no playoff nasceram de recuperações altas dos dois médios. No 2-0 foi Vítor Carvalho que subiu para roubar a Djakovac uma bola que este recebera mal, logo ligando com Abel Ruiz, que isolou Pizzi. No 3-0 foi Al Musrati que intercetou uma saída de bola sem sentido do recém-entrado Antolic, entregando logo a Djaló, que aproveitou para marcar. Esta dupla de médios, de processos simples e mais facilitadores do funcionamento coletivo do que os implícitos na presença do possante Racic, mas ao mesmo tempo menos criativa do que poderia ser com Zalazar (que apareceu ali na ponta final) ou, sobretudo, André Horta (que entrou também no fim, mas para jogar atrás do ponta-de-lança), encaixa nas alterações feitas por Artur Jorge. O SC Braga apareceu com Bruma como revulsivo, mas ao mesmo tempo tinha Pizzi, Abel Ruiz e Ricardo Horta como jogadores associativos, capazes de dialogar com os dois de trás. A questão prende-se mais com o que vai acontecer contra equipas, já não digo que se fechem mais, que o Backa Topola apareceu a defender num 5x4x1 tendente a tirar o espaço nas entrelinhas, mas sobretudo que sejam mais seguras no início de construção. A ver, talvez, já na sexta-feira, contra o FC Famalicão.
O que está em jogo na Supertaça. A temporada de “elite”, chamemos-lhe assim, abre hoje com a Supertaça, e é grande a curiosidade para se perceber o que vão apresentar Benfica e FC Porto no arranque competitivo das suas épocas. Já fiz a antevisão tática do jogo na estreia do meu novo programa, o Futebol de Verdade Report, que vos convido a verem neste link, mas ainda vou deixar aqui a convicção de que tudo se decidirá a favor de quem ganhar a luta pelo meio-campo. No Benfica, amputado do potencial ofensivo de Grimaldo e da capacidade de pressão de Gonçalo Ramos, será fulcral o posicionamento de Aursnes: mais atrás, com Kokçu, para se soltarem os atacantes (Di María, Rafa e João Mário), ou mais à frente, com a entrada de um médio seguro como é Florentino, de forma a incrementar a inteligência na resposta à perda de bola em zonas mais altas do campo? No FC Porto, a aposta é na assimetria entre um lado esquerdo mais profundo, com Galeno, e um flanco direito mais desocupado, com projeção de Pepê em posse, permitindo o deslocamento de Otávio para o corredor central, onde terá a incumbência de assegurar superioridade numérica: ele, Eustáquio e Grujic contra dois médios encarnados. Uma coisa encaixa na outra. No campo se verá quem leva a melhor.
De Matheus a Gonçalo. Têm sido traçados paralelismos entre as transferências de Matheus Nunes, do Sporting para o Wolverhampton WFC, a 18 de Agosto de 2022, e de Gonçalo Ramos, do Benfica para o Paris Saint-Germain, a 7 de Agosto de 2023. A coincidência é extraordinária: ambas ocorreram dois dias antes de um jogo com o FC Porto. Como é evidente que os dragões não têm um pacto escondido com os clubes mais endinheirados da Europa para que estes venham depauperar os plantéis aos seus rivais, temos de encarar a coisa como coincidência e analisar os atos de gestão de ambas as transferências. As duas terão sido julgadas, ao mesmo tempo, necessárias para forrar os cofres das SADs vendedoras e inevitáveis face à vontade dos jogadores. As duas visaram jogadores muito importantes no equilíbrio de quem vende – e se assim não fosse provavelmente não motivariam o pagamento de verbas tão avultadas. As duas motivaram ações de substituição rápidas, no caso de Alexandropoulos um fracasso causado pela pressa – faltavam menos de duas semanas para o fecho do mercado –, no caso de Arthur Cabral se verá. A diferença acaba por ser o contexto exterior. Matheus Nunes saiu depois de jogar a segunda jornada da Liga, Gonçalo antes de começar a competir, porque este ano tudo terá início mais tarde em Portugal. E isto só vem chamar a atenção para a necessidade de se harmonizar períodos de competição com o fecho do mercado. Tarefa complicada...
O Neymar e o Variações. Cantava António Variações acerca de um “estado de ansiedade”, da incapacidade de compreender a sensação de que estava “sempre a perder”. O “Estou Além”, de 1983, aplica-se na quase perfeição a Neymar, 40 anos depois. Neymar estava bem no FC Barcelona, mas quis sair, porque estava lá Messi e ele – ou o seu staff – achava que na sombra do argentino nunca iria ganhar a Bola de Ouro. “Porque eu só quero quem não conheci”. Foi para Paris umas semanas antes de lá chegar um ainda jovem Mbappé e uns anos antes de lá ir ter Messi. Agora, que Mbappé está posto de parte por não querer renovar e que Messi já foi à vida dele, para Miami, Neymar quer ir embora, alegadamente porque ficou desencantado com a falta de “star potential” do novo balneário do PSG. Ramos? Quem é esse puto? Ugarte? De onde é que ele apareceu? “Vou continuar a procurar o meu mundo, o meu lugar”. Foi para jogadores como Neymar que o Mundo criou a Arábia Saudita. Ou o Qatar, pronto, se ele ainda estiver de boas relações com o emir que lhe tem pago o salário nos últimos sete anos.
Onde pode encaixar Pizzi neste Braga?
Este Braga estará mais forte do que na época passada?
Teremos definitivamente dois duelos no topo do nosso campeonato "Benfica-Porto e Sporting-Braga" com os minhotos neste momento na frente dos de Alvalade?
Obrigado