A viagem de Amorim
Rúben Amorim foi a Londres ouvir o West Ham. Podia fazê-lo? Sim. Devia fazê-lo? Não. Como saem desta história o Sporting e o treinador, quando faltam seis pontos para ganhar a Liga?
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Rúben Amorim foi ontem a Londres, em jato privado fretado pelo West Ham, para ouvir da boca dos dirigentes do clube londrino a proposta que queriam apresentar-lhe para ocupar o lugar de David Moyes. Esta é a parte indiscutível da história que ontem à tarde foi tendência no Twitter, a partir de uma foto de “paparazzo” que apresentava o treinador do Sporting e o seu agente, Raúl Costa, prestes a entrarem para um avião, no aeródromo de Tires. O resto já são interpretações e controlo de danos feito pelas duas partes – o treinador e o Sporting, que os ingleses estão-se nas tintas e só têm de resolver o problema com o técnico escocês, a quem também chegaram a oferecer a renovação para depois se arrependerem. E, se calhar mais importante, são antecipações do que poderá suceder se o treinador leonino optar mesmo por seguir para Inglaterra.
Primeira parte da questão: Amorim tinha todo o direito de ir a Londres falar com o West Ham, mais ainda se, como foi depois posto a circular por fontes ligadas ao Sporting, o clube foi disso informado antecipadamente – e falta perceber que parte dessa informação não é já controlo de danos. Mas uma vez que a relação entre Amorim e, pelo menos, Hugo Viana, o diretor desportivo dos leões, é de forte amizade, vamos acreditar que sim, que o treinador informou o Sporting de que ia a Londres ouvir o que o West Ham tinha para lhe dizer. Podia fazê-lo? Sim, sem dúvida. “Tem contrato por mais dois anos”, alegam os que sentem um pico a traição no ato. Mas o contrato tem uma cláusula de rescisão (20 milhões de euros para o estrangeiro), o que de certa forma autoriza o treinador a falar com quem esteja eventualmente interessado em acioná-la. Não há aqui traição nenhuma – a existir ela está sancionada no próprio contrato. Não se pode esperar que alguém pague os 20 milhões sem falar primeiro com o objeto do seu desejo. Como não se deve esperar que o West Ham seja sensível aos interesses do Sporting e espere pelo final da época. Então eles é que vão pagar e ainda têm de esperar por quando dê jeito ao vendedor, prejudicando a planificação que querem fazer?
Bem diferente é a resposta se a pergunta for outra. Poder, já estabelecemos que podia, mas devia Amorim ter ido ontem a Londres ouvir o West Ham? Não. Pelo menos enquanto tiver à frente objetivos competitivos por atingir, como é o caso neste momento. E não é por nada a não ser pelo que o próprio disse há dias, porque ao fazer agora o contrário do que tinha dito que faria está a atingir a sua própria coerência. O Sporting está a seis pontos – cinco, para ser mais realista, porque tem 16 golos de avanço do Benfica – de ser campeão nacional e vai jogar a final da Taça de Portugal. As tarefas exigem foco total. E não quero com isto dizer que, por ir a Londres na folga, Amorim se tenha desfocado ou que esteja a dar um mau exemplo ao plantel. Da primeira parte só ele saberá, que o foco depende sempre de cada um. Em relação à segunda, é evidente que está... Porque ao deixar que a reunião fosse do conhecimento público – e era mais ou menos impossível evitar – Amorim não foi coerente com aquilo que ele próprio disse a 11 de Abril, quando a conversa era a propósito do interesse do Liverpool FC. E já se sabe que grande parte do poder de um líder sobre um grupo está na capacidade de fazer os comandados acreditar no que ele diz.
“Não vai haver entrevistas, não vai haver acordos”, garantiu há uma semana e meia Rúben Amorim, em conferência de imprensa na qual se disse focado na defesa dos interesses do Sporting e na conquista dos objetivos desportivos que faltavam para fechar a época. “O meu agente já sabe que não vale a pena ligar-me. Terá uma semana nas férias para me passar o que quiser passar-me”, tinha afirmado o mesmo Amorim, em Dezembro de 2021, a propósito de mercado e da sua intransigência para negociar com quem quer que fosse durante o período de competição. O que mudou? Mais uma vez, só Amorim poderá dizer, mas aparentemente o que mudou foi a noção que o próprio terá de ainda lhe ser possível fazer muito mais, no plano desportivo, no Sporting. Porque, apesar de tudo, uma coisa é conversar com o Liverpool FC, um dos cinco candidatos a ganhar a Premier League em cada época, uma das equipas que tem de ser levada a sério na discussão das competições europeias, que ainda recentemente conquistou a Champions, e outra, bem diferente, é conversar com o West Ham. Os londrinos, a julgar pelas notícias postas a circular, até pagam mais – e terão o português como primeira opção – mas, vamos ser realistas, não vão ser campeões da Premier League. Ali, entrar na Champions será uma proeza.
