Amorim e a competência específica
A filosofia manda muitas vezes seguir outros caminhos, mais charmosos, mas há coisas que não mudam. Como ter os melhores finalizadores na frente e os melhores defensores atrás.
Há muitas formas de ganhar um jogo de futebol e outras tantas de o perder – e essa foi uma das lições que Rúben Amorim nos lembrou a todos com o apuramento do Sporting para os oitavos-de-final da Liga dos Campeões, deixando pelo caminho um Borussia Dortmund que, mesmo sem Haaland, ainda tem muita gente de qualidade. A lição de ontem, num Estádio José Alvalade a fervilhar de entusiasmo, recordou-nos uma coisa que deveria ser simples mas que muitas vezes os treinadores, os jornalistas e os adeptos complicam quando enveredam pelo purismo canónico do “bom jogo”: devemos ter sempre os melhores finalizadores perto da baliza adversária e os melhores defensores perto da nossa. Competência específica. O resto são estatísticas.
O sucesso do Sporting nesta fase de grupos, mesmo depois de um arranque catastrófico como o 1-5 contra o Ajax, explica-se muito com esse primeiro jogo, onde Amorim não teve Coates nem Pedro Gonçalves. O seu melhor defensor e o seu melhor finalizador. É verdade que nesse jogo se aplicou a Lei de Murphy – tudo o que podia correr mal correu pior ainda –, mas aquilo que foi mesmo importante foi que os leões perceberam que não podiam aplicar no momento defensivo o 5x2x3 espaçado que tanto resultado lhes dá a nível interno quando se trata de enfrentar a maior qualidade que se vê nas grandes equipas europeias. Isso explica tudo? Não. É preciso ter em conta que, excluindo os jogos com o Besiktas, um corpo estranho nesta competição – única equipa com zero pontos ao fim de 80 jogos –, nem o facto de ter passado a ser muito mais recatado nos posicionamentos valeu ao Sporting o domínio dos seus jogos. Só que, lá está, é aqui que entram Amorim e a frase com que comecei este texto: há muitas formas de ganhar um jogo de futebol. E Amorim conseguiu interiorizar essa noção, mandando alguns cânones àquele sítio onde não nasce o sol.
Ainda ontem, por exemplo, o Borussia foi melhor do que o Sporting em quase todos os índices estatísticos. Teve mais eficácia de passe, mais posse de bola, praticamente o dobro das ações na área adversária, cinco vezes mais cantos, encontrou sempre saída para a pressão leonina e espaço dentro do bloco adversário, mas não criou tantas situações de golo e, não tivessem os leões afrouxado no final, podia ter deixado Lisboa vergado a um 3-0 que seria muito mais estrondoso e nem por isso escandaloso. Porque, lá está: há coisas que são importantes mas não são a essência do jogo. Ter defesas fortes a sair a jogar é bom, porque facilita tudo aquilo que vem a seguir e permite um incremento de qualidade ao jogo da equipa. Mas o que é fundamental, mesmo, é ter defesas que imponham a sua presença em desarmes decisivos, como ontem fizeram Coates ou Inácio. Ou pelo menos ter defesas que não ofereçam golos ao adversário com maus cortes ou com domínios defeituosos, como ontem fez Schulz no lance do 1-0. Ter avançados fortes na pressão defensiva é bom, porque provoca dificuldades à saída de bola do adversário, lhe dificulta o processo ofensivo e pode até gerar contra-ataques perigosos, mas o que é fundamental, mesmo, é ter na frente gente que, na cara do golo, não falhe, como não falha Pedro Gonçalves, clínico na transformação em golo dos primeiros dois remates que fez à baliza de Kobel.
Tomislav Ivic disse-me uma vez, acerca de um avançado que tinha no FC Porto, que ele era “bom em tudo”, mas não era “muito bom” em nada – e que por isso não lhe servia de grande coisa. Rúben Amorim entendeu isso e aplica a ideia na perfeição. O apuramento do Sporting para os oitavos-de-final da Liga dos Campeões, obtido com justiça à custa de um Borussia Dortmund que, na Bundesliga, está apenas um ponto atrás do Bayern Munique, é fruto da enorme competência específica de alguns dos seus jogadores e do sucesso do treinador na busca de uma fórmula que fosse capaz de a aproveitar – e de mascarar os seus defeitos. Pedro Gonçalves era médio no FC Famalicão e ainda me lembro de, quando ele foi contratado pelo Sporting, discutir quem devia ir para o trio da frente, se ele ou João Mário. Foi ele, porque seria catastrófico afastá-lo da baliza, mesmo que depois ele não seja um ás do pressing ou se desligue de quando em vez. Coates vai fazer seis anos de Sporting em Janeiro e não só nunca tinha parecido um defesa-central de nível mundial como até tinha chegado a ser exposto a situações confrangedoras, mas é agora o garante de estabilidade defensiva de uma equipa que por vezes nem se importa de dar a bola ao adversário.
O mérito é dos dois, da sua grande competência específica. Mas é muito do treinador que não complica e percebeu o que verdadeiramente importa.
Estou muito contente pelo meu clube. Mas acima de tudo estou contente por ver que as equipas portuguesas conseguem(nem que de vez em quando só) fazer tremer grandes equipas da europa como o caso do Dortmund. Certamente alguns diram que eles jogaram sem 3 dos principais jogadores, mas mesmo assim tenho a certeza que o conjuto que jogou ontem tem de certeza um valor acima do plantel do sporting. No entanto, ontem vi raça de leão que há muitos anos que não via na europa. Espero que tenhamos sorte no sorteio e que as outras duas equipas portuguesas se qualifiquem tambem. Como aprendi com o maior fã de futebol que conheci até hoje, o meu avô, e que morreu sem me dizer qual era o clube do seu coração. E isto tudo porque acima das cores da camisola ele amava bola, e o mesmo nasceu ainda estava o futebol a dar os primeiros passos. Daí se calhar a paixão ao jogo e não de todo à camisola. Um exemplo que todos deveriamos seguir. Para finalizar, boa Sporting! E boa sorte Benfica, Porto e Braga.
O Sporting está qualificado, sim é parabéns para eles. Agora está graças a uma regra parva que é o confronto direto ser o primeiro critério. Mais uma vez tira a espectacularidade do jogo porque tira a possibilidade do borussia discutir o apuramento no último jogo. O Sporting tem +4 golos e o borussia -6. Uma derrota do Sporting em Amesterdão e uma goleada do borussia poderia ainda mudar algo, criando um incentivo para o último jogo.