É muito em função desta constatação que no Sporting não se dá o treinador como perdido. É claro que haverá quem, movido pelo tal sentimento de traição, já nem queira ouvir falar dele, mas a questão é que quando se coloca uma cláusula de rescisão num contrato é preciso ter o poder de encaixe para admitir que ele pode, eventualmente, ser rescindido. Portanto, a opção à frente de Frederico Varandas, neste momento, é entre tentar convencer o treinador de que sim, ainda há coisas a conquistar em Alvalade. Sejam mais troféus nacionais, presenças mais meritórias nas competições internacionais, poder (mais ainda...) nas decisões estratégicas do futebol e dinheiro (mais ainda também). Não consigo pensar por Amorim, mas tenho muitas dúvidas de que o convite do West Ham possa ser, para ele – que já ganha pouco mais de 2,5 milhões de euros limpos por ano – um “life changer” definitivo. Se o treinador sair para os Hammers será certamente mais por não acreditar no que lhe oferecem em Alvalade no plano desportivo – efeitos secundários da “traição” cometida na venda de Matheus Nunes, por exemplo – e querer experimentar outra relação do que por ver nessa alternativa uma coisa irresistível. Daí que seja legítimo perguntar: terá a viagem a Londres sido uma forma de levar Varandas a chegar-se à frente?
De qualquer modo, o Sporting tem de estar preparado para a possibilidade de Amorim sair. Lá está: é o contrato que o prevê. E o desafio, aqui, é muito maior, porque a realidade anterior à chegada do treinador de Braga, em Março de 2020, foi hesitante, plena de erros e de uma sujeição ao mercado e aos seus agentes que os leões neste momento não têm de adotar. Mais de quatro anos depois, Varandas e Viana – presumindo que o diretor desportivo continua – têm a experiência do que foi mal feito, como toda a preparação da época de 2019/20, por exemplo, mas também do que foi bem feito depois, com ideias claras para o que se pretendia de cada operação. E, sobretudo, têm um clube estabilizado e em condições de se impor ao mercado e aos seus agentes em vez de a eles terem de se sujeitar. Se Amorim sair, haverá que escolher um treinador – e isso não será fácil, porque mais do que olhar para o currículo, é preciso avaliar o seu encaixe na ideia do clube e a sua capacidade para tomar as rédeas da planificação. Mas haverá sobretudo que entender que com os 20 milhões que a saída do treinador garantirá somados aos 60 da Champions – se for de facto campeão – e a uma venda única por valores próximos da cláusula, que implicará mais uns 60 milhões, no mínimo, estará realizado o orçamento do Sporting. E que, a partir daí, não haverá pressão que possa desviar o clube do caminho que tem vindo a seguir. Mais do que de Amorim, é dessa clareza que depende o futuro próximo do Sporting.
E assim arranca mais um drama, é só dramas e dramas, já para os lados de Contumil está tudo em paz , mesmo que a Alice tivesse aparecido para apoiar descaradamente um dos candidatos, aí já não se colocou deveria ou não, são as cores a falarem e já agora MARKETING MARKETING, vejam o vídeo de hoje.
https://youtu.be/55fjLpUwbTs?si=FAGu2IomA1nDCF0X
O Rúben pode ter ambição de ir para a PL sendo para o Liverpool, West Ham ou até para o Luton 😅 pode ver a oportunidade como uma porta de entrada. Não acho que por uma a uma “entrevista” perca o foco para o resto da época. Quantos de nós vamos a entrevistas e recebemos propostas de outras empresas sem perder o foco e a responsabilidade da nossa função atual ? E passar de 2,5M para imagino que mais que o dobro não é “life changer” mas é um salto gigante 😅